segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Eurico. "Pinto da Costa estava sempre presente nas horas más"

Foi campeão no Benfica e no FC Porto (e no Sporting). Um defesa ao ataque


É o único jogador campeão português pelos três grandes (até repetiu o título em todos), mas, por incrível que pareça, tem outros motivos para se orgulhar. Afinal, trata-se de um homem que triunfou por conta própria e escalou uma infinidade de degraus até chegar ao topo. Vindo de Trás-os-Montes, chegou a Lisboa aos 13 anos com ideias fixas: ser jogador de futebol no Benfica. Isso, porém, não foi possível, pois a oferta do Benfica (500 escudos) era inferior ao seu ordenado como aprendiz de uma oficina de automóveis na Póvoa de Santo Adrião (2500). Arranjaram-se alternativas, como o Várzea e o Odivelas, mas o Benfica voltou à carga no ano seguinte, com quatro contos. Começou nos juvenis e entrou para os seniores em 1975, com a espinhosa missão de substituir Humberto Coelho, o grande capitão que saíra para o Paris SG. Com garra e habilidade, Eurico superou os primeiros tempos de desconfiança e, quando Humberto regressou, em 1977, já era titular indiscutível, com voz activa na equipa.

O espaço era seu e só deixou de o ser em 1979, após ruptura com a direcção. Transitou para o Sporting, onde foi campeão logo no ano seguinte, e bicampeão em 1982. Depois... bom, depois, completou o ciclo e foi fundamental no mágico FC Porto de Artur Jorge, antes de se lesionar gravemente em Agosto de 1985, após partir a perna num lance com Nunes (Benfica), na primeira jornada do campeonato nacional. Foi o seu 22.º e último clássico da carreira.

Lembra-se?

Lembro-me. Ganhámos 2-0 com golos de Juary e Gomes. No golo do Juary (4'), ainda participei nos festejos. No outro (79') já não.

Então?

Lesionei-me aos 17 minutos e foi o meu último jogo pelo FC Porto. Depois só regressaria em Setembro de 1987, pelo V. Setúbal.

Mas o que aconteceu?

O Nunes entrou de pé em riste. Quando alguém entra de maneira agressiva, nunca pensa que vai aleijar. Mas os riscos são sempre maiores. Eu afastei de carrinho e ele mete a bota por cima. Bastava que ele se encolhesse. Foi um lance evitável. Nunca fiz isso a ninguém. Nunca ataquei o adversário de pé em riste. E acredito sinceramente que não era para partir mas se estás a conduzir na estrada de olhos fechados, arriscas-te a ter problemas.

E a reacção do Nunes?

Além de nunca ter feito um telefonema que fosse, ainda fez umas declarações públicas desagradáveis, qualquer coisa como ''não tenho culpa que ele seja fraco''. Enfim, a gente do futebol sabe que o Nunes não fazia faltas ao preço do combate físico. Era ao preço da maldade. Que ele tenha saúde na vida. E eu também. Mas não há nada a fazer.

Tem mágoa?

Há mágoa, mas não me vejo perseguido por ela. Uma vez, na Luz, num lance acidental junto à linha lateral, o Marco Aurélio despacha uma bola, o Toni encolhe-se e chocam. O Marco Aurélio partiu a perna...

Então mas esse não é o jogo em que Toni começa a chorar e pede para sair, emocionado por ter participado nesse lance?

É só para tu veres o contraste.

O Eurico lesionou-se em 1985 e só voltou em 1987. Porquê tanto tempo?

O médico disse-me: "Vou fazer-te uma operação que é uma novidade. A capacidade de recuperação é metade do habitual." E deram-me oito meses. Passado esse tempo, recebo a notícia de que tenho mais oito/dez meses de lesão. Assustei-me. Marquei o melhor hospital ortopédico de Londres e procurei alguém neutro. E esse médico disse-me que a minha tíbia só conseguia suportar as cargas que a alta competição exige entre 10/12 meses. Vim de Londres desiludido. Então, por interferência de alguém próximo de mim, dirijo-me ao padre Miguel. Perguntam--me se acredito em santos e eu digo que sim. Visitei o padre Miguel e passei uma tarde com ele. Só um parêntesis: Conheces o João Gabriel? Agora director de comunicação do Benfica? Antes, ele era jornalista, e da SIC. Uma vez, fez um trabalho sobre o padre Miguel. Pronto, o padre Miguel viu-me e... ao fim de um mês e meio, estava pronto para treinar. Fiz uma radiografia e mostrei-a ao médico que me operou.

E ele?

Caiu na cadeira, redondo. Deu-me alta numa sexta-feira. E marquei um jantar no sábado, na casa de uns amigos, perto do Porto, para celebrar o meu regresso aos treinos na segunda-feira seguinte. Nessa altura, eu tinha uma empresa chamada Eurima Vinhos. De Eurico e Manuel. O meu amigo Manuel ficava em Espinho e eu como morava em Gaia levei a casa uma das nossas empregadas, que era promotora e nessa noite tinha estado em Oliveira de Azeméis. Perto da Boavista, tenho um acidente de viação. O piso estava com a chamada cacimba, era 1h45. Como saí do hospital às 4h30, assumiram essa como a hora a que eu tinha tido o acidente. No dia seguinte, já diziam que havia mulheres no carro, às tantas da noite.

Mas o que lhe aconteceu?

Bati com o queixo no volante e desmaiei. Tiraram-me para fora com o carro a arder. A senhora que ia ao meu lado partiu a perna no mesmo sítio onde eu parti no lance com o Nunes. Eu fui ao Hospital Santo António e fiz uma radiografia ao pé. Acredita que eu fiz tanta força no travão que consegui vergá-lo? E aquilo era um Mercedes 360, automático. Fiz uma fissura no osso escafóide mas isso não se viu nas radiografias. Oito dias depois, lá apareci nos treinos do FC Porto. Com a dor no pé, coxeava um pouco a correr. Dizia que tinha dores mas ninguém ligou muito. Só ao oitavo dia é que dei um murro na mesa e disse que queria que me fizessem uma outra radiografia. Ao 12.º dia já todos tinham percebido que se me têm detectado a fissura, ter-me-iam imobilizado o pé e não passava por isso.

Eu ia dizer já chega! Mas há uma outra história a respeito da sua lesão com o Nunes. Um escorpião nas suas calças de fato de treino...

É verdade. O FC Porto foi ao Canadá fazer dois jogos de fim de época em 1985. No primeiro jogo, fissurei o dedo mindinho do pé. Como percebi que fisicamente não ia dar para fazer o segundo jogo, pedi aos dirigentes do FC Porto para me deixarem ir ao Porto ter umas férias em família, até porque 20 dias depois teria de regressar ao Canadá, onde iria participar na equipa do Resto do Mundo, convocado pelo Eriksson, contra o Canadá. O FC Porto deixou-me e entreguei as minhas calças de fato de treino ao roupeiro. A coisa passou-se. Fui ao Canadá e fiz o tal jogo do Resto do Mundo. No começo da época seguinte, fomos à Corunha, de autocarro, para o Torneio Teresa Herrera, e entregaram-me o meu fato de treino. Qual não é o meu espanto quando detecto um escorpião enrolado numa folha de papel com uma oração de plástico transparente, enrolada num fio vermelho. Pensei, ''caraças, mas o que é isto?'', mas não disse nada. Nesse Teresa Herrera, perdemos a final com o Atlético Madrid com um penálti roubado pelo árbitro, feito por mim. Em toda a carreira, se eu fiz dois penáltis, foi muito... Barafustei com o árbitro e fui expulso. Dias depois, na primeira jornada do campeonato, com o Benfica, vamos para estágio na Batalha e entrego o escorpião ao roupeiro. Pergunto-lhe o que era aquilo e ele diz que nada sabe. Bem, fui a jogo. Aos 17 minutos, saio lesionado! Tenho duas conclusões: ou alguém vestiu as minhas calças de fato de treino no Canadá ou alguém meteu aquilo de propósito nas calças. Na área da parapsicologia, aquilo foi intencional. Mas não era para mim, era para alguém. Fui eu o atingido e fui eu a vítima. Se calhar, era amuleto de defesa de alguém, mas para mim foi um amuleto com alguma maldade.

A verdade é que foi bicampeão nacional nos três grandes e isso é história.

