A crise do Sevilha parece ter sido feita à medida de servir ao clube espanhol como motivação para o jogo desta noite com o FC Porto. Os jogadores espanhóis prometem transcender-se e ninguém esconde que o confronto com os portistas é a oportunidade de redenção que todos esperavam para mostrarem que ainda estão vivos e aos pontapés. André Villas-Boas, por seu lado, não abana nas convicções. Mesmo admitindo que se trata de um confronto entre duas equipas que faziam mais sentido na Liga dos Campeões, mesmo reconhecendo o inegável valor do adversário, mesmo esperando um Sevilha motivado pela necessidade de salvar a época, o treinador do FC Porto promete não mexer na estrutura de uma equipa que se tem "saído bem contra adversários que querem transcender-se quando jogam contra ela".
O FC Porto está a fazer um campeonato excepcional; o Sevilha precisa de ganhar para salvar a temporada. Quem está mais motivado?
Parece-me claro que este é um jogo mais importante para o Sevilha. É uma equipa que está preocupada com situação actual e quer mudá-la. Fizeram bom jogo com o Racing de Santander, mas acabaram por sofrer um golo no último minuto que os abalou. Querem rebelar-se contra esse estado de coisas e o FC Porto surge como equipa ideal para os jogadores se transcenderem. Por outro lado, não é a primeira vez que defrontamos equipas com este sentimento, e temo-nos saído bem nestas situações. Esperamos conseguir o mesmo com o Sevilha, uma equipa forte.
Mas não teme essa motivação do Sevilha, que vê a Liga Europa como tábua de salvação?
Não me cabe a mim analisar o que se passa com o Sevilha. Em qualquer situação, é sempre uma equipa muito competitiva, com um rico historial nesta competição e que pode colocar-nos problemas. Venceu duas vezes a Taça UEFA, conquistou uma Supertaça Europeia e está sempre bem nesta competição. O sentimento que temos é que este é um jogo de Champions, são duas equipas muito fortes e o que temos é a certeza de um grande jogo.
Admite mudar a identidade da equipa, considerando que a eliminatória se disputa a duas mãos, com a segunda a ser disputado no Dragão?
Normalmente costumo dizer que quem muito se quer transcender, de vez em quando comete erros penalizadores. Procura-se de forma intensa a vitória por um lado, mas cometem-se erros por outro. O FC Porto, como todos sabem, tem uma estrutura fundamental em que acredita e que se tem mantido desde o início da temporada. Confiamos muito na nossa organização e, pelo menos nesse aspecto, haverá poucas alterações.
Falcao e Álvaro Pereira em mais um mind game
André Villas-Boas sabe que num jogo entre iguais, todos os trunfos contam e, por isso mesmo, não quis abrir o jogo quanto à titularidade de Falcao e Álvaro Pereira esta noite. O regresso dos dois sul-americanos à equipa tem alimentado a especulação ao longo dos últimos dias e o treinador do FC Porto fez questão de deixar a dúvida a fermentar também na cabeça dos jogadores do Sevilha. "Ainda há um treino [conferência foi antes...]. É mais uma oportunidade para sentirmos como estão dois atletas que se reintegraram há quatro dias, para tirarmos conclusões e decidirmos o que vai acontecer." Ora, apesar do regresso de dois jogadores considerados fundamentais, o treinador do FC Porto recusa a ideia de que se apresenta em Sevilha na máxima força: "Falta-nos o Rafa que sofreu uma lesão terrível numa altura fundamental da época", frisou. Ainda assim, sempre foi admitindo que "quantos mais melhor". "A recuperação de Falcao e Álvaro Pereira dá-nos possibilidade de escolhermos um onze mais forte. Estamos felizes com o seu regresso, esperamos o do Rafa e queremos que mais ninguém passe pela mesma situação."
"Mudaram muito depois da derrota com o Braga"
O triunfo épico do Braga no Rámon Sánchez Pizjuán no play-off da Liga dos Campeões, que garantiu o acesso dos minhotos à liga milionária e o afastamento da equipa andaluz, continua bem fresco na memória dos espanhóis. Foi em castelhano que a pergunta chegou: analisou o jogo do Braga para preparar o confronto com o Sevilha?
"Não muito", respondeu Villas-Boas. "Aquela equipa do Sevilha era muito diferente e um treinador diferente. Manzano fez coisas importantes e, apesar de não estar como quer no campeonato, a equipa é boa e a organização é boa. Para avaliá-lo e ao seu trabalho é melhor esperar pelo final. De qualquer forma, não me serve de muito o jogo do Braga enquanto referência. Nessa altura, o Sevilha não tinha muito trabalho com o António Alvarez e agora tem mais com Manzano, o colectivo é diferente e faz coisas diferentes."
Que qualidades destaca no Sevilha?
Como qualquer equipa, vale pelo colectivo, mas as contratações, em Janeiro, do Medel e do Rakitic trouxeram dinâmica e mudaram um pouco a sua forma de jogar. Conhecíamos melhor como se comportava antes, com Romaric e Zokora. Não sei como vai jogar, mas os dois jogadores novos trazem imprevisibilidade. O poderio atacante é evidente. Kanouté e Fabiano são dois pontas-de-lança muito fortes e com movimentos antagónicos, um mais curto e outro mais profundo. O Kanouté gosta de jogar entre linhas enquanto o Fabiano testa a profundidade da defesa. Mais atrás, a experiência de Fernando Navarro e Escudé é muito importante na defesa.
Villas-Boas já foi muito feliz em Sevilha...
O regresso a Sevilha, palco da conquista da Taça UEFA em 2003, numa altura em que André Villas-Boas integrava a equipa técnica liderada por Mourinho não passou em claro na comitiva portista. "Quem faz parte da estrutura há alguns anos, como acontece com o Antero Henrique [director geral] e com o Jaime Teixeira [do departamento de comunicação], percebe que esse foi um período maravilhoso, mas os jogadores também sentem importância do que se passou aqui. Estivemos em Viena que também tinha esse simbolismo e conseguimos corresponder com uma boa exibição", recordou, apesar de relativizar a importância dos aspectos emocionais na preparação do jogo. "Não construímos a nossa motivação à volta disso, porque a motivação é ganhar e, especialmente, consegui-lo frente a um dos adversários mais complicados que nos podiam calhar no sorteio."
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