quinta-feira, 12 de abril de 2012

A maior esperança à oitava tentativa

Apesar de ser inegável a sua qualidade, Fernando é mais notado quando falta do que propriamente quando joga. O drama que se cria em torno de qualquer lesão ou castigo do Polvo lembra-nos que o FC Porto não tem uma alternativa suficientemente sólida para que a posição fique entregue com total confiança. No início da época ainda houve Souza, mas, como todos os antecessores, nunca conseguiu uma presença suficientemente forte para que não se sentissem saudades. O problema é antigo e reporta à saída de Paulo Assunção, no final da época 2007/08. De Jesualdo Ferreira a Vítor Pereira, foram usadas oito alternativas, mas só a última recolheu aplausos. Defour não se limitou a cumprir em Braga. Foi destaque e isso sim, é uma novidade.
O belga não foi propriamente uma adaptação de recurso. No Standard de Liège foi muitas vezes trinco e, na seleção da Bélgica, ainda agora tem esse hábito. Talvez por isso não tenha sentido dificuldades quando Vítor Pereira o chamou à ação, depois de oito jogos afastado, culpa da chegada de Lucho González e da melhoria evidente que o FC Porto registou nesse período. A vitória sofrida em casa do Nacional ainda abriu algumas dúvidas, mas a forma como superou a decisiva batalha de Braga dá-lhe créditos para o futuro. Aliás, ao abrigo do "princípio da chiclete", que Vítor Pereira já defendeu, até tem tudo para continuar na equipa nos próximos jogos. Nessa altura, e a propósito das situações de Maicon e Varela, o treinador garantiu não "deitar fora" quem responde bem em situações de aperto.
Curiosamente, as melhores alternativas a Fernando encontradas ao longo dos anos foram com jogadores que preferem ser médios de transição. É o caso de Guarín, Tomás Costa ou Souza. Bolatti, Pelé, Madrid e Prediger tiveram aparições muito fugazes e resultados nada entusiasmantes. E, por isso, todos foram dispensados. O primeiro ainda aguentou época e meia, mas a partir de determinada altura nem quando Fernando se lesionava era chamado.

33

Apesar de uma época irregular e de nunca se ter afirmado como titular indiscutível, Defour disputou 33 dos 42 jogos do FC Porto, 17 deles como titular. E os resultados estão claramente do seu lado: apenas uma derrota (em Barcelos). Curiosamente, o belga foi a maior vítima desse desaire que, na altura, deixou o FC Porto a cinco pontos do Benfica. Saiu da equipa depois de quatro jogos como titular e teve de esperar quase dois meses para reconquistar uma posição que não aquela de que mais gosta: trinco. Quando jogou como médio-interior, confirmou as qualidades que lhe apontam recorrentemente. Com 87% de acerto nos passes efetuados, foi o melhor da Liga nesse capítulo. Mas nem isso lhe segurou o lugar após a chegada de Lucho.

Sacrifício de Guarín valeu lugar desejado


Fredy Guarín apareceu como trinco do FC Porto antes ainda de Fernando pegar de estaca no lugar. Contratado ao Saint-Étienne para o lugar de Paulo Assunção, cedo mostrou a Jesualdo Ferreira que não estava talhado para funções tão defensivas. Dois anos de aparições fugazes confirmaram essa ideia mas, com André Villas-Boas e à terceira tentativa, o colombiano soube aproveitar uma lesão de média gravidade de Fernando para se reabilitar e ganhar moral para que o treinador o usasse no final da época na sua posição preferida: a de médio de transição. Defour vive agora uma situação idêntica e pode servir-se do exemplo de Guarín para, também ele, retirar proveito do sacrifício que se lhe pede.


Procura do sucessor custou tanto como vale o Polvo


A procura incessante de um sucessor para Fernando já custou quase tanto aos cofres da SAD como vale o original: 28, 25 milhões de euros, ligeiramente abaixo dos 30 milhões em que está cifrada a cláusula de rescisão do Polvo, que até chegou a Portugal vindo de um clube pequeno (Vila Nova) e sem gastos significativos, pelo menos conhecidos, para os dragões.
Dos oito jogadores que já desempenharam a função de trinco como alternativa ao titular, só Andrés Madrid não significou um investimento grande. Emprestado pelo Braga, o argentino era uma paixão de Jesualdo Ferreira, mas nem a permanência do treinador lhe garantiu o prolongamento do contrato.
Defour e Pelé (ambos seis milhões de euros) foram os mais caros de todos. Seguem-se Souza (3,75 milhões de euros), Guarín (3,5), Prediger (3,3), Tomás Costa (3,2) e, por fim, Bolatti (2,5), o primeiro a chegar.


3 questões


Kanu
Jogador do Standar de Liége e ex-colega de Defour

"Com Moutinho garante futuro"

1
Como foram as prestações de Defour quando teve de jogar a trinco no Standard?

Muito boas. Tão boas que jogou até mais vezes nessa posição do que noutra. Mas jogava ao lado de Witsel. Se tiver de jogar sozinho terá mais dificuldades, pois não é grande nem forte fisicamente. E eu acho que um trinco que jogue sozinho tem de ser um daqueles "negões" para darem pau. Defour é pequeno e bate pouco...

2
Reconhece-lhe qualidade para ser eventualmente, no futuro, o substituto de Fernando?

Sem dúvida. Em Portugal, como na Bélgica, o trinco não é aquele que só defende. Tem liberdade para sair para o jogo. Especialmente num clube grande como o FC Porto, que tem mais bola e pressiona muito. Mas não podemos esquecer que Fernando é um dos melhores trincos da Europa. Nem sei porque não está na seleção. O Brasil precisa de um trinco como ele. É parecido com Gilberto Silva. Se sair do FC Porto para uma equipa maior, vai ser chamado à seleção.

3
Alguma vez o Defour mostrou desagrado por ser forçado a jogar mais recuado?

Não. Pelo que eu sei, ele gosta até muito de jogar a trinco, desde que seja como trinco falso. Ou seja, com um apoio próximo, que lhe permita algumas vezes atacar e chegar-se perto da baliza. Isso porque o Defour não gosta de ficar parado. Joga em permanente rotação. No Standard tinha o Witsel. No FC Porto tem o João Moutinho. A jogar sempre com ele, assegura o futuro.

in "ojogo.pt"

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