Um helicóptero amarelo ziguezagueava por cima do Estádio do Dragão, enquanto os "ninjas" do Corpo de Intervenção da PSP, capacete na cabeça, cassetete na mão, obrigavam uma pequena multidão em fúria a recuar umas centenas de metros para que os adeptos do Benfica passassem sem incidentes.
O trânsito tinha sido estrategicamente cortado. Assustada, Sunny pedia insistentemente a um polícia que a deixasse passar. "Queria só apanhar o metropolitano para ir para casa", gaguejava a frágil japonesa, perplexa com o todo o aparato em redor do estádio. "Para trás, para trás, para trás", gritava um agente, pose rígida, olhar tenso, enquanto os mais de dois mil benfiquistas que vinham a pé desde a estação de Campanhã marchavam, velozes, sob a escolta da polícia motorizada, que nem chefes de Estado de países ameaçados por perigosos terroristas.
"Isto parece o Iraque", lamentava António Abreu, um dos cerca de quinhentos portistas que ontem se aglomeraram em frente à entrada lateral do Dragão, à espera dos adeptos benquistas e do autocarro com a equipa adversária. "É mais polícia que povo. Quero ver quem vai pagar a factura", bufava, indignado com a magnitude da presença policial, que rondou os 600 efectivos.
Mas nem a impressionante operação de "tolerância zero" impediu que a tradição se repetisse: o autocarro da equipa do Benfica voltou a ser alvejado com algumas pedras e bolas de golfe, durante o percurso desde o hotel, na Avenida da Boavista, até ao Estádio do Dragão. À chegada ao estádio, o "vermelhão", aguardado pela turba azul e branca em brasa, porque a polícia a contivera num respeitável perímetro de segurança, exibia já um estilhaço no vidro da frente do piso superior. E de novo umas poucas pedras e bolas de golfe voaram, sem atingir, porém, o veículo, que se esgueirou pela entrada do estádio, por entre os tronitruantes insultos dos adeptos portistas.
Apesar de tudo, o subintendente que comandava a operação parecia aliviado. Foram apenas "pequenos contratempos", comentava, em declarações à SIC, enquanto sublinhava que o autor do arremesso da bola de golfe que estilhaçou o vidro do autocarro ?"foi detido de imediato" e que um outro teve o mesmo destino por ter sido capturado com "pequenos petardos".
Frustrados ficaram os ânimos dos portistas mais aguerridos. Até porque a operação de arremesso de flores - que um grupo tinha engendrado para atirar simbolicamente ao autocarro benquista - caiu literalmente por terra. Um dos autores da ideia ainda tentou convencer os adeptos a quem tinham sido distribuídos cravos e malmequeres a não proferir insultos, enquanto os exibiam num ensaio para as câmaras de televisão. Sem sucesso. "Filhos da puta", gritavam, com as flores em riste. Os "dragões" voltaram a mostrar a sua garra.
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