"Que lindo que é voltar a ter esta camisola nas minhas mãos". Bastou um olhar para as cores azul e branca para que a felicidade se estampasse no rosto. "Foi com esta que ganhámos tudo", disse, referindo-se ao modelo usado na inesquecível época de 2010/11. As recordações que lhe passam em seguida pela cabeça abrem-lhe o sorriso porque Mariano González ainda se sente parte do FC Porto. Esta camisola significa uma grande parte da sua vida, talvez a mais importante. Por isso, fala com entusiasmo e emoção da sua passagem pelo clube e sofre ainda mais agora à distância, como um adepto fanático, quando os resultados não saem. O antigo capitão do FC Porto recebeu O JOGO na Argentina de onde apoia os antigos companheiros e o treinador Vítor Pereira e abre as portas a uma segunda etapa no Dragão, já não como futebolista, mas numa qualquer função como dirigente. "O FC Porto foi o clube que mais me marcou na minha carreira na Europa. Identifiquei-me com o clube, ganhei títulos importantes e tive a honra de ser capitão da equipa, algo muito valioso para mim. Quando saí, o senhor Antero Henrique disse que tinha as portas abertas e não descarto um dia voltar", confessou Mariano.
Mantém contacto com as pessoas do FC Porto?
Sim, falo com a maioria, sobretudo com os argentinos, uruguaios, os colombianos... com o clã sul-americano. Incluindo o Falcao, que agora está em Madrid. Também com Hulk, com Raul Meireles. E com alguns dirigentes e pessoas que trabalham no clube, como o fisioterapeuta e o psicólogo.
Foi uma surpresa a eliminação na Liga dos Campeões?
Sim, surpreendeu-me pela qualidade do plantel. Estiveram muito perto do apuramento, mas faltou um golo no último jogo, nada mais. Foi uma pena porque a equipa fez os possíveis por vencer o Zenit. Paciência, a época é longa e é preciso seguir em frente com outros desafios.
Como imagina o sentimento dos adeptos depois dessa desilusão?
É difícil porque estão habituados a que o FC Porto cumpra os objectivos. De certeza que não estão contentes, mas devem ter paciência. Recordo-me que na época passada à medida que avançávamos, os adeptos iam ficando mais contentes. Ganhar a Liga Europa foi uma felicidade para todos e agora há que apontar outra vez a isso. Além disso, no campeonato o FC Porto também está muito bem. Criticar a equipa neste momento não faz sentido, ainda falta metade da época.
A Liga Europa ganhou candidatos de peso com a entrada das equipas de Manchester. Pelo menos foi o City a sair no sorteio e não o United...
De facto, o Manchester United é das equipas mais complicadas do mundo, mas é preciso lembrar que também ficou de fora da Champions. A concorrência é muito dura e o FC Porto tem de pensar em defender o título que alcançou na época passada. E tem um plantel capaz de o fazer.
Que opinião tem do trabalho de Vítor Pereira?
Ele era quem falava mais, a nível individual, com os jogadores na época passada. Também é um pessoa com grande carácter e personalidade, pensa sempre no grupo e no trabalho. Não sei como se adaptou às novas funções porque uma coisa é falar de um assunto com um jogador e outra é falar com 30. Mas vejo-o com condições para ser treinador principal.
Foi criticado muitas vezes. É complicado gerir a pressão de continuar a ganhar títulos?
Sim. É difícil manter o nível do ano passado porque foi bárbaro. Por vezes critica-se em demasia. O Vítor e os jogadores estão conscientes do trabalho que fazem e com isso vão atingir os objectivos.
Como vê a luta com o Benfica no campeonato?
Esta época está muito equilibrada e, no geral, a luta pelo título é palmo a palmo. O FC Porto marcou a diferença nos últimos anos, mas a luta é constante, a equipa não pode relaxar. As duas equipas têm grandes plantéis, mas ainda falta muito. A rivalidade é intensa. Recordo-me que a semana dos clássicos é sempre diferente, as pessoas faziam-te sentir isso nas ruas. Preparávamo-nos de forma distinta, todos queríamos jogar e ganhar. São jogos decisivos.
O Sporting renovou o plantel. Também está na luta?
Sim. É como o Braga na época passada. O Sporting renovou a equipa, contratou muitos jogadores e está a realizar uma boa campanha. Há que tê-lo em conta.
Que dizem os ex-companheiros sobre as expectativas para a temporada?
Estão bem, contentes e a trabalhar... Sabem que será difícil, foi um golpe duro ficar de fora da Liga dos Campeões e terão de se recompor o mais rápido possível. Os dias de férias servem para recarregar baterias. Mas a fé mantém-se e pensam em ganhar. Essa é a mentalidade a manter para conseguir todos os objectivos propostos. E eles têm-na.