No final do século passado, o jornal "Record" fez um livro dos 100 melhores jogadores portugueses e eu estou lá. Levei aquele calhamaço ao Bobby Robson para ele assinar. Ele ainda treinava o FC Porto. Quando ele viu o que eu tinha ganho, disse-me: ''Tu é que devias assinar isto para mim. Tu, em Inglaterra, tinhas emprego para toda a vida e até uma estátua''.

E nos três grandes, outra curiosidade: sempre 89 jogos para o campeonato!

Noutro dia, num programa da RTPN, puxaram os meus dados e foi a primeira vez que percebi isso. É sinal de regularidade. De boa vida. De cumprimento profissional exemplar. E de uma mentalidade muito honesta.

Isso no Porto vale ouro. Conhecem-se histórias de detectives, sobretudo com o Futre...

O futebol é adrenalina. Um frade nunca seria jogador de futebol e um futebolista não tinha capacidade para ser frade. Sempre cumpri horários. Sempre. Agora quando me lesionei em 1985, o Octávio [Machado] andava a controlar-me para outros efeitos, que não a capacidade de trabalho. Observava-me com o intuito de me prejudicar. Quando temos fracturas ósseas é o tempo que as cura, não os tratamentos. Os médicos diziam--me para aproveitar e gozar a vida. "Não treinas mas também não precisas de ficar em casa." Assim fiz. Depois comecei a ouvir as pessoas a dizer que tinha chegado a casa às 2 ou 3 da manhã. Certo, certíssimo, mas no dia seguinte eu não ia treinar... O Futre? O Futre talvez desse trabalho aos detectives [risos].

E aos adversários também.

Claro, um fenómeno. Eu conhecia-o dos meus tempos no Sporting, porque ele era júnior e, às vezes, treinava connosco. Quando cá em cima [Porto] me perguntaram por ele, disse-lhes que era um valor seguro. Em 1984, o Sporting equacionava emprestá-lo à Académica. E o FC Porto, através de um empresário galego, foi a Lisboa e trouxe-o para o Porto. Espécie de rapto. Consentido, claro. Na quarta-feira, toda a equipa do FC Porto foi para estágio, para manter o Futre ao nosso lado e para ele assinar o contrato.

Ora aí está uma situação que o Eurico conhece bem. Saltou do Benfica para o Sporting e do Sporting para o FC Porto.

E as duas situações foram parecidas. No final dos anos 70, havia o livre direito de opção no final do contrato. Só não podíamos sair para o estrangeiro. Nantes e St. Etienne interessaram-se por mim mas o Benfica não me deixou sair. Até porque o Humberto já tinha ido para o PSG. Ok, muito bem. Então, quando os meus três anos de contrato estavam quase no fim, pedi um aumento de 15 contos por mês para renovar. Um dirigente [Romão Martins] disse-me que não, que era um jogador da casa e não acreditou na minha saída. Já tinha sido assim com o Artur - o Ruço - e o Jordão. Tive a dignidade de deixar acabar o meu contrato com o Benfica a 31 de Julho. No dia 1 de Agosto, assinei pelo Sporting.

E não houve problemas por causa disso? Pessoas na rua ou em restaurantes a incomodá-lo?

Nãããã, nada disso. Muita gente até me deu os parabéns pela frontalidade de lutar pelo meu aumento. Bastava o Benfica organizar um particular e, pronto, garantia o meu aumento de ordenado. Mas não.

E do Sporting para o FC Porto?

Foi parecido. Assinei por três anos, fui bicampeão nacional, ganhei uma Taça e uma Supertaça de Portugal. Quando chegou a hora de renovar, pedi ao João Rocha um aumento. Ele negou. Então propus-lhe ganhar o mesmo mas jogando apenas seis meses no Sporting. Nos outros quatro, ia para a América. Até já tinha equipa, os Toronto Blizzard. Naquela altura, era moda meia época em Portugal e outra meia nos EUA. O Artur, o Ruço, fazia isso. E o Eusébio também já fizera. O João Rocha disse-me que não. Outra vez. E até pediu ao treinador [Malcolm Allison] para não me pôr a jogar na final da Taça de Portugal, com o Braga [4-0]. Se é assim... Esperei que o contrato acabasse e já estava com a cabeça nos EUA, quando o Pedroto me liga. A pedir-me para ir ao Porto. No dia seguinte, já estava lá, a assinar o contrato.

Já é uma tradição portista...

Sim, o FC Porto tem feeling para negócios. Entre uma jarra de prata e outra de casquilha, eles percebem imediatamente qual é a de prata, enquanto os outros ainda estão a ver de que é feito o produto.

Então, o Eurico acompanhou o início da era Pinto da Costa.

Já aí carismático. Raramente estava connosco nas horas boas, mas estava sempre nas horas más. Havia ele e o Pedroto. Grande dupla. Uma vez, logo no meu início nas Antas, o Pedroto apresenta os prémios de jogos aos jogadores e eu digo-lhe que o Sporting e o Benfica pagavam muito melhor, sobretudo o Sporting, que pagava prémios mais valiosos que o ordenado. O Benfica já não era assim, embora os prémios fossem mais altos ainda que aqueles do FC Porto. O Pedroto fica a olhar para mim e pede-me para lhe dizer quanto é que o Sporting pagava.

E quanto era?

Já não me lembro. Naquele tempo, sim, lembrava-me. No dia seguinte, lá apareci com os valores do Sporting. Dei a folha ao Pedroto, ele reencaminhou-a ao Pinto da Costa e este dobrou os prémios do Sporting num abrir e piscar de olhos. E pronto!

...

Aquilo é uma máquina, o FC Porto! Eles também perceberam um truque do Benfica nos anos 60 e 70.

Então?

No final de cada época, o Benfica fazia as contas aos jogadores que lhes tinham roubado pontos e contratava-os. Na época seguinte, o Atlético, a CUF, o Barreirense e outros já não tinham esse ás, bem guardado pelo Benfica, que tinha um plantel de 35/40 jogadores. Os bons ficavam lá, o excedente ia rodando nos outros clubes, de confiança. E o que é que faz o FC Porto agora?

Isso é o FC Porto de Pinto da Costa.

Sim, exacto, o homem a quem eu lhe dei a minha camisola quando regressei aos relvados.

E o FC Porto de Pedroto?

Só lhe conto uma história. Lesionei-me duas vezes pelo FC Porto. Aquela de que já falámos e uma outra, em Portimão. O Rui Águas tinha uma maneira peculiar de saltar, de braços abertos. A saltar, o cotovelo dele acertou-me na cara. Partiu-me malares e maxilares. Tive de usar aparelho. Na véspera da segunda mão da meia-final da Taça das Taças, com o Aberdeen, lá na Escócia, depois de termos ganho 1-0 nas Antas, o Pedroto, numa fase inicial da convalescença, chama-me a casa e diz-me ''tens de jogar''. Eu respondo-lhe ''mas mister...'' Ele interrompe: ''Não quero que vás jogar. Só quero que estejas presente.'' E eu: ''Se você quer, dou o meu melhor.'' E joguei essa meia-final, famosa pelo golo do Vermelhinho [1-0]. E também joguei a final [perdida para a Juventus] Sempre com o aparelho nos dentes. Nem imaginas quantas vezes tiveram de me levar a papinha à boca!

Dos três grandes, onde preferiu ser campeão nacional?

No Sporting. Tem força clubística. É uma pena que agora já não seja assim. É aquele clube em que os sócios não deixam de ter um sentimento genuíno, muito próprio. E é o que tem ganho menos. Há qualquer coisa ali que devia ser estudado. Tanta grandeza, tanta força e tanta fidelidade. Falta gente com discurso e sangue à Sporting. Ao longo das décadas, o Sporting vai-se afastando dos grandes. É um clube de investimentos. Na minha altura, era um clube de vitórias. O que ainda sobrevive é a paixão dos adeptos pelo Sporting.

Depois dos três grandes, acabou a carreira em Setúbal, com duas épocas (1987-89). Ao lado de Meszaros, Jordão e Manuel Fernandes, seus companheiros no Sporting.

É verdade. Grandes amigos, grandes jogadores.

Há um golo do Jordão que circula aí como um dos mais espectaculares de sempre...

