Pinto da Costa contratou um treinador de 40 anos que conseguiu um dos maiores feitos da história do futebol português médio ao deixar o Paços de Ferreira na Liga dos Campeões. E mais uma vez se grita a palavra risco. Talvez seja altura de encararmos a questão de outros pontos de vista.
Muito experiente, o presidente do F.C. Porto confiou em treze treinadores portugueses para começar mais de metade das temporadas que leva no clube. Desses, apenas três tinham mais de 45 anos quando entraram pela primeira vez no balneário azul-e-branco. José Maria Pedroto regressou com Pinto da Costa aos 54 anos. Octávio Machado dirigiu a equipa principal do F.C. Porto aos 52 e Jesualdo Ferreira chegou ao Dragão aos 60 anos. E acabou por ficar quatro temporadas.
Todos os outros tinham menos de 45 anos. Alguns menos de 40. Artur Jorge estava nos 38 quando Pinto da Costa lhe ofereceu o banco. Depois vieram Quinito (40), Inácio (40, começou uma época quando Robson estava doente), António Oliveira (44), Fernando Santos (44), José Mourinho (39), José Couceiro (42), André Villas-Boas (33) e Vítor Pereira (43). Paulo Fonseca tem 40 anos.
A experiência de cada um daqueles treinadores era diferente. Alguns tinham sido bons jogadores, outros nem perto. Uns tinham sido adjuntos, outros começaram cedo a desempenhar a função de treinador principal. Outros até tinham passado por diferentes funções. Olhado assim, do ponto de vista da história, Paulo Fonseca não parece uma aposta especialmente arriscada. Pelo menos não mais arriscada do que pareceu Vítor Pereira há dois anos, na altura apenas o discreto adjunto de Villas-Boas, o mais novo de todos os treinadores algum dia escolhidos por Pinto da Costa. E, já agora, a mais arriscada aposta.
Esta segunda-feira, quando se apresentou no Chelsea, Mourinho lembrou que há treze anos, no Benfica, achava que sabia tudo. E agora percebe que afinal não sabia nada. Tem razão, por norma o tempo melhora-nos, a experiência ajuda-nos. Mas por outro lado também perdemos algumas características.
Uma vez que não acredito em coincidências, creio que Pinto da Costa está convencido de que a ambição é um traço central num treinador. Por isso os procura jovens. Estará também convencido de que escolher português é ganhar tempo, é contratar conhecimento da realidade local, de jogadores e de maneiras de montar equipas. O F.C. Porto é um clube que privilegia treinadores que conheçam a identidade do clube. Se pensarmos, os últimos três já tinham estado por lá. Villas-Boas, Vítor Pereira e agora Paulo Fonseca, fugaz jogador azul-e-branco nos anos 90.
Pode ser que Paulo Fonseca tenha sucesso, pode ser que falhe. Uma coisa parece evidente: a escolha do antigo treinador do Paços de Ferreira é coerente com o que têm sido as opções do F.C. Porto de Pinto da Costa.
Para Paulo Fonseca este é obviamente o melhor dia da sua carreira futebolística. Em Paços de Ferreira demonstrou capacidade para montar uma equipa e gerir um plantel. Isso ninguém lhe nega. Precisará agora de colocar a equipa a jogar o bom futebol que os adeptos do F.C. Porto exigem, demonstrar competência na Liga dos Campeões e capacidade de luta nos duelos mediáticos com Jorge Jesus.
Todos temos tendência a achar que treinar um grande é diferente. Mas talvez seja tempo de abandonar esse discurso, o discurso do risco. Afinal, nos últimos anos a norma é ver ganhar treinadores portugueses com pouca ou nenhuma (mais nenhuma do que pouca) experiência no lugar principal do banco de um clube grande. Recorde comigo a lista: Vítor Pereira, Villas-Boas, Jesualdo Ferreira (uns meses no Benfica), José Mourinho (uns meses no Benfica), Jaime Pacheco, Augusto Inácio (uns meses no F.C. Porto, devido à doença de Robson).
Luis Sobral in "maisfutebol.iol.pt"