domingo, 24 de outubro de 2010

André Villas-Boas : "Se não for campeão, para o ano estará cá outro"


Pragmático e directo. André Villas-Boas assumiu o objectivo do título e explicou por que não fez promessas no dia da apresentação...

No dia em que foi apresentado, não prometeu títulos aos adeptos. Agora já pode prometer?

Não quis prometer títulos, porque se tornou um hábito na apresentação de um treinador de um grande em Portugal, e muitas dessas promessas ficaram por cumprir. Quis afastar-me da mensagem que um predestinado tinha feito quando chegou ao FC Porto; essa mensagem foi forte, e o FC Porto foi uma equipa vencedora, que dominou em todos os sentidos, Europa incluída. Mas, isso não acontece todos os anos. Queria fugir dessa espécie de obrigação, que está implícita num clube como este. Obviamente que o FC Porto tem de vencer o campeonato todas as épocas. Se não for campeão, para o ano não estarei aqui, estará outro treinador. E se o panorama actual pode deixar adivinhar facilidades, eu não as encontro. O FC Porto limitou-se a cumprir os seus objectivos; se calhar os outros é que não fizeram o mesmo até esta fase da época. Temos um boa margem pontual, mas ainda não somos campeões, nem garantimos, seguramente, a certeza de que o campeonato está ganho.

Qual a razão que o leva a dizer que se não for campeão não estará cá na próxima época?

Um treinador com 33 anos, com uma experiência ainda reduzida, e que não ganhe o campeonato no FC Porto no seu primeiro ano, estaria sujeito a fortes críticas por parte da Comunicação Social. Não estou a dizer que é essa a minha opinião, ou a do presidente, ou até das pessoas que o rodeiam, mas estou certo de que seria essa a percepção da opinião pública.

Por tudo isso, tem consciência da importância desta experiência para o futuro da sua carreira?

A minha carreira pode ser mais curta ou mais longa consoante os sucessos que obtenha. Espero ser bem sucedido no FC Porto e que a minha estadia neste clube se prolongue. Mas, parece-me claro que serei penalizado se não for bem sucedido aqui...

Isso assusta-o?

Não. São as exigências naturais de uma profissão de risco. O meu grande desafio, até agora, foi a Académica. Saí de Milão onde tinha grandes condições, trabalhava com um treinador que está enquadrado com o sucesso como mais nenhum está na história do futebol, tinha um salário completamente anormal... E sair de lá para vir para a Académica, última classificada do campeonato com apenas três pontos, foi o grande passo e desafio da minha carreira. Sem querer entrar nos auto-elogios, parece-me um risco que poucos correriam.

As mais recentes declarações de Pinto da Costa, que o defendeu e elogiou, foram importantes para si?

Acho que este FC Porto nem sequer se permite a ser um alvo de críticas, porque tem sido uma equipa competente e tem cumprido com todos os seus objectivos. Fui sujeito a críticas após o jogo com o Guimarães, mas por outros motivos. Disseram que era um homem incapaz de lidar com a pressão, que era incoerente, mas refuto completamente isso. Acho que as declarações do presidente surgem na sequência da intolerância demonstrada por determinadas pessoas.

Era pouco conhecido há um ano: o que mudou na sua vida desde que chegou ao FC Porto?

Lembro-me das datas importantes na minha carreira: rescindi com o Inter a 13 de Outubro; no dia seguinte fiz o primeiro treino pela Académica, e a 18 de Outubro o primeiro jogo frente ao Portimonense. Foram datas que significam muito para mim, num ano explosivo. E foi explosivo por aquilo que a Académica fez como grupo e que me permitiu chegar até aqui. Na minha vida pessoal mudou pouco. Se calhar, lá em casa estão mais exigentes comigo nas tarefas familiares, porque agora existe uma maior proximidade. Quando estava em Coimbra, estava mais afastado deles. Agora estou mais próximo, algo que me proporciona um bem-estar emocional, mas também social, por estar no clube onde estou e na cidade onde cresci.

Mas, se calhar, agora já não pode tomar um café com tranquilidade...

Isso é natural e indiferente. Não me causa distúrbios...

PERGUNTA O JOGO

Vítor Baía referiu que se tivesse feito carreira no Benfica ou no Sporting teria outra projecção. Acha que esta ideia também se pode aplicar a si, ou seja, que teria outro tipo de projecção na eventualidade de estar a realizar este arranque de temporada num desses dois clubes?