Sabes que estava a marcá-lo nesse dia [30 de Janeiro de 1983]? Eu. Antes de mais, adoro o Jordão. É um ser humano muito, muito, muito sui generis. É coerente e inteligente. Um dos meus melhores amigos do futebol. Cinco ou seis anos antes de acabar a carreira, já estava saturado do futebol. E era um predestinado. E um predestinado nunca se chateia do que gosta, mas o problema é este mundo do futebol. As pessoas e tudo aquilo que anda à volta dele. O que é que ele fez? Abandonou a carreira e orientou a sua vida pelas artes plásticas. É um homem realizado sob o ponto de vista mental.

E o golo?

Às vezes, ainda discuto com ele sobre se ele fez de propósito ou não. É uma bola cruzada, tipo centro-remate e ele antecipa-se ao defesa, que sou eu. Na antecipação, eu espero que ele controle a bola. Em vez disso, ele mete a parte lateral da bota, calcanhar, e atira à baliza do Amaral, que não tinha a mínima hipótese. Foi no topo sul do antigo Alvalade. Um golo de antologia. De museu. Esse jogo acabou 3-3 e ele marcou os três golos. Mas isso não é tudo. Havia gestos técnicos, dribles e golos nos treinos que nos faziam ficar a olhar para ele. Eu fui um privilegiado por trabalhar com ele. De verde e branco [Sporting e V. Setúbal]. E também de encarnado [Benfica e selecção nacional, no Euro-84].

in "ionline.pt"

Ridicularizar superpolícia e assaltar a esquadra


Uma mão-cheia de golos não é contagem habitual no futebol, muito menos quando se defrontam candidatos ao título. Mas quando o número se ajusta ao que se passou em campo, há uma história especial para contar. E esta não é a história em que a noite mágica de uma equipa se encontra com a noite trágica da outra. Engana-se quem assim pensar. Reduzir o que se passou no Dragão a acreditar que correu tudo muito bem de um lado e muito mal do outro é fugir da realidade. O FC Porto começou a ganhar este jogo ao Benfica no dia em que ambos ultimaram os respectivos grupos de trabalho para a época. Os portistas foram superiores ontem, como o tinham sido em Aveiro na Supertaça e como é expectável que aconteça pela época fora, a menos que na Luz sejam feitos acertos fundamentais em Janeiro.

Jorge Jesus é um treinador experimentado e realista, teve medo, daí as alterações que introduziu na equipa. Saiu-lhe tudo ao contrário, as apostas foram erradas e desajustadas, mas quem mexe numa equipa que esteve a pontos de esmagar o Lyon é porque sabe que o espera uma missão complicada. O FC Porto voltou a provar que está mais forte colectivamente e tem soluções de desequilíbrio verdadeiramente incríveis. Hulk está transformado num fenómeno - passa, corre, finta, assiste, remata -, e o jogo provou que a presença dele em campo justifica plenamente as dúvidas e os receios que assaltaram Jesus e o levaram a modificar a equipa. Quis transformar David Luiz em superpolícia, fez dele defesa esquerdo e, com tal decisão, acabou por lhe fazer um mal ainda maior do que aquele a que o sujeitaram Hulk e Belluschi. Com o defesa na jogada, Hulk inventou o lance do primeiro golo e assinou o remate do quinto. Como também foi por ele que passou Belluschi antes de assistir Falcao para o 2-0, percebe-se como correu mal a vida àquele que tinha sido previamente escolhido como herói.

O FC Porto entrou a jogar o seu futebol sereno e seguro, com uma organização defensiva irrepreensível e um elevado naipe de soluções ofensivas, pois o ataque está longe de se reduzir à inspiração de Hulk. Aproveita, isso sim, e cada vez mais e melhor, as qualidades ímpares do brasileiro, embora seja capaz de atacar e fazer golos sem ele. É que mesmo quando não está a cavalgar sobre a defesa adversária o FC Porto sabe ter a bola, é capaz de a fazer circular até que o buraco se abra, assim como no lance seguinte ensaia um contra-ataque com um passe de 30 metros que desconcerta o opositor (Sapunaru para Belluschi no segundo golo).

Jorge Jesus já tinha ensaiado uma defesa com Sidnei a central e David Luiz a lateral-esquerdo, pelo que toda a gente esperava o Benfica a jogar dessa forma, mas ontem acrescentou outra cautela: Salvio na ala direita, Carlos Martins ao centro, à frente de Javi García, Coentrão à esquerda e Aimar na ligação com o ataque, relegando Saviola para o banco. A decisão só pode assentar no desejo de ter um miolo forte, pois Aimar baixa mais no terreno do que Saviola e aparece mais vezes na zona onde começa a construir-se o ataque. De nada valeu, porque o FC Porto pressionou mais e melhor, chegou sempre mais lesto à primeira bola e à segunda, fazendo com que tudo parecesse demasiado fácil para um lado e demasiado complicado para o outro. Uma superioridade tão fantástica quanto o resultado.

Os golos acumularam-se, cada um melhor do que o seguinte. Aliás, ver Jorge Jesus, à meia hora de jogo, a perder por 3-0, de braços cruzados e sem ninguém a aquecer quando nada batia certo, diz tudo sobre o que estava a acontecer e o que viria a seguir. A correcção ao intervalo - entrada de Gaitán, saída de Sidnei, recuo de Coentrão para lateral e passagem de David Luiz para central - serviria para pouco mais do que salvar a face, até porque se admitia o desacelerar portista face ao resultado. Mas continuava a haver cabeças perdidas no Benfica. Luisão foi expulso e, logo a seguir, Jesus recompôs a equipa com o central Roderick, sacrificando Carlos Martins, o único que dava a ideia de saber o que estava a fazer em campo. Ficou a equipa mais homogénea… enquanto o FC Porto se sentia convidado a apertar um pouco mais e a elevar a contagem para números que só podem ser escandalosos para quem não viu.

FC Porto, 5 - Benfica, 0

Estádio do Dragão

Relvado Excelente

Espectadores 49817

Árbitro Pedro Proença

Golos 1-0 Varela 12'; 2-0 Falcao 25'; 3-0 Falcao 28'; 4-0 Hulk 79' g.p.; 5-0 Hukl 90'

in "ojogo.pt"

Frango para Roberto numa festa azul

Insólito: no início da segunda parte saiu um frango para Roberto.

Hilariante a caça ao frango lançado da bancada pelos SuperDragões, quando Roberto ocupava a baliza do Topo Sul do Estádio do Dragão, na segunda parte. Menos engraçadas foram as bolas de golfe e os isqueiros atirados ao guarda-redes espanhol, que Pedro Proença entregou ao quarto árbitro. "Roberto não esqueças os teus erros", podia ler-se nas diversas placas levantadas pelos Super, que fizeram tudo para o pressionar. Em noite de clássico, o Dragão engalanou-se com uma coreografia azul e branca que atapetou as bancadas. Do lado sul, os SuperDragões estenderam três panos que taparam a bancada e levantaram uma faixa que se revelaria premonitória: "Nascidos do fogo para vencer". Do lado oposto, o Colectivo assinalou os 15 anos de acompanhamento da equipa. Mal Pedro Proença apitou e os cerca de 50 mil espectadores soltaram as gargantas, na bancada dos adeptos do Benfica, onde se podia ler uma provocação "Ladrões à força", a polícia carregou para serenar os ânimos. Depois, o FC Porto começou a marcar e os adeptos encarnados foram perdendo o entusiasmo, enquanto os azuis e brancos faziam estremecer as bancadas a cada golo, com uma festa onde nem petardos, nem o fogo faltaram.
 
in "ojogo.pt"


O FC Porto um a um

A Estrela: Hulk (9)

Afinal este Benfica é bem mais fácil de amassar

Uma noite perfeita do brasileiro deixou os adeptos deliciados e em êxtase. Na verdade, o próprio Hulk ficou em êxtase quando marcou o primeiro golo ao Benfica em três épocas, o quarto da equipa, na conversão de um penálti que ganhou a Coentrão. Pouco depois chegou o momento sublime, com uma arrancada, uma finta e uma bomba que Roberto não evitou. Dois golos que chegariam para muitos elogios, só que Hulk fez ainda mais. Foi o grande causador de perigo para a defesa encarnada e uma dor de cabeça para David Luiz. Ultrapassou o compatriota aos 12' e ofereceu o primeiro golo a Varela. Ao contrário do que se verificava no início, o brasileiro sabe agora jogar para a equipa e decidir quando deve arriscar. E quando arrisca, falha menos vezes.

