sábado, 23 de abril de 2011

"Vai ser assim até ao fim"

Às três e meia da manhã de quinta-feira, o autocarro do FC Porto entrava finalmente no Dragão, concluindo a viagem que o trouxera da Luz. A festa, que tinha começado no relvado, prolongara-se por mais de 300 quilómetros, desta vez sem os acordes de Helton. Mas só faltou mesmo o violão, porque, à chegada, Helton estava lá. Não no autocarro, mas junto à porta que dá acesso ao corredor dos balneários, recebendo a comitiva com abraços. "Não tinha como dormir", justificava-se ele. "Queria comemorar esta vitória tão importante, que foi o reflexo de um espírito colectivo e de um sentimento de família FC Porto". Resumindo: o travesseiro podia esperar umas horas, o capitão não. "Quando acontece ultrapassarmos uma barreira como esta, temos de estar unidos na comemoração, porque trabalhamos todos pelo mesmo objectivo", diz, reforçando a ideia com um exemplo concreto que lhe parecia duplamente apropriado. "Veja-se o caso do Mariano: não é por ele estar aqui ao lado, mas, apesar de não jogar tanto este ano, tem contribuído muito mais. O trabalho no balneário, além do que faz no relvado, revela o profissional que é."

Mariano, também ele capitão, estava de facto ali ao lado, a ouvir tudo. E também testemunhara do banco a passagem à final da Taça. "Não nos cansamos de ganhar. Eu gosto de ganhar, já estou habituado", ri-se o argentino, sem deixar passar a provocação quando sugerem que se calhar já terá perdido a conta ao que ganhou. "Não perdi, não! Sei muito bem o que ganhei desde que comecei a carreira e o que ainda quero ganhar. Quero sempre mais." Quer ele e Falcao.
O colombiano junta-se à conversa, transformada subitamente numa cimeira de capitães. Todos juntos, com o autocarro ainda próximo e a frase transportada em letras garrafais a servir de cenário. "Este é o nosso destino", lê-se nos vidros. Os três aceitam sem reservas deixarem-se fotografar para O JOGO junto desse lema, e Falcao até reforça a mensagem. "É esta a mentalidade de todos; é neste sentido que nos tentam incentivar. Já conseguimos o primeiro objectivo, que era o campeonato, e demos um passo importante na Taça ganhando ao Benfica no seu estádio. Estamos com muitas 'ganas' na Liga Europa e com vontade de conquistar tudo o que ainda temos pela frente." Mariano é rápido a completar a ideia. "Para nós, isto ainda não acabou". Falcao prossegue a deixa: "Prometemos há tempos que nunca faltaria esforço em todos os jogos e acho que temos mantido essa promessa. Foi um pacto que fizemos com os adeptos e que tem sido cumprido mesmo em situações adversas, como era o caso desta desvantagem com o Benfica. Vai ser assim até ao fim; não podemos perder a cabeça."
Pergunta-se aos três se a história desta época não lhes parece demasiado perfeita, considerando a coincidência de até haver o maior rival ligado às conquistas. "Peço desculpa, mas não digo que as coisas foram fáceis. Este percurso comprova a história da humildade. E sabemos que a humildade não está ao alcance de todos", defende Helton. Mariano dá corda à pergunta. "Esta época parece-me a prova de que os sonhos viram realidade", diz. Falcao vai pelo mesmo caminho, concordando com a ideia de guião perfeito. "Sim, é verdade. E continuamos a sonhar, assim como os adeptos. Sonhar não custa nada."
Já passava das quatro da manhã. Sonhar (e dormir...) parecia uma boa ideia.

Mensagens de capitão

"Gostaria de lembrar que torcer pelo FC Porto qualquer um pode, mas ser Porto não está ao alcance de qualquer um. Ser Porto é dedicação; é entrega total, como se viu também da parte dos adeptos, que são o nosso 12º jogador"
Helton

"Gostaria de dizer aos meus companheiros que me sinto orgulhoso por fazer parte desta equipa que tem feito um trabalho que há-de ficar na história e nunca me esquecerei. Vou ter o que contar aos meus filhos e netos. Faltam dois títulos e não podemos deixar passar essa oportunidade"
Falcao

"Ser capitão é ser mais um. Não há ninguém dentro dos 24 que somos agora, ou dos 26, contando com o Castro e o Ukra, que tenha feito um trabalho mais importante. Todos o fizemos. Lutamos por jogar, não vamos ser hipócritas ao ponto de dizer que não queremos jogar, mas o interesse maior é fazer do FC Porto vencedor"
Mariano

Helton

"Não sou jogador de ténis..."

Esta é a melhor época de Helton? "Não consigo ser perfeito se não tiver o contributo dos outros; não sou jogador de ténis, esses é que fazem tudo sozinhos. Mas, claro que o êxito colectivo é feito também da soma de êxitos individuais. Concordo que as minhas defesas têm sido importantes, mas há sempre mais 10 a ajudar-me. Começa no Falcao, no Hulk, no Varela ou Cristian. Acredito que sim, sem falsas modéstias; tem sido uma boa época"

Mariano

"Tivemos 14 gajos que deram tudo"

O comentário de Mariano à vitória na Luz não podia usar palavra mais portuguesa. "Tivemos onze gajos que deixaram tudo em campo. Ou melhor, foram 14 que deram tudo...", diz, entre sorrisos. A época não tem sido fácil para ele. "Estas vitórias compensam", diz. "Há muita coisa que não está à vista dos adeptos, muito esforço por detrás do jogo e recompensado agora"

Falcao

"Volta olímpica em casa do rival é único

Falcao não desdenha ser o goleador da Liga Europa. "Era bom, mas o mais importante é ganhar os torneios", diz. Ganhar tem sido um hábito que o colombiano quer manter, admitindo que as festas na Luz foram especiais. "Dar uma volta olímpica na casa do rival é único, ainda para mais numa situação em que eles tinham uma grande vantagem. Esta reviravolta teve um grande significado para o grupo"

in "ojogo.pt"

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