Ponto 1: a Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do FC Porto teve lucro pela quarta temporada seguida, enquanto as do Benfica e do Sporting acumularam prejuízos pelo segundo ano consecutivo. Ponto 2: na época do regresso aos títulos, o Benfica aumentou em larga escala as receitas e as despesas. Ponto 3: Benfica e FC Porto começam a distanciar-se do Sporting, quer ao nível de receitas, quer de despesas.
Estas são três das principais conclusões que se podem retirar da análise comparada dos relatórios e contas enviados pelas três SAD à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e que foram publicados nas últimas semanas.
Comparar as contas dos três grandes clubes portugueses é mais difícil do que seria imaginável quando se fala de sociedades cotadas em bolsa. É que as contas reveladas pelas três principais SAD dizem respeito a universos diferentes, porque uma inclui quase todas as empresas do grupo (Benfica), outra quase todas mas não a totalidade do estádio (FC Porto) e outra exclui quase todas as restantes empresas do grupo (Sporting).
O PÚBLICO centrou-se, por isso, naquilo que é comparável: o universo das SAD, deixando de fora os valores das outras empresas do grupo (consolidado).
A primeira conclusão é que só o FC Porto garantiu lucros na época passada. Um valor baixo (400 mil euros) e “só possível graças a receitas extraordinárias como a vendas de jogadores”, como destaca Hélder Varandas, especialista em finanças do futebol — a SAD portista, no entanto, só no próximo exercício incluirá os valores das vendas de Bruno Alves e Raul Meireles.
Já o Benfica — e mesmo com um aumento considerável de receitas e a venda de Di María (a transferência de Ramires só será contabilizada em 2010/11) — teve um prejuízo de 20,3 milhões de euros. É certo que o clube da Luz não contou na temporada passada com as importantes receitas da Liga dos Campeões, mas os “custos [65,4] são enormes”, diz Hélder Varandas.
Modelo insustentável
A situação do Sporting é ainda mais preocupante. Mesmo tendo custos bastante inferiores aos dos dois rivais, a SAD de Alvalade apresentou o maior prejuízo: 26,5 milhões de euros. Hélder Varandas sublinha que o clube teve de partir para a reestruturação financeira, para sair de uma situação de capitais próprios negativos (vulgarmente definida como falência técnica).
E se é verdade que nos custos e receitas da época passada, a distância que separa o Sporting do FC Porto é praticamente igual à que separa portistas do Benfica, uma análise mais larga no tempo mostra FC Porto e Benfica a alternarem na liderança das receitas e o Sporting a ficar para trás. O clube de Alvalade ressentiu-se não só da ausência da Liga dos Campeões, mas também da quebra nas receitas de patrocínios e de bilheteira.
“Mais duas épocas assim e o Sporting pode começar a aproximar-se mais do Sp. Braga e V. Guimarães que do Benfica e FC Porto”, avisa Varandas.
Apesar de algumas diferenças, os clubes continuam a ter nos direitos televisivos, bilheteira e patrocínios as principais receitas fixas. Ao que se junta a venda de jogadores, algo particularmente importante no FC Porto, que tem sido o “grande” a explorar mais esta vertente.
A SAD portista, por outro lado, é aquela que gasta uma maior quota dos proveitos operacionais em salários (77 por cento), contra 68 do Sporting e 65 do Benfica.
Será este um modelo sustentável? “Acho que não é. Os clubes têm de ter cuidado com aumentos de endividamento. A dada altura, gastaram mais do que tinham e agora pagam muitos juros, numa altura em que eles estão baixos. E vão subir”, alerta Hélder Varandas, considerando que é preciso actuar na despesa e “inventar receitas”: “As receitas televisivas são importantes. O Benfica anda atrás disso para resolver o seu problema”, diz, apontando ainda a cedência de direitos das apostas desportivas como outro caminho.
in "publico.pt"
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