Helton 7

Terminar um clássico sem golos sofridos é digno de registo, mais ainda quando se demonstra segurança. Na primeira parte, foi quase um espectador, mas, na segunda, esteve sujeito a algumas situações complicadas. Fez uma grande defesa após um remate de David Luiz, depois parou outro remate de Carlos Martins e ainda tirou a bola da cabeça de Kardec, num canto.

Sapunaru 7

Grande exibição do romeno. Com Coentrão pela frente durante a primeira parte, não lhe deu espaço e evidenciou-se pelo número elevado de cortes. E esteve melhor ainda quando fez um grande passe para Belluschi no lance do terceiro golo. Frente a Gaitán, na segunda parte, continuou com a mesma rotação: cortes atrás de cortes, inteligência de jogo e passes seguros.

Rolando 7

Foi um dos grandes responsáveis por ter deixado seco o ataque encarnado. A jogar à zona, foi afastando o perigo tantas vezes que ganhou confiança ao simular um corte a Kardec e deixar passar a bola para trás. Classe.

Maicon 7

Tal como Rolando, foi um senhor na área portista. Optou sempre bem quando tinha que aliviar a bola ou fazer cortes mais técnicos. Num desses, ficou na memória uma "maldade" sobre Maxi Pereira em situação apertada.

Álvaro Pereira 7

O uruguaio não sabe jogar mal. Se a aplicação e entrega costuma ser igual em todos os jogos, ontem esteve muito atento a Salvio e não lhe deu hipóteses de brilhar. E atacou muito, desequilibrando o sector direito encarnado, pouco se importando com o cartão amarelo que viu.

Guarín 8

Ontem, foi a noite de redenção do colombiano como trinco. Acertou os primeiros passes, ouviu palmas, ganhou confiança e partiu para uma grande exibição. Foi um autêntico muro para Aimar e companhia, não inventando quando a situação era de aperto. Recuperou bolas, lançou o jogo para a frente, tentou o golo num cabeceamento ao lado e ainda "expulsou" Luisão, fruto precisamente da pressão que fez sobre os adversários que lhe apareciam à frente.

Belluschi 8

Jogar bem com o Benfica não é propriamente uma novidade. Realizou uma primeira parte de sonho e esteve simplesmente em todos os golos desse período. Foi dele o passe para Hulk no primeiro e depois assistiu Falcao no segundo após fintar David Luiz, fazendo o mesmo a Sidnei no terceiro golo antes de colocar novamente a bola no colombiano. Só lhe faltou mesmo o golo e tentou-o em dois remates que Roberto defendeu. O argentino foi um 'mouro' de trabalho no meio-campo, recuperando bolas e colocando-as depois nos homens da frente.

João Moutinho 8

Exibição imaculada do oito portista. Mestre na ocupação dos espaços, pressionou o adversário muito à frente e não lhe deu tempo para pensar. Resultado: recuperou bolas e depois serviu o ataque com classe, virando o jogo de flanco quando foi preciso e aparecendo em várias zonas do relvado. Que pulmão! Aos 73', tentou, mais uma vez, o primeiro golo com a camisola portista, mas Roberto defendeu.

Varela 8

Mais uma noite de glória com o Benfica. Depois de uma grande exibição na Supertaça, com uma assistência para Falcao, ontem abriu caminho à goleada após um passe de Hulk. Viu bem Falcao a arrastar os centrais e apareceu na zona vazia para bater Roberto sem dificuldade. Foi o sexto golo no campeonato e foi também uma dor de cabeça para Maxi. Poucas bolas perdeu e conseguiu cruzamentos e muitos ataques pelo lado esquerdo.

Falcao 8

Na Supertaça tinha-se estreado a marcar ao Benfica e ontem dobrou a dose. Dois golos diferentes que definem bem as qualidades do colombiano. No primeiro fez uma acrobacia. Elevou-se no ar, rodou o corpo e meteu a bola na baliza com o calcanhar, após um cruzamento de Belluschi. Três minutos depois, recebeu mais um passe de morte de Belluschi e bateu Roberto com o pé direito. Mas Falcao também sabe jogar sem bola, como no primeiro golo, ao arrastar os defesas e abrir caminho para Varela. O ponta-de-lança massacrou os defesas, moeu-lhes a paciência e ganhou bolas até no meio-campo.

Rúben Micael 5

O médio foi o primeiro a entrar, substituindo Belluschi, e a equipa não perdeu clarividência. Tentou mostrar serviço em pouco tempo e ainda participou em várias jogadas de envolvimento, sem esquecer o trabalho defensivo.

James Rodríguez 5

Poucos minutos em campo que deram, ainda assim, para mostrar técnica apurada.

Walter -

A entrada do brasileiro foi mesmo para queimar tempo e proporcionar uma ovação a Guarín.

in "ojogo.pt"

Pinto da Costa : "Se calhar fui eu que vendi o Di María e o Ramires..."


Pinto da Costa não escondeu a enorme satisfação por ter goleado o Benfica por 5-0, um resultado de que só se lembra ter conseguido uma vez e no Estádio da Luz. O presidente portista aproveitou para, em exclusivo a O JOGO, enviar uma série de recados. "Esta vitória foi a resposta para os palradores do regime que desde o princípio da época têm tentado esconder os seus fracassos e asneiras com o slogan da verdade desportiva. Se calhar, hoje [ontem] não houve verdade desportiva porque, provavelmente, terei sido eu que vendi o Di María e o Ramires abaixo das cláusulas de rescisão. Se calhar fui eu que perdi a possibilidade de contratar todos os jogadores anunciados e que não vieram. Mas hoje todos devem sentir-se envergonhados do que têm dito porque aqui houve duas coisas: verdade desportiva e uma grande equipa de futebol com um público e claques fantásticas. Os SuperDragões e o Colectivo porque a outra, do visitante, nem se ouviu. Foi bom terem vindo para mostrar que não ligam aos apelos do seu presidente e espertos foram os 600 que não vieram e cujos bilhetes foram devolvidos porque escusaram de ver e compreender que o FC Porto ganhou porque é melhor", salientou.

Empolgado, Pinto da Costa manteve o tom duro para o adversário e elogiou o trabalho de Villas-Boas. "Foi uma exibição fantástica e uma resposta à campanha que o jornal "A Bola" fez durante a semana com escritos baixos ao seu melhor nível e que só serviram para nos unir mais. Em dez jogos temos dez pontos de vantagem o que para muitos era impensável. É uma resposta para quem disse que fui contratar um treinador à pressa. O mesmo treinador que em dois jogos com este visitante já tem a o saldo de 7-0. Continuem a falar. Até admito que amanhã haja uma reunião de emergência com o senhor José Manuel Delgado e o senhor Fernando Guerra e isso dá-me um grande gozo porque respondemos à nossa maneira, ganhando com verdade desportiva como hoje fizemos", frisou.

Apesar do triunfo sobre o grande rival, o presidente portista não vai encomendar as faixas de campeão. "Não damos o campeonato por terminado apesar dos dez pontos e da superioridade evidenciada porque conheço bem o Jorge Jesus, sei do seu valor e que nunca esmorece. Por isso, vamos trabalhar como se estivéssemos no início do campeonato", garantiu, aproveitando para mais uma "bicada à águia". "Estou muito feliz pelos meus jogadores, por aqueles que trabalham comigo, pelos adeptos e sócios do FC Porto e, sobretudo, pelo gozo que me dá estar a imaginar o cheiro que alguns fedorentos deste país devem estar a exalar neste momento. A verdade é que esta exibição do nosso visitante vai tirar um pouco de mérito às vitórias do Guimarães, da Académica e do Nacional sobre este mesmo visitante porque os seus adversários vão, depreciativamente, dizer que é o nosso visitante que não joga nada. Mas as equipas só jogam o que as outras deixam", atirou.

