segunda-feira, 6 de junho de 2011

Alvaro Pereira: "Vai demorar anos para nos darmos conta do que fizemos"

Ainda antes de deixar o Porto para se juntar à selecção do Uruguai, com a qual espera ganhar a Copa América, Álvaro Pereira levou O JOGO ao Estádio do Dragão e passou em revista uma época inesquecível , mas sem deixar de perspectivar o que será a próxima época, que, admitiu, terá o dobro da dificuldade. A ambição, porém, é de repetir os festejos. E o Palito voltou a garantir que não está a pensar em sair.


Está cansado de festejar?

Estou sobretudo feliz, e não há cansaço quando se consegue uma época assim. É uma época de sonho, e vamos procurar desfrutar ao máximo porque isto não acontece todos os dias. Faço um balanço muito positivo porque, além de todas as taças, conseguiram-se outras coisas importantes, como recordes ao nível dos golos e de vitórias, além de termos perdido poucos jogos e conseguindo terminar o campeonato invictos. Esse é um feito notável porque o grupo acreditou sempre em si do primeiro ao último jogo, e essa foi a receita do nosso sucesso.

Tem a consciência de que ajudou a equipa a entrar para a história?

Não. Penso que isso vai demorar algum tempo, alguns anos, para nos darmos conta do que conseguimos. Mas vai ajudar a não relaxarmos. Sou muito ambicioso, mas com cautela; por exemplo, ainda estou a assimilar o feito que o Uruguai conseguiu no Mundial da África do Sul [quarto lugar, depois de ter sido afastado da final pela Holanda]. Oxalá que daqui a 20/30 anos ainda se fale desta equipa. Pessoalmente, a época passada, na qual não ganhámos o campeonato e ficámos de fora de outras provas, foi dura para uma equipa habituada a ganhar muitas coisas. O grupo queria revoltar-se contra isso, e desde o primeiro dia em que falei com o míster André, comuniquei-lhe que o que mais queria era ser campeão.

Já pensou como será o dia em que a equipa perder um jogo no campeonato?

Será um dia normal. Tenho mentalidade ganhadora e não penso em perder, mas se isso acontecer, é preciso lembrar que é apenas um jogo; nada mais.

Estamos no chamado defeso; o Álvaro vai resistir ao assédio do mercado?

Estou tranquilo. Vou para a selecção e depois voltarei com todas as ganas para começar bem a época aqui. Não tenho vontade de sair nem me passa isso pela cabeça, já que estou muito feliz aqui.

É essa a ideia da maior parte dos companheiros?

Não me posso meter na cabeça deles, mas é a minha, da minha esposa e da minha filha. Estamos todos muito felizes no FC Porto.

E vai sentir saudades do Cristian Rodríguez na próxima temporada ?

Vou estar com ele agora na selecção e não sei se ele vai sair ou não. Não falei com ele sobre isso. Oxalá recupere da lesão e nos ajude na selecção porque é um excelente jogador e um grande amigo.

"Fazer uma boa Champions é vencê-la"

Álvaro Pereira já fez 14 jogos na Liga dos Campeões, seis dos quais com a camisola do Cluj, o clube que lhe abriu as portas da Europa, no Verão de 2008. A estreia aconteceu a 16 de Setembro, com um triunfo em Roma, e o lateral confessou que até se arrepiou quando ouviu o hino. Por isso, não vê a hora de voltar a participar na maior prova de clubes e diz que não é impossível o FC Porto repetir o feito de 2004. "Temos sempre essa esperança. Falta muito ainda, e é preciso manter a calma. Vai ser um sonho voltar a jogar a Liga dos Campeões. Recordo-me perfeitamente de quando cheguei à Roménia e me estreei na prova. Ouvir aquela música, quando se entra em campo, é impressionante. Temos esse sonho, e porque não? Além de que temos essa espinha encravada do jogo com o Arsenal nos oitavos-de-final", frisou, referindo-se aos 0-5 sofridos em Londres nos oitavos-de-final da época passada. E passar aos quartos-de-final será suficiente para desencravar essa espinha? "Não", atira Álvaro Pereira, explicando: "Fazer uma boa Champions passa por ser campeão da prova. Não podemos ser conformistas", sublinhou. Para tal, o lateral não esconde que seria "importante manter a equipa toda", mas sabe que isso depende dos dirigentes. "Nós só jogamos futebol", lembrou.

