Manduca desfez o empate aos 90', mas o jogo com o APOEL teve prolongamento, que não correu melhor do que o jogo. A derrota não caiu bem na cúpula azul e branca e o ambiente pesado começou a sentir-se ainda no estádio GSP, tendo a chegada à Invicta sido o momento mais tenso por causa dos insultos à equipa por parte de cerca de 50 adeptos. Antes, durante a viagem que ligou Larnaca à Invicta, Pinto da Costa sentiu-se mal e teve de ser assistido durante mais de meia hora pelo médico do clube, Nélson Puga.
O JOGO acompanhou tudo de perto e relata os principais episódios de uma noite longa que se seguiu ao apito final do italiano Gianluca Rocchi e que durou até às 6h10, altura em que a equipa pôs os pés fora da aerogare do "Francisco Sá Carneiro".
Tudo começou com o desconforto de Vítor Pereira quando lhe perguntaram, na conferência de Imprensa no final da partida, se se sentia envergonhado com o jogo. O treinador rejeitou a ideia, já depois de ter dito que a equipa jogara à Porto. Seguiu-se um período de isolamento do técnico, visível nos minutos que antecederam o embarque, ainda em Chipre. Já no avião o silêncio imperou até à agitação provocada pela indisposição presidencial. Pinto da Costa recuperou e saiu pelo próprio pé, numa altura em que os adeptos já tinham mostrado a sua revolta para com a equipa. À tarde, esteve no treino, confirmando a recuperação total do incidente.
1º
De boca fechada e semblante pesado
Houve declarações no final da partida de Vítor Pereira, Hulk, João Moutinho, Helton e Belluschi. Porém, depois, foi o silêncio que imperou na comitiva azul e branca, contagiando os adeptos e sponsors que acompanharam o FC Porto a Chipre. No aeroporto, alguns jogadores fizeram compras de última hora enquanto outros, sem vontade para olharem as montras, sentaram-se a ouvir música, sempre cabisbaixos e de boca fechada, cumprimentando apenas quem passava. Vítor Pereira fez o mesmo, isolando-se para reflectir sobre o que se tinha passado no estádio GSP, um momento de introspecção que ninguém ousou perturbar.
Já no avião, os poucos adeptos presentes começaram por manifestar o seu desagrado com a exibição da equipa, mas não levantaram a voz, nem se dirigiram a alguém em particular. Mal o aparelho da SATA levantou voo, as luzes apagaram-se e o silêncio passou a ser nota dominante, ainda que idêntico a outras viagens que se fazem no regresso dos jogos. Apesar do ambiente carregado, pensou-se que a viagem de cinco horas seria sem sobressaltos. O que não viria a suceder por causa da indisposição de Pinto da Costa.
2º
Meia hora angustiante por causa de Pinto da Costa
Às 2h15, Nélson Puga, o médico do FC Porto, respondeu a um pedido de ajuda. Na altura, apenas a comitiva oficial sabia o que se passava, nos lugares da frente do avião: Pinto da Costa sentiu-se mal, com uma quebra da tensão arterial. A notícia espalhou-se e gerou ansiedade nos adeptos, que, sem detalhes da evolução, chegaram mesmo a aconselhar um desvio da rota e a aterragem para que Pinto da Costa fosse hospitalizado. Porém, tudo não passou de um susto que o experiente médico do clube resolveu. O presidente portista foi deitado nos quatro bancos de uma fila central, com os pés para cima e a cabeça amparada para, aos poucos, recuperar. Antero Henrique, Acácio Valentim, Reinaldo Teles, Vítor Pereira, Helton e o enfermeiro José Mário estiveram sempre ao lado do presidente. Os minutos foram passando e Fernanda Miranda, companheira do presidente, não escondia a preocupação, chegando a refugiar-se, muito pálida, numa das casas de banho.
Ao fim de mais de meia hora chegava a confirmação de que tudo não passara de um susto: Pinto da Costa voltou a sentar-se e Nélson Puga regressou ao seu lugar. Já no Porto, o líder dos dragões saiu pelo próprio pé e, à tarde, fez questão de ir ao Olival ver o treino. Refira-se que esta não foi a primeira vez que o líder portista, de 73 anos, teve episódios semelhantes. Em Sevilha, na final da Taça UEFA, desmaiou e teve de abandonar o camarote. Em Maio de 2007, na ressaca do processo Apito Dourado, voltou a sofrer uma indisposição quando o Aves marcou, em casa, o golo do empate que, na altura, colocava em perigo o 22º título.