"Tenho as portas abertas para voltar"
Assim, com paixão, é como Mariano González recorda o FC Porto. No balanço da sua passagem pela Invicta, encontra meses complicados, os primeiros, mas depois surge uma catarata de alegrias que o marcaram para sempre. Golos, voltas olímpicas, a braçadeira de capitão e a inesquecível despedida. "A reacção dos adeptos no meu último jogo foi linda, sobretudo depois do que tinha sido esse ano para mim, por causa da lesão e não estar inscrito para jogar até Janeiro. Os adeptos apoiaram-me sempre e reconheceram o meu trabalho. No dia em que regressei à competição, gritaram o meu nome e emocionei-me. Foi muito forte. Por isso, estou muito agradecido ao clube e aos adeptos", confessa o agora jogador do Estudiantes de la Plata.
Imaginava sair do FC Porto como um ídolo?
Foi algo incrível, sobretudo depois de tudo o que vivi aquando da chegada ao clube, porque os primeiros meses foram complicados. Não entrei bem na equipa. Depois, dei a volta e os adeptos apoiaram-me e também recebi a confiança das pessoas do clube e dos meus companheiros.
Que significa o FC Porto na sua carreira?
No FC Porto atingi o ponto mais alto a nível futebolístico porque o clube tem uma marca registada muito importante. Está ao mesmo nível de ter jogado pela selecção da Argentina e no Inter. É uma marca impossível de apagar da minha vida.
Que título traz melhores recordações?
Os dois primeiros no campeonato foram muito importantes, desde logo pelo facto de os primeiros tempos terem sido difíceis para mim. Participei em muitos jogos. Também destaco o que conseguimos a nível europeu, ainda que não tenha jogado a Liga Europa. Foi um conjunto de alegrias inesquecíveis.
Quando o Lucho saiu ofereceram-lhe a hipótese de voltar quando quisesse para jogar ou trabalhar no clube. Passou-se o mesmo consigo?
Sim, também. Quando saí, o Antero Henrique disse-me que a mesma proposta que fez ao Lucho era válida para mim. Isso não acontece a todos... É algo que te reconforta. Lucho, por exemplo, foi dos melhores jogadores que passaram pelo FC Porto, deu tudo por esta camisola. Destacava-se pela humildade que tinha e elevou alto a bandeira do clube. Daí a vontade de o FC Porto o ter sempre por lá. Colocarem-me a esse nível é impressionante.
E quais são as hipóteses de voltar?
Deixei muitas coisas lá. Tenho a minha casa, as minhas filhas (Morena, de dois anos, e Camila, de sete meses) nasceram lá e estou a pensar passar por lá nas férias. Tenho muitos amigos fora do clube também. O FC Porto marcou a minha vida futebolística e também quotidiana. Receberam-me e trataram-me bem.
"É difícil despegar-me ainda me sinto parte do grupo"
Mariano deixou o FC Porto em Maio, tendo assinado pelo Estudiantes, onde está a realizar a pré-temporada para preparar o Torneio Clausura da Argentina. Entretanto, passou mais de meio ano, mas o médio/extremo não consegue desligar-se do que se passa em Portugal. "Ainda me sinto parte do grupo. É difícil despegar-me porque passei muito tempo lá. Até ao último momento hesitei se me ia ou se ficava. Era muito complicado deixar tudo. Tenho saudades do Porto. Cada vez que falo com alguém de lá vêm-me à memória todas as recordações. Estou sempre atento ao que se passa no clube e vivo como mais um adepto: fico chateado ou feliz consoante os resultados", frisou.
"Jesualdo era um mestre, Villas-Boas marcou a história"
Que aprendeu com Jesualdo Ferreira e Villas-Boas?
Com Jesualdo muitíssimo, era um mestre. Não foi por acaso que nos anos em que esteve no clube se venderam tantos jogadores a preços impressionantes. Ele sabia melhorá-los. Tacticamente aprendi muito porque utilizou-me em várias posições e isso serviu para crescer. O trato pessoal também foi espectacular, foi ele que me elegeu capitão. Com o André tive outro tipo de relação, conheci-o um pouco mais. Justamente por ser capitão falámos muito, também sobre temas extrafutebol. Tem condições incríveis, trabalhou muito bem e conseguiu coisas difíceis de igualar. Não me surpreende que esteja no Chelsea. Marcou a história com uma equipa que jogava muito bem e que tinha capacidade para enfrentar qualquer adversário.
No início havia muita desconfiança por ver um treinador tão jovem...
Ele sempre demonstrou carácter e confiança no seu trabalho. No início, recebeu algumas críticas, mas manteve-se firme na sua posição e convenceu-nos de qual era o caminho certo. Deu resultado. Na primeira partida, ganhámos ao Benfica por 2-0 e a equipa teve uma actuação impressionante. Serviu como trampolim para o resto da época.
in "ojogo.py"