segunda-feira, 12 de março de 2012

Adiar os golos virou um hábito

Ao fim de 22 jogos disputados no campeonato, há uma tendência que há muito se define e tem ganho contornos ainda mais sólidos nas últimas semanas: o FC Porto tem por norma entrar "a dormir" nos jogos e é muito mais forte nas retas finais. Foi na segunda parte que a equipa marcou 65% dos 51 golos da época. E 18 destes (35%) surgiram nos últimos 15 minutos, período em que a equipa é mais fértil e que já permitiu salvar 5 pontos para um total de 13 acrescentados na segunda parte a empates registados ao intervalo: Setúbal, Marítimo, Leiria e Feirense (em casa), Beira-Mar e Benfica (fora); e à derrota parcial contra a Académica no último desafio. Neste caso, apenas um ponto.
O número de golos no último quarto de hora iguala o total obtido na primeira parte dos jogos. E a prova de que a equipa raramente entra disposta a matar o jogo cedo são os (apenas) três golos marcados nos primeiros 15 minutos.
Mais um dado a dar força à teoria: 14 dos resultados da equipa nestas 22 jornadas melhoraram após o intervalo. Sete mantiveram-se e apenas um piorou.
Depois da derrota por 3-1 em Barcelos (2-0 ao intervalo), acreditou-se que o grito de revolta de Vítor Pereira teria espantado definitivamente a apatia habitual em cada início de partida. Puro engano. Em dois dos três jogos seguintes, os dragões voltaram a entrar "a dormir" e só uma valente "injeção de cafeína" ao intervalo acordou os jogadores a tempo de se evitarem males maiores. A insistência em facilitar previa dissabor semelhante ao que aconteceu com a Académica, embora a reação após o intervalo tenha permitido salvar um ponto em período de descontos, bem melhor do que no dito jogo contra o Gil Vicente.
Curioso é o facto de cinco dos sete jogos em que recuperação tardia foi possível terem sido disputados no Dragão, o que dá a sensação de que a equipa aborda o jogo de forma mais rigorosa quando joga fora de casa e está num ambiente em que, teoricamente, é mais difícil vencer.

Braga também "relaxado" mas não guarda tudo para o fim


Tal como o FC Porto, também o Braga costuma deixar para a segunda parte a resolução das partidas. Os Guerreiros do Minho são mesmo a equipa que mais pontos conquistou nas segundas partes (17), mas ao contrário do FC Porto não guardam tudo para o fim: só um ponto foi conquistado nos últimos 15 minutos. Já para o Benfica a diferença é gritante. Em igual número de golos (51), os encarnados marcam 51% no primeiro tempo e nunca "sacaram" pontos perto do apito final. Por isso, têm "apenas" oito golos nos últimos 15 minutos, menos 10 do que o FC Porto.

Relógio desequilibrado 


No segundo melhor período em termos de pontaria, o FC Porto marca apenas metade dos golos que tem no último quarto de hora. Neste relógio nota-se tendência para primeiras partes em crescendo, mas de pouca eficácia quando comparadas com as segundas.

Equilíbrio foi parte do sucesso de Villas-Boas


Uma equipa a tempo inteiro parece ter sido parte significativa do segredo do FC Porto de André Villas-Boas para conquistar o campeonato com apenas três empates consentidos em 30 jornadas. Os golos marcados quase não poderiam ter sido repartidos de forma mais equitativa: 36 no primeiro tempo contra 37 após o intervalo, sem que haja um "pique" enorme em nenhum dos seis quartos de hora dos jogos. O mais profícuo foi o compreendido entre o minuto 30 e o 45, mas 16 golos não representam uma fatia tão exagerada como os 18 que a equipa de Vítor Pereira já leva no último quarto do jogo.
Para se ter uma noção da dimensão deste número, basta referir que, com Villas-Boas, o FC Porto só marcou 14 golos nesse período, menos quatro do que agora, mas no total de 30 jogos, quando agora só ainda estão disputados 22.
Resolver os jogos na segunda parte é um hábito que já vem da época passada, mas os adeptos nunca desesperaram tanto. Com Villas-Boas, o FC Porto conquistou 18 pontos após o intervalo, mas 16 deles no período compreendido entre os 45 e os 75 minutos. Só contra a Naval, na primeira jornada, Hulk marcou já perto do fim. O susto surtiu efeito: nunca mais o FC Porto chegou a uma fase tão adiantada sem que este não estivesse já praticamente arrumado.
Se alargarmos a contagem aos jogos de todas as competições (e foram 58!) a regra não muda. Os dragões fizeram 70 golos após o intervalo, mas recolheram ao descanso já com 67, o que volta a provar que, apesar da maioria dos jogadores ter transitado de ano, este é um problema recente.
Se fizermos outro tipo de leitura, o resultado é o mesmo: a equipa de Villas-Boas melhorou 16 vezes o resultado após regressar do balneário. Isso representa 53% dos jogos, contra os 64% de agora.

Vítor Pereira partilha com James maior mérito das recuperações


Tal como nos jogos contra Leiria, Feirense e Benfica, também contra a Académica Vítor Pereira foi decisivo para resgatar pontos ao marasmo em que a equipa estava caída. Foi do banco que surgiram os primeiros sinais de inconformismo, com substituições arrojadas e um risco grande assumido na procura da vitória. Esta foi, por exemplo, a quarta vez que o técnico lançou Djalma para lateral-direito e que usou dois pontas-de-lança em simultâneo. Além disso, prescindiu outra vez de um central.
Além de Vítor Pereira, também James tem estado em destaque nos pontos ganhos nos finais dos jogos. O colombiano foi diretamente responsável pelas vitórias já referidas, sempre com um golo e uma assistência.
Ao treinador pede-se agora que consiga que a equipa pratique aquilo que, por palavras, já apregoou algumas vezes: um jogo conseguido por inteiro. "A nossa primeira parte foi horrível. Demonstrámos uma apatia que não é própria de quem quer revalidar o título", disse após a derrota de Barcelos. Ou, "demos 45' de vantagem à Académica. Na primeira parte não existimos como equipa", apontou anteontem.

3 questões: Rogério Gonçalves, Treinador

"Há tendência para facilitar..."


1 Como se explica o apagão do FC Porto depois de uma grande vitória na Luz?

Às vezes, por defrontar uma equipa teoricamente mais acessível, os jogadores relaxam um pouco. A Académica fez um golo, evitou ao máximo o do FC Porto, moralizou-se e foi acreditando nela própria. Depois as coisas tornaram-se naturalmente mais difíceis porque entretanto o bloco da Académica baixou e os espaços ficaram muito mais reduzidos.


2 A que se devem as constantes más entradas da equipa?

Em primeiro lugar deve dizer-se que hoje as equipas pequenas já não são assim tão pequenas e que nenhum adversário vai ao Dragão já derrotado. Mas o que acontece é que os jogadores, perante um adversário mais fraco, facilitam um bocado. Por isso é que quem conseguir dominar melhor a parte mental, consegue melhores desempenhos.


3 É correto depreender que quanto mais apertados estiverem na luta pelo título, melhor estará o FC Porto?

É verdade que estarão mais despertos. São excelentes jogadores, grandes profissionais e estão sempre disponíveis para trabalhar, mas terão consciência que um deslize lhes pode roubar o título. Costumo dizer que a aproximação de pontos é uma pressão positiva. Quando se está mais folgado há tendência a facilitar.

in "ojogo.pt"

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