domingo, 11 de dezembro de 2011

GPS do golo elege a rota mais simples

Hulk pode não ser ponta-de-lança, mas disfarça bem. A servir e a finalizar, provou que uma muralha, por mais frágil que ela seja, não se derruba com picaretas. Foi preciso que um golo do Beira-Mar caísse do céu para que os dragões descessem à terra e resolvessem o problema com a maior das simplicidades. Afinal, a rota dos golos previa coisas tão básicas como Hulk a fazer de pivô para o empate de James e a decidir, ele próprio, num binómio recepção-remate digno de um goleador nato.
Falávamos de disfarces no início deste texto e o resultado até esteve a centímetros da farsa completa mesmo no último suspiro de um jogo que parecia morto e enterrado com o segundo golo do FC Porto. Um momento de cortar a respiração e que deixou toda a gente sem Élio, tal a dimensão da oportunidade que quase fez voar os dois pontos que Vítor Pereira tinha mandado congelar assim que a equipa confirmou a reviravolta no marcador.
Eis-nos chegados à informação relevante: o FC Porto virou o resultado no terreno daquela que era a melhor defesa da Liga. Não se pode dizer que tenha escalado uma montanha, é certo, até porque o mito da solidez defensiva dos aveirenses caiu redondo assim que o dragão se deixou de rodriguinhos e foi directo ao assunto. O futebol rendilhado caiu na teia do Beira-Mar como sopa no mel, porque a posse portista raramente teve velocidade para desposicionar um articulado bloco baixo.
Com James e Belluschi a confundirem papéis, o jogo embrulhava-se no eixo central, afinal de contas a zona de conforto dos auri-negros, inclinados para a sua direita ao anteciparem, e bem, que da conexão Maicon-Djalma não resultaria qualquer ameaça. Com um carrossel de passes e de trocas posicionais, os dragões queriam deixar o Beira-Mar ourado, mas foi Zhang quem pôs Vítor Pereira com a cabeça à roda quando meteu Maicon e Otamendi num bolso e abriu o marcador. Uma desatenção, uma oportunidade e uma cambalhota no jogo, porque o FC Porto transformou a previsível ansiedade num firme assalto ao resultado.
Hulk parecia um pivô de andebol quando segurou os marcadores e subiu para atacar a bola, entregando-a em ponto de rebuçado para James. Um lance adocicado que repôs a ordem no futebol dos campeões e que sustentou um assalto declarado à reviravolta. Da ameaça da perda da invencibilidade ao cabo de 50 jogos, o FC Porto cresceu para uma "remontada" que atesta a sua renovada solidez mental, às cavalitas de um Incrível que consegue camuflar as insuficiências posicionais para continuar a levar a equipa ao colo.
A equipa tem uma figura, mas também um figurino. Solidificou opções e processos, cerrou fileiras e ganhou resistência. É quanto baste para ganhar a um Beira-Mar que, do meio-campo para a frente, se resume a um artista circense (Cristiano) e a um avançado que é carne para canhão (Douglas). E quando a primeira linha é isto, que pode Rui Bento espremer do banco senão uma última oportunidade caída do céu e do destempero de Maicon, que transformou um alívio do Beira-Mar num golo cantado que só não foi música para os aveirenses porque Élio desafinou à força toda.
Depois de penáltis falhados, de derrotas em descontos e de alguns jogos a bater contra o muro, o FC Porto teve em Aveiro a prova de que a sorte pode estar a mudar. É justo que se registe que uma equipa fez por merecê-la e que a outra não teve mais a que se agarrar.


in "ojogo.pt"

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