O segredo das folgas e o fim das críticas a Villas-Boas

À partida para férias, o médio Souza revelou que nunca tinha tido tantas folgas como esta época. Álvaro Pereira partilha dessa convicção e admite que isso também contribuiu para o sucesso do FC Porto. "Eram uma forma de nos motivar porque sabíamos que se ganhássemos, teríamos direito a uma folga. Alimentou-nos nos jogos porque dizíamos entre nós: 'Vamos lá ganhar porque amanhã descansamos junto da família.' Deu resultado, mas não quer dizer que andámos sempre de folga. Não, elas eram um prémio pelas vitórias", sublinhou. E foram 48 os triunfos ao longo de 2010/11... Números que, na opinião do Palito, são mais do que suficientes para calar a voz de quem criticou a contratação de Villas-Boas. "Especula-se muito quando um treinador chega a um clube desta dimensão. Diziam que era muito jovem, mas demonstrou que é mais do que capacitado e que está à altura dos grandes treinadores mundiais", elogiou o lateral-esquerdo, que não escondeu a vontade de o ver continuar no banco do FC Porto. "Para nós, era importante que ele ficasse, não só ele como toda a equipa técnica, porque já nos conhecemos bem e tivemos sucesso. Estar a mudar seria duro", referiu. Depois do triunfo na Taça de Portugal, não houve discurso de despedida, revelou. "Apenas nos desejou boas férias. Simplesmente isso. E disse para desfrutarmos do descanso e do sucesso alcançado porque ainda não tivemos tempo para o fazer. Ganhámos a Supertaça e começou logo o campeonato; quando fomos campeões, tínhamos a Liga Europa; ganhámos a Liga Europa e havia a Taça de Portugal. E agora as férias. Foi tudo muito rápido e sucessivo", sublinhou.

"Seremos o alvo a abater"

"Isto não é como começa é como acaba". A frase é de Jorge Jesus, proferida em Dezembro de 2010, quando já tinha perdido a Supertaça Cândido de Oliveira, o apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, e estava a oito pontos do FC Porto no campeonato. Já Álvaro Pereira espera que, na próxima época, tudo comece e acabe como nesta: com a equipa a levantar troféus. Ou seja, a ideia é voltar a ganhar ao Guimarães na Supertaça e partir daí para mais uma temporada de sucessos, que termine no Jamor. Mas o lateral sabe que o FC Porto vai "ser o alvo a abater" e que a exigência dos adeptos "vai manter-se alta".


Admite que esta equipa deixou uma fasquia muito alta para a próxima temporada?

É verdade, mas a responsabilidade é a mesma que vou ter agora na selecção depois do quarto lugar no Mundial. Todos vão esperar que o Uruguai vença a Copa América, é esse o nosso sonho e aqui no FC Porto passa-se o mesmo. Todos vão querer que lutemos pela Liga dos Campeões, pelo campeonato, por tudo. Mas vai ser duas vezes mais difícil do que foi nesta época, mas vamos fazer os possíveis. Têm de nos deixar trabalhar. Agora há que ir de férias, descansar, assimilar tudo e depois pensar no que aí vem. Temos que estar conscientes de que se as coisas não começarem bem, não devemos perder a cabeça. Claro que depois de tanto sucesso, uma derrota vai doer mais. Mas teremos de manter a calma porque sabemos qual é o nosso valor.

A exigência dos adeptos vai manter-se. O que podem prometer-lhes?

Esse é um grande desafio e estamos prontos para ele. Vamos fazer os possíveis por voltar a ganhar todas as taças porque somos ambiciosos e queremos sempre mais. Vamos querer ganhar a Liga dos Campeões, o campeonato, tudo, porque nenhum jogador é conformista e uma época passa muito rápido.

Admite que o FC Porto será o alvo a abater?

Sim. Todas as equipas vão jogar a vida ou a morte porque vão defrontar o campeão invicto e o vencedor da Liga Europa. Vai ser um lindo desafio e uma época muito dura.

No início desta época, a vitória na Supertaça foi decisiva para a confiança da equipa e o arranque. Sente o mesmo em relação à próxima?

Pode ser, mas esta época foi especial porque foi contra o Benfica, que era o campeão e apontado como favorito, e porque tínhamos perdido os jogos no Torneio de Paris uns dias antes. Além disso, o grupo estava a reorganizar-se por causa das saídas do Bruno Alves e do Raul Meireles. Vencemos, isso, moralmente, alimentou o grupo e sabíamos que era esse o caminho a seguir. Aí começou tudo. Houve outro momento fundamental que foi a vitória em pólo aquático contra a Académica [risos]. Na altura, questionávamos como íamos jogar ali, mas ainda bem que o fizemos e vencemos.

A ideia é começar como tudo acabou, com um troféu?

Claro que sim. É disso que as pessoas se lembram, dos vencedores.

"Primeira parte no Jamor foi alucinante"

Quatro em cinco títulos, uma época de sonho com um final perfeito: goleada ao Guimarães no Jamor. Um jogo "maluco", bem diferente da final "fechada" de Dublin com o outro rival do Minho. Mas é do triunfo no Estádio da Luz para o campeonato que Álvaro Pereira não se vai esquecer tão cedo.


A vitória no Jamor foi o final perfeito de uma época de sonho?

Sem dúvida. Enfrentámos o jogo com toda a seriedade, a equipa estava um bocado cansada porque tínhamos jogado na quarta e havia os festejos pelo meio. Era preciso mudar rapidamente o "chip" para outra final e voltámos a demonstrar a ambição que nos destacou ao longo da época. Acabámos da melhor maneira a época.

