segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um minuto que desfez o fantasma da ópera

Uma orquestra afinada com a bola nos pés é capaz de coisas assim: em apenas quatro toques fabrica um golo. Na verdade, e se calhar por ter sido um bocadinho à imagem do que costuma fazer o Barcelona, esse acabou por ser mais do que um grande golo: bem desenhado com os pés, foi também um momento decisivamente terapêutico para o FC Porto, reforçando a tranquilidade de uma equipa que se apanhara a ganhar um minuto antes, ainda que à boleia de um lance confuso. Aliás, foi tudo muito rápido: o lançamento de Fucile, a corrida de Varela, o toque final de Falcao; os protestos da Naval a reclamar a legalidade, a bola ao centro e a quase imediata cavalgada a quatro pés, da qual resultaria o segundo golo. De repente, em poucos segundos, e num momento crítico para qualquer equipa, mudava tudo. Desaparecia de vez o fantasma de um empate ao intervalo, o que, pelo histórico de ópera, assobios e afins que marcou a semana, poderia tornar-se penoso para o FC Porto. Os aplausos foram firmes, e em dose dupla.

Até chegarem esses aplausos, houve muito suor. E alguns suores frios também. Apesar do regresso de Falcao, os portistas começaram por repetir pecados recentes na finalização: era quase tudo bem feito até à área, mas mantinham-se ligeiros desacertos no último toque. Faltava ou força ou direcção aos muitos remates que aqueciam as mãos de Salin. Essa era apenas uma parte da história, porque a Naval também emperrava o suficiente de outra maneira. Bem organizados defensivamente, os figueirenses procuravam asfixiar as linhas de passe no meio-campo, falhando apenas na transição de ataque para complementar o bom trabalho de bloqueio ao adversário. De resto, numa das poucas vezes que contrariou essa incapacidade, a Naval conseguiu mesmo assustar: Fábio Júnior sentou Otamendi, mas Marinho precipitou-se no remate. O Dragão foi comedido a dar sinais de intranquilidade, mas a verdade é que respirou com outro fôlego por ter chegado ao descanso com uma vantagem inesperadamente confortável.

Já se tinha dito que este foi um FC Porto com Falcao (e também com Varela), mas faltou dizer que, por mais que Villas-Boas se esforce para tentar contrariar a ideia, com El Tigre as coisas são mesmo diferentes. Falcao entende-se de olhos quase fechados com Hulk e os dois dividiram, outra vez, a festa. Se juntarmos Varela a esse duo, então reforça-se um dado impressionante: 30 dos 39 golos portistas neste campeonato foram assinados por eles.

Apanhado em desvantagem, Mozer lançou João Pedro e Michel Simplício, recuando Marinho e Edivaldo para o meio. Quase nem teve tempo de experimentar a eficácia dessa fórmula, porque, enquanto Orestes esfregava um olho, Hulk aproveitava a passadeira que lhe foi estendida pelo central para ampliar a vantagem. Era o ponto final definitivo no jogo e um convite para o FC Porto apostar na arte, com novos sinais de entendimento perfeito entre Hulk e Falcao, a dupla do mata e esfola que vai carregando o ataque às costas. Villas-Boas ainda teve tempo de acrescentar James, rodar Fernando e lançar Mariano, mas, até ao fim, não se veria mais do que uma desconcentração de Fucile a originar um penálti sobre Gomis que o próprio Gomis se encarregou de marcar.

Um golo escasso, mas histórico. Afinal de contas, foi o primeiro da Naval em casa do FC Porto. Para a história do campeonato fica outra coisa: a certeza de uma liderança folgada dos portistas, que riscaram o primeiro obstáculo da segunda volta na corrida para o título. A próxima paragem é em Aveiro.

in "ojogo.pt"

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