A terminar, Pinto da Costa fez uma análise à operação policial montada à volta da equipa do Benfica. "Dou os parabéns ao ministro da Administração Interna porque todo este aparato vivido na cidade do Porto deve ter sido um ensaio para apanhar criminosos que andem à solta. Acho que ele deve estar todo satisfeito porque para todos, fora de campo, tudo correu bem. Dentro do campo, felizmente, correu bem para nós", concluiu

in "ojogo.pt"

André Villas-Boas : "É preciso continuar em estado de alerta"


André Villas-Boas festejou efusivamente a "vitória saborosa", mas ainda não confia na distância de dez pontos em relação ao Benfica. Para o técnico do FC Porto "não faz sentido quando se diz que este resultado, à 10ª jornada, é decisivo". "Só posso dizer que vivi uma experiência no Chelsea com José Mourinho e estávamos com 12 pontos sobre o Manchester e, mesmo assim, sentimos a pressão do nosso directo adversário". Por essa razão, André Villas-Boas salientou que é "preciso continuar em alerta", o que não invalida o "sentimento especial" pelo desfecho do jogo de ontem, mais, explica, "pelo facto de um resultado por 5-0 não acontecer todos os dias". Num jogo destes, comentou o técnico "acabou por ser o talento dos jogadores a resolver as situações. O momento definitivo foi a organização defensiva que bloqueou o Benfica".

Se para Jorge Jesus foi a noite incrível de Hulk que desequilibrou, André Villas-Boas não destacou ninguém num colectivo "em que todos conseguem ter preponderância e impacto". "Só um colectivo", acrescenta, "muito forte e uma equipa que consegue interpretar as linhas gerais do futebol que se pretende, e tem a qualidade e poder de decisão de praticar um bom futebol".

O FC Porto "está numa posição confortável", mas Villas-Boas avisa que "há muitos jogos pela frente, sendo importante manter a lucidez e continuar a trabalhar". "O nosso objectivo ainda não foi alcançado". Talvez por isso tenha transferido a resposta sobre se o FC Porto é mais favorito após esta vitória para Jorge Jesus. "Faça essa pergunta ao treinador do Benfica e, a partir da resposta dele, terá a minha. Essa reposta tem de ser dada pelos adversários, eles têm de acreditar que isso é possível. Tenho de dar valor aos jogadores que souberam interpretar o jogo que queríamos, tiveram a lucidez e qualidade para ultrapassar o Benfica. Com posse de bola e circulação criámos muitas oportunidades."

Na segunda parte houve uma mudança. "Conseguimos manter a bola mais connosco e o Benfica foi praticamente zero", comentou Villas-Boas, considerando que a exibição de ontem "foi a continuação do grito de revolta em relação ao que aconteceu no ano passado".

A propósito da aposta de Jorge Jesus em David Luiz: "Se calhar apostou-se demais num duelo e acreditou-se que esse duelo e poderia resolver todos os outros problemas, mas este jogo, como ficou provado, não é um jogo de duelos individuais."

Quanto às projecções mais pessimistas, após as dificuldades em Coimbra e frente ao Besiktas, André Villas-Boas foi categórico. "Não vamos embarcar nesse tipo de mensagens enganosas e estaremos em alerta contra tudo e contra todos", concluiu.

in "ojogo.pt"

FC Porto 5 - Benfica 0 (declarações)

Hulk: «Se Vieira abrir o jornal...»
diz que terá dificuldades em ignorar o seu valor
 
Dois golos, uma assistência e mais uma exibição de luxo de Hulk. Na hora dos festejos, o brasileiro foi dominado pela alegria, mas voltaram também à tona algumas quezílias do passado. Luís Filipe Vieira foi um dos visados das suas palavras.

Na época passada, o presidente do Benfica colocou em causa a falta que Hulk fez ao FC Porto durante o período em que esteve castigado, afirmando que, na altura, era o jogador com mais perdas de bola da Liga. Agora, o avançado desafia o líder das águias a continuar a ignorar o seu valor. “Se ele não me conhecia, se amanhã [hoje] abrir o jornal eu vou lá estar”, respondeu o brasileiro, aproveitando o bom momento para fazer o contraponto com uma fase muito difícil. “Só eu sei o que passei e sofri por ter estado três meses sem jogar. É muita coisa para um jogador. Se na época passada tivesse jogado teria ajudado mais... Foi uma injustiça, mas é passado.”

Sabor especial

Voltando ao presente, a análise de um jogo quase perfeito. “Todos os atacantes querem fazer golos e marcar num clássico é especial. Não há clássicos fáceis; nós é que facilitámos o jogo como equipa”, sublinhou o jogador, de 24 anos, finalizando: “Fiquei muito feliz pela prestação do FC Porto. Este jogo teve um sabor especial.”

Belluschi: «Vencer clássico tem sabor especial»
resultado é fruto do trabalho da época

Belluschi foi determinante na construção deste resultado, tendo assumido um papel ativo nas duas concretizações de Falcão. O argentino estava feliz com a exibição da equipa. “Esta vitória não tem segredos. Trabalhámos muito desde o início da temporada. Todos os jogadores lutam para ser titulares”, referiu o médio portista.

Não obstante o triunfo sobre o grande rival e concorrente na luta pelo título, Belluschi entende que nada está ganho por parte do FC Porto. “Com esta vitória, o campeonato não está mais fácil. Ainda falta muito até ao final. Mas é claro que vencer um clássico tem sempre um sabor especial”, revelou o argentino, vendo grandes diferenças na equipa em relação a 2009/10: “Mudou muita coisa, desde o treinador, passando pelos jogadores que começaram a época com outra mentalidade.”

Guarín: «Vitória que nunca será esquecida»
exulta com o triunfo sobre rival benfica
 
Guarín foi a novidade no onze do FC Porto relativamente à equipa que vencera a Supertaça, em agosto. O internacional colombiano rendeu o lesionado Fernando e esteve em destaque, merecendo rasgados elogios numa noite que ficará para a história. “Foi um grande orgulho, uma felicidade total”, começou por dizer o camisola n.º 6, que dá um alcance histórico ao feito de ontem. “Foi uma vitória que nunca será esquecida”, catalogou o médio, que realçou a justeza do triunfo. “Foi um triunfo muito lindo, com muitos golos e com este futebol”, enumerou, deliciado com o caudal ofensivo demonstrado pelos azuis e brancos.

Guarín rendeu o Polvo no onze e revelou competência, mas optou por desviar-se das luzes da ribalta. “Senti-me bem, é importante servir a equipa e estar atento para o que ela necessitar”, referiu, com um sentido coletivo que o coloca na primeira linha de sucessão ao titular brasileiro. Para o colombiano, essas são contas para o futuro. “Importante é o triunfo, o jogo que fizemos, a história”, vincou, recusando dar o campeonato como uma certeza. “Nada está decidido, mas é claro que é muito bom ganhar a um rival direto como o Benfica”, disse, ciente de que “ainda falta muito”.

Sobre o lance com Luisão, ficou o relato do interveniente: “Deu-me com as costas e tentou dar-me com o cotovelo, mas não acertou.”

Helton: «Bom resultado e bela exibição»
guardião bastante elogioso

Helton continua o seu percurso vitorioso sempre que defronta o Benfica. Desde que chegou a Portugal, para representar a U. Leiria, o agora capitão portista só perdeu uma vez frente aos encarnados. Foi na época passada, na Luz, na famosa partida dos incidentes no túnel.

Agora a história foi bem diferente e o guardião elogiou os colegas: “Foi um bom resultado e uma bela exibição. Mais um passo dado rumo ao nosso objetivo. Estamos de parabéns. Foi um clássico, mas vale 3 pontos como qualquer outra vitória. Apenas isso...”

Rúben Micael: «Ninguém esperava este resultado»
Médio diz que equipa tem que continuar humilde

O médio do FC Porto, Rúben Micael, garantiu, esta noite de domingo no final da partida em que os dragões golearam o Benfica por 5-0, que “ninguém no balneário do FC Porto esperava ganhar por este resultado”, apesar de acreditarem que iriam vencer.

“Ninguém esperava este resultado. Pensávamos que íamos ganhar, mas nunca por 5-0”, afirmou Micael acrescentando que: “Temos 10 pontos de avanço mas somos humildes, temos de continuar com esta atitude e não facilitar na próxima partida do campeonato frente ao Portimonense”.

Questionado sobre se esta foi a melhor exibição da época dos portistas, o antigo jogador do Nacional da Madeira foi peremtório: “Sim, sem dúvida”.

