sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Vai uma partida de Playstation, André?

A visita do FC Porto a Moreira de Cónegos, para a quarta eliminatória da Taça de Portugal, vai proporcionar o reencontro de André Villas-Boas com um amigo de longa data. Jorge Lopes pode ser desconhecido para a maioria dos adeptos portistas, mas não para o treinador do líder do campeonato. Aliás, também nem devia ser desconhecido para os adeptos ferrenhos do FC Porto. Porquê? O defesa-esquerdo do Moreirense foi o último capitão do FC Porto B, antes da extinção da equipa, e também foi dos poucos jogadores, nos últimos anos, percorreram todo o trajecto da formação portista. Ao todo, foram 14 anos (o outro foi Fábio Espinho). "Costumava dizer que só o Baía tinha mais anos do que eu no clube", brinca Jorge Lopes. Ora, foi nessa trajectória no FC Porto que conheceu e trabalhou com André Villas-Boas. No domingo a amizade vai ser posta de parte durante 90 minutos.

De André Villas-Boas, o defesa-esquerdo guarda muitas recordações. "Quando ele chegou ao FC Porto eu já lá estava. O André era adjunto do José Rolando na equipa de iniciados, da qual eu fazia parte. Tínhamos uma boa relação e continuou depois nos juvenis, onde ele também era adjunto. No entanto, orientou a equipa em alguns jogos. Depois ele passou a observador, mas fomos falando", conta Jorge Lopes.

Nos escalões jovens há muitos estágios e foi neles que o jogador do Moreirense conheceu melhor Villas-Boas. "Jogávamos muitas vezes Playstation. Ele não jogava nada e eu ganhava sempre. Não lhe valia saber muito de tácticas. Vendo que nunca me ganhava, acho que foi nessa altura que percebeu que tinha de ser treinador principal", diz divertido a O JOGO.

E quando a conversa chega à actualidade, Jorge Lopes não disfarça uma dose de orgulho por, afinal de contas, já ter trabalhado com o actual treinador portista. "Não tenho dúvidas de que vai ser campeão de Portugal. E também pode vencer a Liga Europa, mas aí já são precisos mais factores, como alguma sorte nos sorteios. Como adepto da modalidade - também sou portista, embora no domingo vá fazer uma interrupção -, o FC Porto pratica o futebol mais atraente. Não é apenas pelos golos, mas também pelo que fazem sem bola. Toda a estrutura da equipa a movimentar-se, como um bloco, é especial. E isto tem tudo a ver com André Villas-Boas, um treinador atento aos pormenores, à organização táctica, ao posicionamento, à pressão e com uma relação especial com os jogadores. Ele é mais um naquele grupo e basta ver como assiste aos jogos, em pé e sempre a gesticular, para se perceber que não cultiva aquela imagem de distância entre um treinador e um jogador", explica Jorge Lopes. O jogador do Moreirense deixa para o fim aquele que considera ser a característica essencial de Villas-Boas. "Trabalha muito bem o aspecto motivacional. O FC Porto troca jogadores de semana para semana e não se nota uma equipa pior. Não se nota no rendimento. Isso deve-se aos factores motivacionais. Um jogador que não joga sabe que pode ser um elemento importante na equipa. A gestão é essencial e não há azia no balneário. Repare-se também no rendimento do Belluschi de uma época para a outra. Só vejo um treinador igual ao André e não é preciso dizer quem é."

"O Moreirense não tem nada a perder na Taça"

A cada fim-de-semana há uma equipa que pode fazer história no futebol português. A que ganhar ao FC Porto, evidentemente, o que ainda nenhuma conseguiu. O Moreirense é o próximo candidato e Jorge Lopes encontra razões para o sucesso. "A nossa ideia é simples. Com este sorteio não temos nada a perder na Taça de Portugal, ao contrário do FC Porto. Perder com o Moreirense é que seria anormal para o FC Porto. Por isso, a nossa motivação está ao máximo", refere Jorge Lopes. Ainda à procura da melhor forma física, porque só chegou ao Moreirense em Setembro e depois ainda fracturou a mão esquerda - no treino de anteontem levou um pontapé no nariz -, Jorge Lopes não deve jogar, mas confia nas capacidades da equipa que actua na Liga Orangina (10º classificado). "O FC Porto ainda não perdeu e nós ainda não perdemos em casa [quatro vitórias e um empate]. O Moreirense tem uma equipa forte e experiente. As surpresas existem e pode acontecer uma no domingo. Hulk? O FC Porto não é só o Hulk. Ele faz o que faz porque tem cobertura da equipa", diz Jorge Lopes.

Cech estragou-lhe o sonho

A ideia já lhe passou pela cabeça algumas vezes. Nesta altura, Jorge Lopes podia estar na equipa principal do FC Porto e a ser orientado pelo treinador de quem se tornou próximo nas camadas jovens. "Fiz toda a formação no FC Porto ao longo de 14 anos, dez deles como capitão, com elogios nos finais de cada época e sempre sem pedir para ficar. Além disso, sou defesa-esquerdo, uma posição deficitária em qualquer clube. Mas tive o azar de terminar contrato na época em que o clube acabou com a equipa B [último ano da formação]. Logo, o FC Porto não tinha que me colocar. Fui ao Torneio de Toulon com a selecção e quando cheguei tinham contratado o Marek Cech. À partida, um jogador português é melhor do que um eslovaco, mas o futebol é assim", conta. Jorge Lopes já jogou no Marco, União da Madeira, Vianense, Aliados de Lordelo e AEK de Larnaca (Chipre) antes de chegar ao Moreirense.

Recordações de dragão

Primeira lembrança: Puxão de orelhas

Quando André Villas-Boas chegou aos iniciados do FC Porto para ser adjunto de José Rolando, Jorge Lopes já lá estava. Então, qual foi a primeira coisa de que se lembra o jogador do Moreirense do adjunto loiro e sorridente? "Estávamos a fazer um exercício de organização defensiva no campo do Cerco. Ele chamou-me a atenção devido a um pormenor de que já nem me lembro. Era um pormenor, mas ele estava atento. Percebi logo ali o interesse dele pelo futebol."

No banco com Anderson
A estreia ali tão perto

Na época de 2004/05 era normal Jorge Lopes treinar com a equipa principal, junto de nomes como Diego, Luís Fabiano, Quaresma e Vítor Baía. Na temporada seguinte, com Co Adriaanse, esteve mesmo perto da estreia. "Fui convocado para o jogo amigável com o Dínamo de Moscovo [4-1], mas não saí do banco. Eu e o Anderson", conta. A estreia não aconteceu e, passado algum tempo, terminou a ligação com o FC Porto.

Enviada a Villas-Boas
Boa sorte por sms

Nos últimos tempos, Jorge Lopes não tem falado com André Villas-Boas e promete só o fazer depois do jogo entre o Moreirense e o FC Porto. "Vamos colocar a conversa em dia, mas só depois do jogo. Vou desejar-lhe sorte para o resto da época, claro." O defesa-esquerdo confessou também ter trocado mensagens quando André Villas-Boas foi para a Académica. "Não enviei logo, mas só depois dos primeiros jogos e desejei-lhe que fizesse um bom trabalho. Fiquei contente ao ver os bons jogos da Académica", diz o jogador do Moreirense.

in "ojogo.pt"

Sem comentários: