Vítor Pereira pode ter a explicação mais lógica do mundo, pode até juntar-lhe o argumento dos equilíbrios tácticos, mas será sempre difícil perceber a aparente resistência ao talento de James. Sobretudo em jogos como este. O Leiria limitou-se a diferentes conjugações do verbo resistir mesmo antes de ter ficado reduzido a dez e, aí sim, ganhar justificados motivos para apertar a malha defensiva, coisa que fez até Vítor Pereira convencer-se a tirar James da manga e, com ele, desbloquear em definitivo o caminho do golo. Ou melhor: dos golos. Uma enxurrada deles, a disfarçar as dificuldades de uma vitória robusta, mas que exigiu nervos de aço.
À falta de velocidade, o FC Porto teve o mérito de saber controlar os nervos para a coisa não descambar. Desenhado à medida dos reforços, com Danilo, Lucho e Janko integrados na estrutura, ter-se-á precipitado a concluir que ganhar seria uma questão de tempo. Isso talvez explique a lentidão de processos, denunciando-lhe de tal maneira os movimentos na primeira parte que tornava bem mais fácil a tarefa a quem defendia com dez. E às vezes com onze. Bruno Moraes era um corpo estranho na estratégia de Cajuda e o único autorizado a respirar uns metros mais à frente, longe de tudo e todos, ao ponto de parecer elemento de uma terceira equipa que não estava em campo.
Quase de folga por falta de trabalho, era suposto que a defesa portista voasse até ao ataque nas asas de Danilo e Álvaro Pereira, garantindo desequilíbrios. Isso não aconteceu com a frequência esperada, mais por culpa de Danilo do que de Álvaro Pereira, a quem faltou sempre o devido complemento. Varela estava longe de ser solução para esticar o jogo pelas alas, e os esforços de Hulk batiam no muro defensivo do Leiria. Janko andava meio perdido na área, com Lucho a fazer-lhe sombra nas costas.
Paremos em Lucho, precisamente. El Comandante foi mais quarto elemento de ataque do que terceiro do meio-campo, o que obrigava João Moutinho a alguns sacrifícios. Mais perto de Fernando do que da área, e apesar da excelente capacidade nos passes de longa distância, o recuo de Moutinho, presumivelmente a bem dos equilíbrios, afastou-o das zonas de decisão. Lucho era a muleta de apoio ao trio de ataque, mas era-lhe também difícil encontrar saídas na floresta que Cajuda plantara a guardar a área. Coincidência ou não, foi num dos raros momentos em que Moutinho fugiu a esse papel que o obriga a um posicionamento mais recuado que nasceu a jogada do primeiro golo: um slalom do médio desviou os adversários do caminho antes de James e Janko completarem o serviço. Janko limitou-se a empurrar, e está lá para isso. Desconfia-se que o austríaco ainda levará os adeptos a arrancar alguns cabelos, mas o FC Porto precisava de um avançado assim, que garanta os golos óbvios e que ofereça à equipa essa alternativa.
É importante lembrar que o Leiria estava reduzido a dez desde o início da segunda parte e que esse não é um detalhe irrelevante. Também não é irrelevante voltar a sublinhar a importância de James, autor do segundo golo e ainda de mais uma assistência, para o quarto. Pelo meio, Álvaro Pereira marcou num belíssimo desvio.
Sem Janko para a Liga Europa, é quase certo que Vítor Pereira voltará a James. Mas termina-se como se começou: será sempre difícil perceber porque lhe resiste tanto...
in "ojogo.pt"
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