sexta-feira, 11 de março de 2011

Calor latino derrete gelo

O FC Porto deu um passo de gigante em direcção aos quartos-de-final da Liga Europa, limitando-se a cumprir uma série de tradições mais ou menos enraizadas no clube. A tradição de vencer todos os jogos que realizou fora de casa na competição esta época, por exemplo. A tradição de não sofrer golos nos jogos com o CSKA, a de ganhar aos russos nos jogos realizados em Moscovo e até a de se dar bem no frio, que é mais recente. Tudo boas tradições que colocam o FC Porto numa posição bastante confortável para o jogo da segunda mão. E, contudo, a equipa de André Villas-Boas não gozou desse conforto todo durante uma parte significativa do jogo de ontem, muito por culpa do CSKA.

André Villas-Boas surpreendeu. Nem tanto pela colocação de James ao lado de Hulk e Falcao no ataque, em detrimento de Varela, mas mais pela entrada directa de Guarín para o meio-campo, onde foi ocupar o lugar de Belluchi que, por sinal, também tinha dado a vez ao colombiano no jogo com o Guimarães, com bons resultados. Uma opção que pode encontrar explicação na forma como o FC Porto abordou o jogo de ontem. André Villas-Boas tinha dito na conferência de Imprensa da véspera que queria tomar conta das operações, intenção que tratou de concretizar fazendo a defesa subir no terreno até encostar praticamente na linha do meio-campo. O objectivo seria limitar os espaços no meio-campo do CSKA, antecipando a recuperação de bola que, na véspera, o treinador do FC Porto também tinha dito querer na posse da sua equipa.Ora, era aqui que a entrada de Guarín ganhava mais sentido, sendo o colombiano um médio de características mais defensivas do que Belluschi, mais activo na recuperação da bola. Curiosamente, seria no ataque que o colombiano se revelaria mais decisivo, ao marcar o único golo da partida.

Antes disso, porém, é de sublinhar como um facto que o FC Porto assumiu o domínio do jogo, mas durante algum tempo de forma quase inconsequente e com a aparente complacência dos russos, dispostos a ceder a iniciativa para explorarem o enorme espaço nas costas dos defesas portistas. Para contornarem o problema do superpovoamento do meio-campo, os russos optaram muitas vezes pelos lançamentos em profundidade, solicitando a velocidade dos homens da frente e o facto é que, pelo menos durante o primeiro tempo, foram do CSKA as melhores e mais frequentes oportunidades de golo. Obrigando a defesa portista a jogar quase sempre em contrapé, recuando enquanto defendia, e explorando a capacidade técnica e a visão de Honda para projectar as diagonais de Doumbia e Vágner Love nas costas dos centrais portistas, os russos criaram uma boa mão-cheia de oportunidades que a concentração de Otamendi, Rolando e Helton anularam.

Mais forte na pressão sobre a bola e na antecipação dos lances de profundidade no arranque do segundo tempo, o FC Porto conseguiu transformar o domínio inconsequente da primeira parte num controlo efectivo das operações, limitando o municiamento dos avançados da equipa russa e aproximando-se decisivamente da baliza de Akinfeev. Mais ainda depois da troca de James, talvez o jogador menos adaptado às condições do terreno, por Varela, muito mais assertivo.
Ora, seria precisamente de um lance de entendimento entre o extremo e Guarín que nasceria o único golo do jogo. Os russos reagiram mal à desvantagem e as boas entradas de Rodríguez e Souza para os lugares de Guarín - não aguentou as cãimbras provocadas pelo esforço de jogar em sintético - e Hulk apressaram o eclipse dos russos e até podiam ter resultado no dilatar da vantagem portista.

in "ojogo.pt"

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