E com muitos golos, que faltaram em Dublin...


Os golos que não apareceram na Liga Europa saíram todos no Jamor. Foi um grande espectáculo para os adeptos e já sabíamos que em Dublin não seria assim, mas fechado, porque uma prova europeia é algo muito importante. Procurámos fazer o nosso jogo, mas o Braga jogou mais precavido, mais fechado, a sair no contra-ataque. Não lhes demos hipóteses, com excepção daquele lance do Mossoró, que graças a Deus o Helton salvou. A partir daí controlámos e até podíamos ter ampliado o marcador. As finais são para ganhar, nem que seja por meio a zero.

No Jamor foram sete golos em 45 minutos...

Foi alucinante, um pouco maluca porque nós marcávamos e eles marcavam logo a seguir. O momento-chave foi quando fizemos o 4-2 e surge a grande penalidade para eles. O Beto defendeu em grande estilo e voltámos a marcar na sequência do canto a favor do Guimarães e isso matou o jogo.

Onde é que a equipa foi buscar forças para um jogo com aquele ritmo, depois de Dublin e da festa?

Estivemos bem porque ao longo da época a equipa foi-se habituando a jogar à quinta e ao domingo, com viagens longas pelo meio, como à Rússia ou à Bulgária. No plano emocional podia ser mais complicado porque era preciso mudar o "chip".

Qual é a melhor recordação da época?

O 2-1 no Estádio da Luz porque venci aí o meu primeiro campeonato. Foi uma sensação que nunca vou esquecer. Ainda para mais na Luz e contra o grande rival.

E o momento mais complicado?

Talvez o 5-0 contra o Arsenal na época passada. Nesta época, foi só quando magoei o ombro e me disseram que tinha de ser operado. Mas ficou tudo bem porque tanto o Rafa, como o Fucile, o Sapunaru ou o Sereno, todos os que entraram estiveram bem e não se notava que faltava alguém em campo. Falou-se muito que a equipa caiu quando não estive eu e o Falcao, mas eu acho que isso se deveu à sucessão de jogos, simplesmente. Em Janeiro e Fevereiro jogaram-se muitas partidas e é normal que o nível baixe um pouco.

"Espero regressar o mais tarde possível e com a Copa América debaixo do braço"

O FC Porto ultrapassou o Benfica no número de títulos oficiais e o Uruguai quer fazer o mesmo em relação à Argentina e tornar-se na selecção com mais Copas América conquistadas. Uma luta que, afinal, já não terá o companheiro Otamendi do outro lado. "Ele quer ganhar, mas não vamos deixar. Há que jogar e trabalhar para ir jogo atrás de jogo. Oxalá ganhemos nós e passemos a ser o país com mais Copas América", atirou. A contabilidade regista um empate a com entre celestes e alvi-celestes. Por causa desta competição, que termina apenas a 24 de Julho, Álvaro Pereira não terá direito a férias. "Espero voltar o mais tarde possível e com a Copa América debaixo do braço. Aconteceu o mesmo na época passada por causa do Mundial e foi tranquilo. Aliás, será o quarto ano em que não tenho férias, já estou habituado. Tenho tempo no futuro, quando deixar o futebol, para as gozar", atirou, explicando que os uruguaios têm vibrado com as conquistas do FC Porto. "Estão muito felizes porque pelo segundo ano seguido jogadores locais vencem a Liga Europa [Forlán ganhou na época anterior pelo Atlético de Madrid]. E a forma como vencemos a Liga teve grande visibilidade. Agradeço a todos os que têm apoiado e vamos tentar dar-lhes uma alegria nesta Copa América", concluiu.

"Sabemos o nosso valor e estamos à altura de qualquer adversário"

Álvaro Pereira não tinha preferência pelo adversário na Supertaça Europeia, mas admitiu que é mais um dos fãs do futebol praticado pelo Barcelona de Pep Guardiola e que tinha algum medo do Manchester, de Sir Alex Ferguson. O confronto está marcado para 26 de Agosto, no Mónaco, e será contra a equipa que pratica um estilo mais parecido com o do FC Porto, de circulação de bola. O lateral diz que os dragões estarão à altura. "Temos de estar preparados quando entrarmos em campo para jogar com o Setúbal, a Académica, o Barcelona ou o Manchester United. Todos os jogos são finais. Sabemos do valor e da importância do Barça, mas também conseguimos coisas importantes e estamos à altura de qualquer adversário. Toda a gente sabe que admiramos o estilo do Barcelona, mas tinha um bocado de medo do Manchester, que é uma equipa de topo", frisou. No entanto, Palito acrescenta outros dados que poderão ter influência nesse encontro. "Temos a Supertaça nacional e o início da Liga antes e não podemos esquecer isto porque é o campeonato que nos dá acesso à Liga dos Campeões".

in "ojogo.pt"

Sem comentários: