sábado, 21 de abril de 2012

F.C. Porto-Beira Mar, 3-0 (crónica)


Vencer e convencer depois de fugir da prisão


FC Porto vs Beira Mar (ESTELA SILVA/LUSA)Este F.C. Porto é um «case study». Vence o Beira-Mar por 3-0, lidera o campeonato a três rondas do final e, ainda assim, levanta dúvidas. Há uma aura de fatalismo a envolver a equipa. Uma névoa de mistério a sugerir medos e ansiedades. «Então como vai? Vai-se andando.» Já não faz sentido. 

Tão perto do final da época, talvez seja a altura de sossegar, acreditar mais no que vale, afastar fantasmas surreais. A segunda parte do Porto foi, uma vez mais, o período da redenção e do júbilo. Golos, bom futebol, desenvoltura, comunhão de fé.

E antes? O que se passa com este F.C. Porto nos primeiros 45 minutos? 

O campeão nacional inicia cada jogo no Dragão perdido numa ilha de melancolia. Melancolia e passividade. Fugir dessa ilha, para a equipa de Vítor Pereira, é como escapar de Alcatraz. 

Escavado o túnel, ludibriadas as torres de vigia, saltados os muros e burlados os guardas, resta ainda enfrentar as águas tormentosas do oceano e as mandíbulas dos tubarões. Concordemos, não é simples. 

O primeiro golo surgiu à passagem da meia-hora, de grande penalidade, mas já depois de o Beira-Mar desperdiçar três boas oportunidades para marcar. Lá está. Há uma necessidade, quase um vício, deste F.C. Porto sofrer para se realizar. 

Sapunaru sofreu um puxão de Dias, Hulk disparou revoltado, a bola bateu no poste e entrou. 

Tão perto da felicidade e, ao mesmo tempo, tão receosa de ser feliz. É uma forma de viver perigosa, até angustiante. Uma coisa, mais aceitável, seria constatar debilidades graves no plantel, sublinhar lacunas irreversíveis e defeitos crónicos. Não é este o caso. 

Há qualidade, há elementos de nível inatacável e há a aproximação evidente ao maior objetivo da temporada. Então, porquê tanta dificuldade em explorar o adversário, no caso o Beira-Mar, desde o primeiro segundo? 

É verdade que a concentração de atletas aveirenses na faixa central (Hugo, Bura, Jaime e Dias) tornava essa zona mais apertada do que o metro de Moscovo em hora de ponta. Mas, afinal, existem as faixas laterais e talento para as agarrar. 

Só mais tarde, quando a tranquilidade pousou no relvado, o F.C. Porto levou a mão à consciência e jogou como pode e sabe. 

Falemos, então, desse período exuberante dos dragões. Dois golos até aos 55 minutos, um de Marc Janko, após lance soberbo de Hulk, e outro do próprio Hulk. Tão simples, tão natural, futebol vertical e confiante. 

James muito mais em contacto com a bola, Lucho e João Moutinho (amarelados, à semelhança de Defour), em tabelas e triangulações convincentes, até Janko a elevar os seus níveis e a camuflar uma série confrangedora de equívocos técnicos. 

O F.C. Porto subiu, subiu, até alcançar patamares realmente interessantes. Venceu bem, naturalmente, depois de complicar e apanhar alguns sustos. 

Por favor, alguém dê um recado ao líder da classificação geral: vencer um jogo no Dragão não é tão complicado como era escapar da prisão de Alcatraz.

in "maisfutebol.iol.pt"

2 comentários:

dragao vila pouca disse...

Não gostei da primeira-parte, gostei muito da segunda. Na primeira fomos lentos, previsíveis, trapalhões, erramos muito, defendemos mal, se é verdade que podíamos ter marcado mais um golo, também é verdade que o Beira-mar teve várias hipóteses de marcar.

Na segunda-parte tudo foi diferente, em particular depois do segundo e terceiro golo, que aconteceram quase de rajada. Com a vantagem de três golos e a vitória praticamente garantida, a equipa portista tranquilizou, ganhou confiança e a partir daí a qualidade subiu substancialmente, partimos para uma meia-hora final de muito bom nível. Vimos um Porto a ter bola e trocá-la bem, um Porto dominador, capaz de construir jogadas de belo efeito, de criar várias situações de golo, golo que só não voltou a acontecer por questões de pormenor, por algumas más opções na hora de finalizar. Para além disso, nunca o Beira-Mar voltou a ser perigoso, nunca mais, ao contrário do que tinha acontecido na primeira-parte, a equipa de Aveiro incomodou Helton.

Resumindo, vitória justa e inequívoca do F.C.Porto, num jogo com duas partes distintas na exibição do Campeão: má a primeira, muito boa a segunda. O resultado, talvez a mesma diferença, com mais um golo do F.C.Porto e o ponto de honra que o Beira-Mar merecia.
Gostei muito de Alex Sandro que só precisa de jogar para ganhar ritmo, confiança, já que talento tem de sobra. Se tudo correr normalmente, isto é, não houver lesões que impeçam a evolução natural dos jogadores, não correrei muitos riscos se disser que podem estar nas laterais da defesa do F.C.Porto, os dois titulares da selecção brasileira em 2014.
Hulk, com dois golos e uma assistências, foi o melhor, mas momentos houve que parecia apostado em nos irritar.

Nota final:
Estamos em primeiro lugar e com grandes possibilidades para conseguir o título, era o penúltima jogo em casa, mas apenas 33.412 espectadores estiveram esta noite no Dragão. De facto, o portismo de sofá e net, tem ideias para tudo, sabe tudo, é bom a criticar o treinador, a SAD, os jogadores, tudo e mais alguma coisa, mas ir ao estádio... Estava frio e a ameaçar chuva, dava o Barça/Real na televisão...

Magnificas homenagens ao criador dos Dragões, tanto do Colectivo como dos Super-Dragões, com a figura de Jorge Nuno Pinto da Costa a ter o merecido destaque.

Com os golos que marcou esta noite, Givanildo Vieira de Souza, o "Incrível Hulk", tornou-se a máximo goleador do Estádio do Dragão.

Abraço

Remígio Manuel Silva da Costa disse...

Este Porto porta-se como se fosse um fórmula 1 num raly de uma estrada florestal: acelera e desacelera, bate nas lombas, curva e derrapa mas lá chega à frente na recta final.

Veremos se sabe, também, navegar...