“Não há ninguém com mais vontade de ser campeão que nós”, finalizou Ruben Micael.

in "record.pt"





A análise de JVP

FC Porto-Benfica


1 Opções de Jesus resultaram duplamente mal

A vitória do FC Porto começa por explicar-se através das opções de Jorge Jesus para o onze inicial. A sua intenção ao colocar David Luiz no lado esquerdo da defesa e Salvio no meio-campo era tornar a equipa mais compacta em termos defensivos. Em teoria, David Luiz iria fortalecer o lado esquerdo e, juntamente com Coentrão, travar Hulk; Salvio ajudaria a ganhar o meio-campo que passaria, na prática, a ter quatro homens. Percebo o pensamento do treinador do Benfica, mas a equipa não respondeu ao que ele pretendia e acabou por ver-se duplamente prejudicada: por um lado, porque David Luiz não tem rotinas de lateral-esquerdo, perdendo-se na posição, e com os desequilíbrios do FC Porto a surgirem por esse lado; por outro lado, a equipa não criou perigo, pois faltou-lhe a dinâmica que normalmente surge por via do entendimento entre Aimar e Saviola. Só que este último não estava em campo!

2 O mérito do FC Porto e a potência de Hulk

Há, naturalmente, muito mérito do FC Porto - que inicialmente fez um jogo muito inteligente, pensado, gradualmente intensificando a pressão sobre o Benfica quando não tinha a posse de bola. O FC Porto percebeu os problemas que o Benfica ainda não conseguiu resolver do lado esquerdo, em que das duas posições só uma oferece garantias, que é aquela onde jogar Coentrão. A fragilidade nesse flanco é visível pelas constantes alterações de jogadores - ora entra César Peixoto, ora Gaitán, que dá boa dinâmica atacante mas não defende. Além disso, a equipa portista tem, do meio-campo para diante, jogadores que circulam bem a bola, que criam uma boa dinâmica e no ataque tem elementos que desequilibram. E, neste momento, é muito difícil segurar Hulk, em especial quando lhe pertence a iniciativa da jogada. A partir do momento em que se vira de frente para o adversário, fruto do seu poder de arranque, ganha-lhe logo dois metros. E a isto junta-se velocidade e potência de remate.

3 O Incrível definiu o encontro

A história do encontro não é difícil de contar. Nos primeiros dez minutos, as equipas estudavam-se, procuravam manter a organização defensiva mas também responder aos ataques uma da outra. Até que surge o momento que marca o jogo: Hulk desequilibra e define o que se passaria daí para a frente. Embora David Luiz pudesse fazer um pouco mais, é muito difícil travar este Hulk. Seja David Luiz ou qualquer outro defesa!

4 Um grande golo de Falcao

Falcao fez um grande golo e de execução muito difícil. Uma coisa é a bola vir a rolar rente à relva, em que basta um pequeno toque para a desviar. Aqui tratou-se de um lance muito mais difícil, pois a bola vem pelo ar e o avançado colombiano é obrigado a imprimir-lhe mais força para ela entrar. A beleza do golo começou, no entanto, na forma como ganhou o espaço e depois pela rapidez com que pensou e executou.

5 Eficácia portista e incapacidade encarnada

Sublinho a tremenda eficácia demonstrada pelo FC Porto. Fez três golos nos primeiros três ataques perigosos que efectuou e conseguiu sempre alargar e aprofundar melhor o seu jogo. O Benfica não teve essa capacidade nem conseguiu arranjar argumentos para responder. Aliás a sua grande oportunidade foi apenas na segunda parte, quando após um canto Luisão amorteceu para um remate de David Luiz, a que Helton correspondeu bem. O Benfica não conseguiu reagir aos golos sofridos e se as coisas já estavam complicadas ainda mais ficaram com a expulsão de Luisão. É uma daquelas coisas que não deveria acontecer mas que reflectem a situação do Benfica, com os jogadores a sentirem que a equipa não está a reagir - e logo num clássico - e a verem aumentar a diferença pontual para o rival.

6 FC Porto superior

Assim como na época passada se reconhecia que o Benfica estava a ser superior, agora deve fazer-se o mesmo em relação ao FC Porto. E não é só Hulk que merece ser destacado, ainda que o seu momento actual de forma possa roubar protagonismo a Varela, Falcao, Belluschi ou Moutinho. A entrada deste último no meio-campo foi, de resto, fundamental, pois ao ser muito disciplinado tacticamente permitiu que Belluschi se libertasse e passasse a fazer desequilíbrios à semelhança de Lucho González e a aparecer nas costas dos avançados. Os jogadores que entram estão confiantes porque a equipa está bem. Exemplos disso são Guarín (nem se notou a ausência de Fernando) e Rúben Micael, que substituiu Belluschi. Este estado de espírito permite motivar tanto os titulares como aqueles que jogam menos. E tudo isto sem a pressão pontual, pois o adversário mais próximo está já a dez pontos

7 Bem encaminhado para o título

Embora se pense nisso, não se deve dizer já que a época está resolvida. Mas é inegável que o FC Porto está muito bem encaminhado rumo ao título, apesar de ainda só terem sido disputadas dez jornadas, isto é, o primeiro terço do campeonato. Digo isto não só pela diferença pontual mas sobretudo pela forma como a equipa está a jogar. Isto é semelhante ao que sucedeu com o Benfica na época passada. A grande diferença é não ter um rival à altura como o Benfica teve no Braga na última temporada, o que permite ao FC Porto respirar ainda melhor.

in "ojogo.pt"

F.C. Porto-Benfica, 5-0 (destaques azuis e brancos)


Ninjas e Samurais na lenda de um enorme monstro verde

Hulk

Quem pára este Hulk? Caiu cedo, queixando-se de uma cotovelada de David Luiz. Viu Sapunaru recuperar, recebeu a bola no pé e encarou o adversário de frente. Agigantou-se. Não podemos garantir, mas sentiu-se ali o temor do encarnado. Arrancada, David Luiz pelo chão, tentando ainda segurar o portentoso brasileiro. Em vão. Linha de fundo, assistência, golo. Que força, que poder! Repetiria o movimento na segunda parte, desta vez sobre Fábio Coentrão. O português também caiu e cometeu grande penalidade. Oportunidade para o primeiro golo de Hulk frente ao Benfica. E o segundo, já agora, num remate cruzado, à entrada da área. Está aí um dos jogadores mais entusiasmantes da actualidade. 10 golos na Liga!

Belluschi

Naturalidade impressionante do Samurai na finta sobre David Luiz, no segundo golo do F.C. Porto, tirando o cruzamento com a canhota para o toque de classe de Falcao. Acomodou-se à posição ofensiva e por lá ficou mais alguns minutos, batendo em velocidade o pesado Sidnei. Pausa, olhos em Falcao, passe à medida. A simplicidade como sinónimo de beleza no futebol. Promete uma segunda temporada ao mais alto nível, após período de adaptação ao futebol português.

Falcao

Rival à altura para Majder, com um jeito digno de um Ninja. Marcara de calcanhar frente ao At. Madrid, na época passada, mas este movimento supera todos os ensaios. Bola a meia altura, Falcao já perto da baliza, estica a perna perante a passividade de Luisão e toca de calcanhar no ar, contra todas as previsões, para o fundo da baliza encarnada. Muitos dos presentes nem perceberam. Revejam nas imagens televisivas. Valerá certamente a pena. Dor de cabeça constante para os centrais encarnados, fez ainda o seu 6º golo na Liga 2010/11, rematando no coração da área, após novo passe de Belluschi.

Varela

Resolveu em Coimbra e surgiu no local indicado para desequilibrar o Clássico. Seis golos na Liga portuguesa, um excelente registo para um avançado que tem feito carreira nos flancos, não tanto nas proximidades da baliza adversária. Ganhou vários duelos em velocidade com Maxi Pereira, por norma um jogador com argumentos nesse capítulo.

Sapunaru

Lançamento longo para a corrida de Belluschi, no terceiro golo do F.C. Porto. Cereja ofensiva em cima de bolo defensivo com aspecto interessante. Saiu-lhe a fava, teoricamente, mas demonstrou desde o início que estava preparado para anular o irrequieto Fábio Coentrão. Posicionamento irrepreensível, apostando nas antecipações para compensar eventual falta de velocidade. Nem parece o mesmo Sapunaru da época passada. Fez a melhor exibição de dragão ao peito, para uma afirmação crescente no onze de André Villas-Boas.