O FC Porto foi contratar-me à Académica e, neste caso, juntou-se o treinador com o adepto do clube, num facto que não é inédito. Ao longo dos últimos anos, parece-me que mudaram mais jogadores do Benfica e do Sporting para o FC Porto do que o contrário. Isto para dizer que, sendo assim, ou eles procuram prestígio, títulos ou um ambiente diferente. Na geração do Vítor Baía, o FC Porto ganhou um número considerável de títulos, com um ambiente mais fechado, e que é a imagem de marca deste clube. O FC Porto protege-se do que acontece à sua volta, com os benefícios que a geração do Vítor Baía bem conhece

Ele sabia: a intuição sobre uma má arbitragem

O FC Porto queixou-se, até ao momento, de duas arbitragens, em Guimarães e agora em Istambul. Por isso, surgiu a pergunta: qual foi a pior? Villas-Boas contornou a questão. "Não são comparáveis. Quando li pela primeira vez o nome do árbitro para o encontro com o Besiktas, tive uma intuição de que algo iria correr mal. Não sei porquê, mas senti-me desconfortável. O Maicon foi bem expulso, se bem que ele poderia recuperar a posição e o Helton ainda sair ao lance; se o árbitro entendeu que o Maicon era o último defesa, então parece-me uma decisão correcta, apesar de ter dúvidas se o impacto foi suficiente para fazer cair o adversário. De resto, o golo anulado ao Falcao é ridículo, nem é fora-de-jogo, nem é falta; e o penálti parece-me demasiado evidente: pode discutir-se se é dentro ou fora-da-área, mas parecem-me erros demasiados graves, sobretudo para uma equipa de arbitragem que é constituída por um número exagerado de árbitros. São muitos, mas mesmo assim não conseguem tomar decisões correctas. Isso é que me parece grave. Agora, comparar as duas arbitragens não me parece justo nem correcto", referiu.

"Hulk? Quem o quiser terá vida difícil"

Hulk tem assumido um papel preponderante. Acredita que é um jogador inegociável em Janeiro?

O Hulk tem sido um jogador potenciado por um colectivo que está forte e, quando assim é, os jogadores descobrem e potenciam características que até pensavam não ter. Se calhar, o Hulk está a ser potenciado de uma forma diferente do que aconteceu nos últimos anos. Quanto a Janeiro, não sei o que pode acontecer... A única coisa que sei é que o Hulk tem uma cláusula de rescisão inatingível e que qualquer clube que queira negociar terá vida muito difícil. O FC Porto nunca prescinde dos seus talentos de uma forma fácil. Saíram daqui muitos jogadores, valorizados por equipas fortes e ganhadoras, mas não sei se acontecerá o mesmo com Hulk, em Janeiro ou no final da época.

Não teme que seja difícil lidar com a sua ausência em jogos futuros?

Tivemos dois jogos extremamente importantes sem o Hulk e realizámos grandes exibições: 3-0 ao Beira-Mar e Genk. Posso partilhar uma conversa que tive com os jogadores há uma semana: disse-lhes que só um colectivo forte é que potencia as características individuais. E isso também acontece nas vivências de treino, porque só novas experiências e novos hábitos potenciam novas características. E não é só o Hulk. Aliás, são quase todos os jogadores. Tiveram a oportunidade de ver uma quantidade enorme de jogadores em acção com o Limianos e a maior parte das pessoas ficou perplexa com o que viu. Aliás, ficaram tão perplexos que se permitem dizer que o FC Porto tem um plantel como nunca teve. Mas, se calhar, já teve plantéis tão fortes como este, só que não estavam potenciados. Jogadores de top fazem um treinador top e um clube de top dá-lhes prestígio.

Acha que o FC Porto teria sido campeão na última época se o Hulk não tivesse sido castigado?

Provavelmente sim. Hulk esteve suspenso durante um número anormal de jogos e penso que, com ele, o FC Porto teria ameaçado o campeonato de outra forma. Se não me engano, quando ele foi castigado, o FC Porto estava a cinco pontos do Benfica, uma margem perfeitamente recuperável. Não quero dizer que o Hulk levaria o FC Porto ao título, mas podia ter feito a diferença na equipa. E o Sapunaru também.

Fucile de fora por opção

Fucile viajou para a Turquia, mas acabou por assistir ao encontro na bancada. Villas-Boas refutou qualquer problema com o internacional uruguaio, tendo aproveitado para explicar a opção. "Não há problema nenhum com ele. Foi apenas uma opção estratégica. Levei 19 jogadores para Istambul e entendi que, para aquele jogo, o Ukra me podia ser mais útil do que o Fucile. Tinha o Otamendi no banco, que me poderia fazer o lado direito da defesa, mas também o esquerdo. Por isso, naquele jogo, decidi prescindir de uma opção no banco para as alas da defesa. E isso foi explicado ao Fucile", afirmou.

Pouco descanso antes do Benfica


André Villas-Boas já vai planificando o clássico com o Benfica. Ontem, abordou a questão relacionada com o tempo que separa o jogo entre o Besiktas, no Dragão, e o clube da Luz. "Depois da quarta jornada da Liga Europa, vamos ter apenas 48 horas de descanso antes da partida com o Benfica. É um tempo curto, mas também me parece claro que transferir um clássico para segunda-feira não seria uma boa opção", explicou. O treinador do FC Porto deixou ainda elogios para o Leiria, o adversário de amanhã. "Está a fazer um campeonato excelente, é quinto classificado com três vitórias. Teve agora duas derrotas para as Taças, mas vai criar-nos dificuldades", adiantou.



in "ojogo.pt"

Sem comentários: