sábado, 14 de abril de 2012

Lucho tem o toque de Midas

A influência de Lucho González deixou de ser um dado subjetivo. Os números não enganam: consigo as equipas são muito mais fortes. Foi assim com o FC Porto e com o Marselha. Os dragões melhoraram, e muito, desde a sua chegada no final de janeiro. Tanto que recuperaram a liderança e estão, nesta fase, numa posição invejável para garantir o título. Por outro lado, os franceses caíram a pique desde que saiu. Já lá vão 12 jogos consecutivos sem ganhar...
O argentino tem uma espécie de Toque de Midas. Aquilo em que toca transforma-se em ouro. E o contrário também é verdade... Jesualdo Ferreira que o diga, pois perdeu o campeonato na época imediatamente a seguir à sua venda. O Marselha está a provar do mesmo nesta segunda metade da época. Depois da sua saída, os franceses ganharam apenas três dos 17 jogos disputados, nas várias provas. Com El Comandante, o Marselha era quinto no campeonato - lugar europeu - e estava a nove pontos do líder PSG. Agora está a 26 do Montpellier (ultrapassou os parisienses) e a oito do último lugar de acesso à Liga Europa, que ainda pode conquistar via Taça da Liga. O apuramento para esta final foi conseguido no dia posterior à saída do argentino. Ou seja, ainda em piloto automático a equipa não sentiu imediatamente a sua falta e aguentou cinco jogos sem perder. Desde então passaram doze e o melhor foi um empate em Nice. Neste período deixou de lutar pelo título, foi eliminado da Liga dos Campeões e até saltou da Taça de França aos pés do modesto Quevily, do terceiro escalão.
Inversamente, o FC Porto cresceu. Só ao Benfica ganhou nove pontos. E derrotas só mesmo contra o poderoso Manchester City e com os encarnados, para a Taça da Liga. Ainda que muito se tenha discutido acerca do seu posicionamento mais ou menos adiantado, e que o seu rendimento nem sempre seja aprovado, os números falam por si. O médio foi sempre titular e em 11 jogos já marcou três golos, a média que lhe era reconhecida antes de partir para França. E atenção, já ultrapassou todos os outros médios no que respeita a essa eficácia. Moutinho tem os mesmos três golos, mas em 40 jogos. Defour conta dois e Guarín, Belluschi e Fernando só marcaram um. Souza nenhum.
Desde a primeira passagem de Lucho pelo FC Porto que lhe são reconhecidas capacidades que extravasam o domínio técnico-tático, onde a sua qualidade também é inegável. Ao argentino, é atribuído um papel fundamental no seio do balneário, pela influência que tem junto dos companheiros. Por isso também a alcunha de El Comandante lhe assenta como uma luva.
Todos aqueles que se pronunciaram a propósito da transferência do jogador foram unânimes. Steve Mandanda, guarda-redes do Marselha, parecia já antever, a 31 de janeiro, o cataclismo do seu clube. "Fiquei desapontado. Vamos ter saudades dele. É uma grande perda", clarificou. Didier Deschamps, o treinador, também sublinhou que foram as questões económicas a ditar o desfecho. "A lógica financeira prevalece sempre", lamentou, um dia depois do diretor-desportivo do Marselha, José Anigo, ter vincado a sua influência no balneário. "É um grande profissional e um homem extraordinário no balneário. Ele ficará conhecido como alguém que devolveu o título de campeão a Marselha. E isso é enorme", disse.
E, por falar em liderança, o próprio Vítor Pereira afirmou que Lucho veio ajudar. "Tem muitos anos de FC Porto e é natural que venha ajudar na gestão do balneário", disse.

Sete anos a jogar na Europa e sempre a somar títulos

Lucho está na sétima época na Europa e até nesta já conquistou um troféu, no caso a Supertaça de França. O argentino é sinónimo de conquistas e nunca ficou em jejum. Em 2005/06, época de chegada, foi logo campeão, ajudando o FC Porto a recuperar um título perdido na temporada anterior para o Benfica. Quatro épocas em Portugal valeram quatro campeonatos, duas Taças de Portugal e uma Supertaça. Em 2009/10 estreou-se no Marselha e o clube foi campeão, 14 anos depois. Nessa época também ganhou a Taça da Liga, que repetiu um ano mais tarde. Em França tem também duas Supertaças.

César Azpilicueta

"A saída dele foi péssima para nós"


Nem de propósito, César Azpilicueta, lateral-direito do Marselha, criticou ontem a saída de Lucho, justificando-se com a série negra que o clube atravessa, com apenas uma vitória nos últimos 12 jogos. "Pode ser uma coincidência, mas os números são esses", frisou o espanhol em declarações à Radio Monte Carlo.
Azpilicueta lamentou a saída de um jogador que considera ser um excelente profissional e que tinha voz no balneário dos franceses, tal como tem no do FC Porto. "Desde que Lucho saiu, só vencemos um jogo em casa contra o Inter de Milão para a Champions. [nd.r. e mais um na Taça da Liga e outro na Taça de França]. Ele era muito importante para nós no balneário", referiu.
A época até nem estava a ser particularmente positiva para Lucho no Marselha, o que ajudou à decisão do clube em libertá-lo a custo zero para o FC Porto. Porém, foram mesmo as questões monetárias a ditar a "dispensa" de El Comandante, para tristeza do lateral-direito Azpilicueta. "Mesmo quando não estava no topo da sua forma dava tudo em campo e era profissional. Nunca criticou ninguém. A sua saída foi péssima para o grupo", sublinhou.


3 QUESTÕES - Jorge Silvério, Psicólogo do desporto


"É reconhecido como um líder"


1
A chegada de Lucho ao FC Porto foi o tónico necessário para a recuperação na classificação?
Se viesse pela primeira vez o efeito seria mais difícil. Sendo um líder nato, acabaria por fazer diferença, mas demoraria. Mas voltou a uma estrutura onde é reconhecido porque funciona como extensão do treinador no campo e pelo peso no balneário. Esse reconhecimento ajuda a aglutinar os jogadores em torno de um objetivo.

2
Fará sentido pensar-se que pode ser um dos capitães na próxima época, ou isso iria melindrar os atuais?
Há o líder informal e o formal, que é o que ostenta a braçadeira. O desejável será que os dois papéis coincidam. Começando a nova época, com um grupo diferente e novas regras, a mudança faz sentido. Não haverá qualquer melindre, porque ele é reconhecido como um líder. Já agora é um dos capitães, embora não formalmente.

3
A simples saída de um jogador influente como Lucho González pode precipitar a queda de uma equipa?
Pode. Por acaso ele até tem mais-valias técnicas e táticas. Mas se é importante na coesão do grupo, funciona como transmissor das ideias do treinador e como elemento agregador, mais ainda. Há jogadores cujo carisma e prestígio são fundamentais numa equipa. Se sai, a probabilidade das coisas correrem mal aumenta.

in "ojogo.pt"

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