3º
Insultos ao início da manhã para terminar a jornada
Ainda em Chipre, chegou o rumor de que alguns adeptos poderiam esperar a equipa para manifestar desagrado pela segunda derrota consecutiva fora de casa na Liga dos Campeões. O voo saiu com atraso de uma hora e a chegada aconteceu com o relógio a bater as seis da madrugada. Mesmo assim, cerca de cinco dezenas de adeptos, a maioria afectos às claques, esperaram pela comitiva. Dez minutos depois, os jogadores começaram a sair, praticamente todos juntos, e os insultos não se fizeram esperar. A maioria de um vocabulário impublicável. O curto percurso até ao autocarro tornou-se, de repente, longo e complicado. A escassos metros de distância, os adeptos acentuaram os impropérios, visando sobretudo Varela, Kléber, Vítor Pereira e Hulk, que até tinha dito em Chipre estar preparado para as críticas. As reacções dos jogadores ficaram-se pelo olhar, uns incrédulos, outros a identificar os autores dos insultos. Ninguém abriu a boca. A polícia procurou minimizar o episódio e evitar qualquer hipótese de contacto físico. O ambiente só acalmou quando o autocarro partiu em direcção ao Dragão.
Tensão no aeroporto
A comitiva só chegou depois das 6 da manhã, mas os adeptos não desmobilizaram com a longa espera. Mal viram a equipa a aproximar-se começaram os insultos pela actuação em Chipre que consideraram de "vergonhosa". Ninguém foi poupado e foi pedido a Vítor Pereira que apresentasse a demissão.
Inquérito VIP
Por que razão tem sido o FC Porto tão irregular e acumula exibições negativas esta época? Que soluções encontra para sair desta fase e melhorar definitivamente o nível de jogo da equipa?
Carlos Azenha, Treinador
"Quem resolve senão Hulk?"
"Vítor Pereira tem uma herança muito pesada. O FC Porto não está muito pior, o Benfica é que está muito melhor. No início, o FC Porto de Villas-Boas ganhava sem grandes exibições e chegou a ter a sorte que está a faltar agora. No início desta época houve um compromisso em manter a estrutura. Mas, como se sentem os jogadores depois de serem abandonados pelo treinador e verem o Falcao ser vendido? No ano passado havia Hulk e Falcao. Quando um não estava bem, resolvia o outro. Agora, quando o Hulk não está bem, quem resolve? O Kléber não."
Toni, Treinador
"Falta aquela alma do dragão"
"Não se pode culpabilizar só o treinador, pois há muitas pessoas a trabalhar à sua volta. O todo é a soma das partes e a maioria das individualidades do FC Porto está abaixo das suas capacidades. Para mim, isso deve-se a factores motivacionais. Falta aquela alma do dragão que se viu contra o Barcelona. Os jogadores prepararam-se para essa grande montra, ainda com o mercado aberto, e correu bem. Onde está agora esse FC Porto se os jogadores não desaprenderam? Fazia a transição de ataque muito bem, circulava a bola e pressionava logo quando a perdia. Agora não se vê isso."
Carlos Tê, Compositor
"Treinador é aposta falhada"
"Está na altura de assumir que Vítor Pereira foi aposta falhada. Pode até ser um bom adjunto, mas enquanto principal não tem capacidade de liderança do mesmo grupo de jogadores. Solução não há, pois não há bons treinadores disponíveis e não acho que se deva buscar um desconhecido. A solução é admitir que o FC Porto é uma equipa de consumo interno. E tenho dúvidas que chegue para Sporting e Benfica. A equipa está confusa e não sabe o que fazer, está perdida."
Manuel Serrão, Empresário
"Despedimento não resolve"
"A culpa é de todos. Aconselho um 'brainstorming' para perceber o que se passa. O plantel é superior ao ano passado e o FC Porto já jogou bem esta época. O que acontece agora passa mais pela parte mental do que pela física. A solução tem que partir de Pinto da Costa. É nele que estamos habituados a confiar. Acho que despedir o treinador não resolve. Se calhar, no estado em que está a cabeça de alguns jogadores, nenhum treinador do mundo os conseguiria motivar."
Carlos Abreu Amorim, Deputado
"Chocado com declarações"
"O que mais me choca é a anemia de criatividade, de vontade de ganhar e a carência absoluta de jogar à FC Porto. Fiquei muito chocado com as declarações do treinador. Como adepto, senti-me enganado. Tentou justificar o injustificável. É evidente que o discurso público de Vítor Pereira não motiva, é pobre e seco. Mas há mais coisas: a defesa e Moutinho pioraram muito, Kléber é um enorme equívoco e há ainda a falta de forma física."
in "ojogo.pt"
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