Rolando não pára nos amarelos

Há duas jornadas que Rolando gere quatro amarelos no campeonato e vê ameaçado um cadastro livre de mácula. É caso raro em Portugal, mais ainda quando em causa está um central, exposto por inerência ao choque, às faltas e aos cartões. Rolando tem 194 jogos na Liga sem parar nos amarelos. Não sabe o que é cumprir castigo e nunca perdeu o controlo da sua folha disciplinar. Para Vítor Pereira, ele é uma garantia de que está tudo calculado, mas como o central, também Álvaro Pereira e João Moutinho estão à bica.

O verbo poupar não colhe e a gestão para o clássico com o Sporting não será feita antes de garantido o triunfo contra os insulares. É essa a mensagem que o treinador tem transmitido ao plantel, ciente de que o contexto do jogo pode expor quem está em risco, mas sem saltar etapas nem transmitir a ideia de que o encontro de Alvalade tem primazia sobre o duelo com o Marítimo.

Rolando é doutorado em autocontrolo. Ao longo da carreira, esteve por duas vezes no limite. Com Villas-Boas, só teve de gerir duas jornadas com quatro amarelos, escapando incólume; mas em 2005/06, ainda no Belenenses, aguentou cinco jogos com a corda ao pescoço e não desfalcou uma equipa que lutava para assegurar a permanência.

São histórias que atestam a frieza do central, amplamente elogiada por todos os seus treinadores (Jorge Jesus é um fã assumido) e muito útil às suas equipas. Talvez por isso ele seja, a par de Helton, João Moutinho e Hulk, um dos poucos jogadores que não salta das escolhas de Vítor Pereira, o que até nos remete para outro dado: os capitães do FC Porto são mais do que referências simbólicas no balneário, são exemplos de competitividade.

Com 18 jornadas por jogar, parece quase inevitável que, à oitava temporada no principal escalão, Rolando veja o seu registo manchado. Para quem o orientou, isso não belisca um perfil distinto. "Não é comum, sobretudo quando se fala de um central. Rolando é inteligente e consegue controlar-se emocionalmente. Joga numa posição que o expõe e onde as falhas podem acontecer, sendo normalmente castigadas", comenta José Couceiro, que o orientou no Restelo.

"Passa ao lado dos momentos de tensão e nunca se excede nas palavras, o que para muitos jogadores até são o grande problema. É correcto e leal e apresenta um equilíbrio notável", insiste o treinador. Qualidades para Rolando esgrimir nas próximas jornadas. Não sendo previsível que Vítor Pereira o poupe, terá de ser a poupar-se. Como? Não parando nos amarelos.

Inédito sacrifício no Mónaco

Minuto 86 da Supertaça Europeia. Erro do ataque portista, bola em Messi e uma situação-limite para Rolando: ou deixava o argentino embalar para o golo, ou via o segundo amarelo e ia para a rua. Uma escolha simples, mas dolorosa. Rolando ficou desolado, não apenas pela derrota, mas também pelo primeiro vermelho da carreira, que o obrigou a cumprir castigo na Champions. Inédito.

Outros jogadores em risco

João Moutinho

Está mais agressivo no Dragão

José Couceiro diz que Moutinho é outro exemplo de equilíbrio mental, mas a verdade é que o médio está mais agressivo desde que é dragão. No Sporting, nunca viu mais do que cinco amarelos numa época. No FC Porto, chegou aos 9 na temporada de estreia e desde a 10ª jornada que já vai nos 4 em 2011/12. Não deixaria de ser curioso que Moutinho falhasse a deslocação à casa que o formou por castigo, mas essa é uma situação que tanto Vítor Pereira como o jogador querem evitar. Como? Não é fácil perceber como iria o treinador resguardá-lo, já que Defour e Guarín estão lesionados e não há, no plantel, outro jogador que se assemelhe.

Álvaro Pereira

Habituado a jogar nos limites

Álvaro Pereira cumpriu suspensões nas duas anteriores temporadas em Portugal. Nunca foi expulso para o campeonato, mas já atingiu limites de amarelos. Com Villas-Boas, esteve quatro jornadas com quatro cartões e aguentou a pressão. Está habituado a jogar nos limites e é um lateral agressivo nas disputas e que se expõe quando procura os desarmes. Viu o quarto amarelo na recepção ao Braga e conseguiu lidar com a ameaça em Aveiro. Como Alex Sandro ainda não jogou na Liga, não é previsível que Vítor Pereira abdique do seu titular à esquerda contra o Marítimo. Um teste de fogo, mas convém lembrar que, há um ano, o Palito não jogou em Alvalade por lesão.

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