André Villas-Boas

Dois clássicos, duas vitórias. Liderança folgada na Liga, com dez pontos à maior sobre o rival deste domingo. Apostou na rotatividade moderada para potenciar as qualidades dos habituais suplentes e recolheu frutos. Não inventou, manteve a estrutura, ganhou apostas em Guarín, Sapunaru ou Maicon. Consegue mais com o mesmo. O sucesso começa por aí.

in "maisfutebol.iol.pt"

F.C. Porto-Benfica, 5-0 (crónica)


Este F.C. Porto não é criação de Coppola, mas adora o cheiro a napalm pela manhã. E ainda mais pela noitinha, principalmente se a vítima for o Benfica. Os dragões inspiram bem fundo o odor a destruição, à glória entranhada no oponente esmagado. Nunca o Apocalipse (Now) terá servido tão bem para desenhar o quadro actual dos homens da Luz: humilhados, enfraquecidos, agonizantes. A dez pontos do primeiro lugar da Liga.

O 5-0 reflecte na ajustada medida a diferença entre Porto e Benfica. Os primeiros latejam felicidade, qualidade, alegria, paixão. Os segundos vestem de vermelho, embora aparentem estar no velório do próprio féretro. Aliás, não se percebe muito bem se o Benfica morreu aos bocadinhos a cada golo do Porto, ou se já terá vindo morto de Lisboa. Pormenores.

O Clássico foi desequilibrado de princípio ao fim, tão desequilibrado que chegou a meter dó. Entre muitas culpas próprias e mérito admirável do adversário, o Benfica de Jesus começa a despedir-se do título ainda antes do Natal. Uma patologia que anos a fio atormentou os vizinhos da Segunda Circular. Mas esses não fazem parte deste filme.

A conquista ao som da Cavalgada das Valquírias

Há um leitmotiv, uma repetição a remoer o argumento do jogo. A cada arrancada de Hulk, a cada recepção e drible de Belluschi, a cada movimento viperino de Falcao, ecoa A Cavalgada das Valquírias. É essa a banda sonora do jogo, a ode da conquista do adversário, do avanço pleno em direcção ao contendor escondido, atemorizado. Em 1979 numa brilhante revisitação cinematográfica ao Vietname, agora num campo de futebol.

Mundos tão díspares e, ainda assim, tão aproximados em 90 minutos. No lugar de helicópteros a potência de Varela, ao invés das metralhadoras a mira teleguiada de Radamel Falcao e a potência incontrolável de Hulk.

Cinco golos, quatro rajadas a deceparem o rival. 12 minutos. Hulk troca as voltas a David Luiz e serve Varela; 25 minutos, Belluschi deixa David Luiz para trás e cruza para o calcanhar acrobata de Falcao; 29 minutos, Belluschi arranca, deixa Sidnei nas covas e assiste Falcao; 79 minutos, Hulk faz de penalty o quarto; 89, uma vez mais Hulk.

Erros e mais erros na abordagem de Jesus

Depois dos factos, a interpretação dos mesmos. Jorge Jesus meteu os pés pelas mãos, apostou em Sidnei no centro da defesa, derivou David Luiz para a esquerda e deixou Saviola no banco. O que quereria com isto o treinador? Complicar, por certo, adensar as dúvidas em relação ao que ainda pode fazer pelo Benfica e no Benfica.

Foi mau, foi péssimo, foi uma vergonha a imagem deixada pelos campeões nacionais. Caíram a pique, reagiram com a inércia de um sonâmbulo e a delicadeza de um zombie. Foram uma caricatura ridícula daquilo que é uma equipa de futebol e viram o capitão a ser o primeiro a abandonar o barco. Sim, Luisão foi expulso por tentativa de agressão a 20 minutos do fim.

Estamos em Novembro, quarto mês de competição. Serão as saídas de Ramires e Di María ou a pré-época atípica as únicas responsáveis por tudo isto?

O bom futebol é sempre uma excelente opção

A 20 rondas do fim é insensato endereçar as faixas de campeão ao F.C. Porto. Mas insensato também é não dizer que só uma hecatombe vai impedir que tal aconteça. André Villas-Boas edificou uma equipa fortíssima, inteligente e que sabe muito bem o que quer de cada partida.

Todos jogam de olhos fechados e a pensar no golo. Avassaladores, decididos a resolver rapidamente, harmoniosos e cientes de que o bom futebol é sempre um excelente ponto partida para mais conquistas.

O F.C. Porto é uma equipa feliz e nota-se. O Benfica parece abandonado e é impossível não reparar. Resta saber se alguém lhe dá a mão.

in "maisfutebol.iol.pt"

F. C. Porto goleia Benfica e garante dez pontos de avanço na Primeira Liga

O F. C. Porto atropelou o Benfica à custa de uma goleada à moda antiga (5-0). Falcao e Hulk bisaram e souberam aproveitar os erros defensivos do adversário na asa esquerda. Os dragões deixam o rival a dez pontos de distância. Uma dupla humilhação.

O clássico confirmou o que já se suspeitava: o F. C. Porto é a melhor equipa da Liga e o Benfica está a léguas do brilhantismo da época passada. Os papéis inverteram-se e os dragões humilharam o adversário (5-0), ao aproveitar uma defesa que se transformou numa manta de retalhos e que cometeu erros sucessivos. Os dragões foram mais inteligentes e eficazes, muito à custa do olho táctico de Villas-Boas, a saber explorar as fragilidades do opositor. Varela abriu o marcador, Falcao marcou dois e Hulk também bisou (um deles de penálti), aqui quando os encarnados estavam reduzidos a dez por expulsão de Luisão.

Há um denominador comum em quatro golos: foram construídos pela asa esquerda do Benfica, onde Jesus (o mestre da táctica?) procurou tapar todos os caminhos a Hulk, mas cometeu um erro capital em termos estratégios. O posicionamento de David Luiz no lado canhoto, um central de raiz e sem rotinas para jogar na faixa, custou caro. Sempre que o Incrível acelerava na direita, o compatriota ficava nas covas. Foi assim que os dragões abriram o placard e foi assim, também, que Falcao marcou o seu primeiro golo, um gesto soberbo de calcanhar. Pelo meio, há ainda um passe deslumbrante de Belluschi para o colombiano facturar. Com 3-0 ao intervalo, estava decidido.

No segundo tempo, Jesus emendou: tirou Sidnei e recuou Coentrão. Mas o vila-condense também vestiu o mesmo colete de forças e cometeria um penálti sobre o brasileiro. O F. C. Porto fez um jogo inteligente, à custa de um colectivo forte e bem assente em individualidades que também fazem a diferença. É que não foi só a noite mágica de Hulk e de Falcao, não foram só os dois a brilhar com golos, os portistas tiveram um meio-campo muito forte, bem conduzido por Belluschi, tapando os caminhos do Benfica, incapaz de construir jogo.

No primeiro terço da Liga, não há campeões antecipados nem faixas coladas nas camisolas, mas o F. C. Porto deixou o velho rival a dez pontos de distância. Com uma goleada à moda antiga cravada na garganta - o maior resultado de sempre, na Liga, entre os dois rivais. E isso pesa. Agora, os portistas têm a via bem aberta para o título, enquanto o adversário deixou esvaziar o balão da confiança. Desce à terra e fica no ar até que ponto um resultado tão volumoso terá consequências. Uma coisa é certa, Villas-Boas atirou Jesus ao tapete.

in "jn.pt"

FC Porto 5 - Benfica 0 (videos)











FC Porto 5 - Benfica 0 (comerntarios)

Artur Jorge: «Resultado não foi exagerado»

O antigo treinador do FC Porto e Benfica sublinha a justiça da vitória dos dragões.

«O FC porto foi muito mais forte do que o Benfica em todos os aspectos do jogo», começa por afirmar Artur Jorge.

A goleada imposta pelo clube da invicta ao rival lisboeta não choca, aliás, o treinador português. «Estou convencido de que, apesar de se tratar de um desfecho pouco habitual para o que as pessoas estão habituadas a ver num clássico, os 5-0 espelham o que se passou no relvado. O resultado não foi exagerado. O FC Porto mereceu ganhar por aquela diferença», explica Artur Jorge.


«FC Porto cilindrou o Benfica» — Jaime Magalhães

Jaime Magalhães, antigo jogador do FC Porto, não se mostrou nem um pouco surpreendido com a forma como o dragão controlou as operações. O resultado... até podia ser mais desnivelado, garante.

«Aconteceu o que já se previa, domínio absoluto do FC Porto, que funcionou como equipa e acabou por cilindrar o adversário. O resultado é anormal mas o FCP ainda teve oportunidades para marcar mais...»
 
