Faz hoje 18 anos e pode finalmente assinar pelo FC Porto. Do Paraguai vem cheio de sonhos, como o que viveu com Maradona e companhia
À primeira tentativa apanho Juan Manuel Iturbe em movimento, num autocarro, e a ligação não é das melhores. Depois de uns "holas" insistentes do outro lado do Atlântico percebo que a minha voz mal se ouve. Depois lá se percebe qualquer coisa. Missão cumprida. "Ligue-me na sexta-feira, agora estou a viajar com a equipa e não é a melhor altura", consigo ouvir ao telefone.
A conversa adia-se e no decurso dos quatro dias de espera o Cerro Porteño, a equipa paraguaia onde joga o avançado que vai reforçar o FC Porto, perde 1-0 com o Santos na primeira mão das meias-finais da Taça Libertadores da América - na quarta-feira empatou e foi eliminada. Finda a espera, nova tentativa. Há cinco horas de diferença entre Portugal e o Paraguai, mas à segunda ainda não é de vez (nem vai ser à terceira). A chamada é atendida por um amigo do internacional argentino. "Ligue daqui a uma hora, ele está a treinar."
Assim seja. Mas daqui a uma hora (à terceira tentativa) também não é possível. Iturbe pede mais 20 minutos de espera e diz-me que está a falar com o presidente do clube (talvez porque o FC Porto acabara de oficializar, indirectamente, a compra de 60% do seu passe através do relatório de contas 2010/11 que enviou à Comissão do Merado de Valores Mobiliários).
Finalmente, à quarta investida, estamos prontos para saber como anda a preparar-se o futuro imigrante em Portugal. Iturbe ainda é um miúdo, muito simpático por sinal e cheio de ilusões. Hoje faz 18 anos, a idade que lhe permite assinar o contrato de jogador profissional com o FC Porto. No Paraguai, Iturbe está a festejar com a família. Porque ainda não partiu, mas diz já estar cheio de saudades.
Olá Iturbe. Finalmente! Está ansioso por vir jogar para Portugal?
Sim, muito mesmo. Estou muito contente e ansioso por conhecer toda a equipa e começar a jogar. Graças a Deus tenho essa oportunidade para poder cumprir o meu sonho.
Já sabe quando vai viajar?
A verdade é que ainda não sei ao certo, porque isso também depende do Cerro. Tenho contrato com eles até ao fim de Junho e depois disso estarei livre para ir. Foi isso que ficou combinado e é isso que tenho de respeitar. Mas em Julho de certeza já estarei por aí.
Já sabe alguma coisa sobre Portugal?
Não, não sei muitas coisas. O meu pai esteve aí e contou-me que o país é muito bonito e que a cidade para onde vou também. Mas espero adaptar-me rapidamente para continuar a minha carreira na Europa.
Tem seguido os jogos do FC Porto, viu a final da Liga Europa?
Não tive hipótese de ver esse jogo porque estava a viajar para o México. Mas sei que ganhou um título muito importante.
Conte-me como foram os primeiros tempos a jogar em Buenos Aires.
Eu comecei a jogar muito novo num clube que se chama Barracas, onde se joga futebol de cinco. Depois é que vim para o Paraguai e comecei na escola de futebol do Cerro Porteño. Foram esses os meus primeiros passos.
O futebol é mesmo uma paixão de criança?
Claro que sim. Desde que me conheço que sempre gostei de jogar e estou muito contente por ter esta oportunidade.
Quais são os seus ídolos do futebol?
Quando era mais pequenino gostava muito do Ronaldinho, quando ele jogava no Barcelona. Agora, o Cristiano e o Messi, que são grandes jogadores e exemplos a seguir.
E nunca teve a oportunidade de conhecer o Ronaldinho?
Não.
Mas o Messi, sim. Trabalhou com ele no Mundial.
Sim, no Mundial estivemos juntos, partilhámos muitas coisas, ele é mesmo o melhor do mundo.
E como se sentiu a trabalhar com Messi e com Maradona?
É inexplicável, são dois grandes do futebol e são fabulosos. Como pessoas também são espectaculares, do melhor. Ainda bem que já tive a oportunidade de os conhecer.
O que é que disse ao Messi quando o conheceu?
O que lhe disse? Nada de especial, mas pedi-lhe para tirar uma fotografia porque sabia que não tinha muitas hipóteses para estar com ele. Eles estavam com a cabeça no Mundial, andavam ocupados, tinham as suas famílias.
Onde é que tirou a primeira fotografia com Messi?
No hotel do Mundial, na África do Sul.
Começaram a chamar-lhe Pulguita por ter um estilo de jogo muito parecido com o de Messi. A certa altura saturou-se um pouco do assédio. Agora já não se importa de ter essa alcunha?
[Gargalhada] Agora já não!
Parece-me que também vem para Portugal cheio de ilusões. Apesar de ser jovem, acredita que pode conseguir um lugar na equipa principal?
Vou ser sincero: eu vou para me dedicar e para lutar por coisas grandes, preciso disso, quero ganhar o meu lugar e ser conhecido. Só com muita humildade e a ajuda dos companheiros poderei estar à vontade. Mas quero o meu lugarzinho para poder jogar.
André Villas-Boas já disse que o Iturbe é um jogador explosivo e Chilavert [já foi seu representante] garante que o FC Porto não se vai arrepender de o contratar. O que é que pode acrescentar à equipa?
Muitas coisas! Sou um avançado muito rápido, sou muito bom no um contra um, a encarar o adversário de frente.
Quando não está a jogar futebol o que é que mais gosta de fazer?
Estar com a família e os amigos. Agora passo o tempo todo com eles porque dentro de umas três semanas vou abandoná-los. Estou a aproveitar todos os tempos livres para estar com a família e com os amigos da escola. Sim, porque eu estou a acabar o liceu, só me faltam cinco exames.
Tem sido fácil estudar e jogar ao mesmo tempo?
Não, é mesmo muito complicado. Estudar cansado não é nada fácil, mas com sacrifício consegue-se.
Se pudesse continuar a estudar, gostava de tirar um curso? Qual?
Não tenho nada em mente. Nunca pensei nisso. Mas pode ser que vá estudar alguma coisa quando estiver em Portugal, porque é muito bom continuar a estudar.
Gosta de ler?
Sim, leio sempre em casa e nas concentrações.
Já pensou como vai celebrar o seu aniversário?
Só quero sentir o carinho da minha família.
Ainda não saiu do Paraguai e já está com saudades deles.
Muitas!
in "ionline.pt"
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