 
«Houve um equívoco», defende Humberto Coelho
Ex-seleccionador da Tunísia diz que a aposta em David Luiz como defesa-esquerdo foi determinante para o descalabro do Benfica no Dragão.

Directo ao assunto, Humberto Coelho não tem dúvidas. «Houve um equívoco que na minha opinião justifica o resultado pesado: a colocação de David Luiz junto à linha lateral e a entrada do Sidnei, que está sem ritmo, para o eixo. O Benfica não teve organização defensiva e pagou caro por isso», sublinha o antigo seleccionador nacional.

«O Benfica tem apostado numa dupla de defesas-centrais que dá garantias e desfazê-la foi determinante. O FC Porto soube aproveitar este facto e dominou por completo no jogo e no adversário», conclui Humberto Coelho.
 
«Benfica é quase a antítese da época passada» - Toni
 
A chave para a goleada sofrida pelo Benfica no Dragão foi, segundo Toni, antiga glória e treinador dos encarnados, faltar a consistência da época passada, que tão bons resultados trouxe à equipa da Luz.

Toni referiu que «a máquina trituradora passou a ser quase a antítese da época passada.» «O Benfica é uma equipa longe do futebol espectacular que fez furor na época passada, pela consistência, espectacularidade. Este ano a equipa falha em muitos daqueles que foram os pontos fortes da época passada e por isso há um Benfica não tão consistente, constante e eficiente», acrescentou.

O ex-técnico considerou, portanto, que «a justiça do resultado [5-0 para o FC Porto] não deixa dúvidas a ninguém.» «Só temos é que dar os parabéns ao FC Porto, porque foi mais forte e mereceu incontestavelmente a vitória», esclareceu.

Mas Toni não ficou inteiramente surpreendido com a goleada portista, explicando que «o jogo da Supertaça deu sinais evidentes do que seria o percurso das duas equipas, que foram confirmados.»

O campeonato não está entregue, garantiu Toni, mas será muito difícil evitar que não rume ao Dragão, pois os azuis-e-brancos têm agora, com os 10 pontos de vantagem, «uma almofada de confiança.»
 
in "abola.pt"

FCP-SLB. E ao sétimo dia, Jesus inventou

Hulk incrível e imparável perante David Luiz (ou Coentrão). FC Porto encomenda faixas à décima jornada

Uma, duas, três, quatro vitórias seguidas no campeonato, depois um discurso de confiança. De seguida, neste sábado, a decisão de lançar David Luiz como defesa-esquerdo. Por fim, domingo, falhanço total. Já se sabe que o domingo é dia de descanso, imagina-se qualquer coisa para fugir à rotina e o que Jorge Jesus inventou foi uma nova equipa para bater o FC Porto e reduzir a desvantagem na classificação, dos sete para quatro pontos. Os domingos também estão cheios de planos furados.

Aos 28 minutos do clássico com o FC Porto, o Benfica estava a perder 3-0. A história foi sempre a mesma. Lance na esquerda, David Luiz batido (por Hulk ou Belluschi), assistência para a área, golo. Varela, Falcao e de novo Falcao. Que rima com humilhação. Que rima com campeão. Porque o que aconteceu, de forma demasiado grave, evidente e impotente para o Benfica, foi a transferência das faixas de campeão para o FC Porto. Depois da manifestação da superioridade azul-e-branca, alguém pode acreditar que a equipa de Villas Boas se deixa apanhar na frente da Liga?

Enquanto o treinador do FC Porto não inventou, Jesus foi mais longe. Ao lançar David Luiz na lateral-esquerda, não só perdeu velocidade na defesa de Hulk como também adiantou Fábio Coentrão para um lugar onde é menos influente. O rapaz das Caxinas não pescou nada. O efeito-dominó ainda levou a que Sidnei fosse chamado a central, ele que não era titular na Liga desde a primeira jornada. Por fim, Jorge Jesus ainda decidiu deixar Saviola no banco (o que é ainda mais raro - aconteceu em Abril contra o Olhanense - do que David Luiz ser lateral).

Pouco falamos do FC Porto porque a equipa portista foi mais do que competente. Só isso, simples. À eficácia ofensiva somou -se a segurança na defesa, aquela que fez Helton descansar praticamente até aos 60 minutos, quando David Luiz fez o primeiro remate perigoso dos encarnados. Nada capaz de incomodar. Ao mesmo tempo, os adeptos azuis-e-brancos começaram a cantar "olééés". Os clássicos também se jogam na bancada e a humilhação consumou-se até com episódios cómicos, como aquele de lançarem um galináceo junto à baliza de Roberto (é verdade, o Benfica estava a perder por três golos e nenhum deles tinha sido um frango).

Restava saber de que forma o campeão entregaria o trono. Luisão, que rima com capitão, esqueceu-se do estatuto, deu mau exemplo, agrediu Guarín e foi expulso. A partir dali já não interessava nada, nem o facto de Jorge Jesus ter assumido os erros e devolvido a lateral-esquerda a Fábio Coentrão. Já com o jogo perdido, o próprio Coentrão fez um penálti sobre Hulk e mostrou que já nem ele acertava. O Incrível fez o 4-0 (primeiro golo ao Benfica) e consumou a noite imparável com um 5-0 extraordinário. Mais humilhante só se o Benfica tivesse voltado para Lisboa à primeira pedrada

in "ionline.pt"

"Isto parece o Iraque. É mais polícia que povo"

Um helicóptero amarelo ziguezagueava por cima do Estádio do Dragão, enquanto os "ninjas" do Corpo de Intervenção da PSP, capacete na cabeça, cassetete na mão, obrigavam uma pequena multidão em fúria a recuar umas centenas de metros para que os adeptos do Benfica passassem sem incidentes.

O trânsito tinha sido estrategicamente cortado. Assustada, Sunny pedia insistentemente a um polícia que a deixasse passar. "Queria só apanhar o metropolitano para ir para casa", gaguejava a frágil japonesa, perplexa com o todo o aparato em redor do estádio. "Para trás, para trás, para trás", gritava um agente, pose rígida, olhar tenso, enquanto os mais de dois mil benfiquistas que vinham a pé desde a estação de Campanhã marchavam, velozes, sob a escolta da polícia motorizada, que nem chefes de Estado de países ameaçados por perigosos terroristas.

"Isto parece o Iraque", lamentava António Abreu, um dos cerca de quinhentos portistas que ontem se aglomeraram em frente à entrada lateral do Dragão, à espera dos adeptos benquistas e do autocarro com a equipa adversária. "É mais polícia que povo. Quero ver quem vai pagar a factura", bufava, indignado com a magnitude da presença policial, que rondou os 600 efectivos.

Mas nem a impressionante operação de "tolerância zero" impediu que a tradição se repetisse: o autocarro da equipa do Benfica voltou a ser alvejado com algumas pedras e bolas de golfe, durante o percurso desde o hotel, na Avenida da Boavista, até ao Estádio do Dragão. À chegada ao estádio, o "vermelhão", aguardado pela turba azul e branca em brasa, porque a polícia a contivera num respeitável perímetro de segurança, exibia já um estilhaço no vidro da frente do piso superior. E de novo umas poucas pedras e bolas de golfe voaram, sem atingir, porém, o veículo, que se esgueirou pela entrada do estádio, por entre os tronitruantes insultos dos adeptos portistas.

Apesar de tudo, o subintendente que comandava a operação parecia aliviado. Foram apenas "pequenos contratempos", comentava, em declarações à SIC, enquanto sublinhava que o autor do arremesso da bola de golfe que estilhaçou o vidro do autocarro ?"foi detido de imediato" e que um outro teve o mesmo destino por ter sido capturado com "pequenos petardos".

Frustrados ficaram os ânimos dos portistas mais aguerridos. Até porque a operação de arremesso de flores - que um grupo tinha engendrado para atirar simbolicamente ao autocarro benquista - caiu literalmente por terra. Um dos autores da ideia ainda tentou convencer os adeptos a quem tinham sido distribuídos cravos e malmequeres a não proferir insultos, enquanto os exibiam num ensaio para as câmaras de televisão. Sem sucesso. "Filhos da puta", gritavam, com as flores em riste. Os "dragões" voltaram a mostrar a sua garra.

in "publico.pt"