sábado, 26 de maio de 2012

Paulinho Santos: "Foi em Viena que começámos a ser os melhores"


Percebeu o que era ser portista quando, com oito ou nove anos, o pai lhe perguntou de que clube era. A resposta valeu-lhe uma camisola e alimentou um sonho que se transformaria numa obsessão: Paulinho Santos só pensava em jogar no FC Porto.

Onde estava no 27 de maio?
Assisti ao jogo em casa, nas Caxinas. Vivi o momento como todos os portistas: com grande ansiedade até ao final do encontro e com muita felicidade após a vitória. Ser campeão europeu foi um marco histórico.

Conhecia o André? Como é que a comunidade local, tendo um representante em Viena, viveu a final?
Não o conhecia pessoalmente, mas via-o muitas vezes. Já na altura tinha uma enorme admiração por ele. Parecia que o jogo nunca mais começava e essa ansiedade só desapareceu quando tivemos a certeza do triunfo. Depois, viemos todos para a rua gritar e comemorar. Foi uma alegria a dobrar: o FC Porto venceu e entre os campeões estava um representante da nossa terra. A noite tornou-se inesquecível.

Como foi o André recebido no regresso?
Não me lembro da receção ao André em concreto, mas recordo-me que houve festejos durante a noite e o dia todo.

Tinha 16 anos na altura. Em quem se revia quando jogava? Quem procurava imitar?
Estava no Rio Ave e sempre sonhei jogar no FC Porto. Sinceramente não pensava em ninguém em particular; só queria mesmo representar o FC Porto.

De que forma é que esses dias influenciaram a sua relação com o FC Porto?
Na altura, já era adepto do FC Porto, tal como o meu pai e um dos meus irmãos. Esta conquista serviu para nos motivar ainda mais. Traduziu um ponto de mudança na vida de todos os portistas, que passaram a ter um desejo cada vez maior de vitórias. Foi um momento de viragem nesse sentido.

Ia ao estádio? Assistiu a algum jogo dessa campanha?
À data, era complicado ir ao Estádio das Antas, pelos custos que uma deslocação ao Porto implicava, mas lembro-me de assistir a um jogo do FC Porto em Vila do Conde, já depois da conquista da Taça dos Campeões Europeus, e recordo-me que a euforia ainda era muito grande, mesmo já tendo passado um ano.

Recuemos um pouco. Qual é a sua primeira memória do FC Porto, o dia em que percebeu que era portista?
Quando tinha oito ou nove anos, o meu pai perguntou-me de que clube é que eu era; respondi-lhe que gostava do FC Porto e ele ofereceu-me uma camisola, que guardei com muito carinho.

Apercebe-se do que mudou na forma como o FC Porto era visto então e como é visto hoje?
Em termos de nome, mudou tudo. Completamente. Começámos a ter um tipo de trabalho diferente e a ganhar mais troféus. E, acima de tudo, começámos a ser os melhores.

Chegou a jogar com alguns dos vencedores dessa Taça dos Campeões. Como era a sua relação com eles? Como foi o primeiro contacto e como se sentia perante pessoas que idolatrava anos antes?
Foi fantástico jogar com figuras como o Jaime Magalhães, o André e o João Pinto. Mas não só. Também foi importante conhecer o Lima Pereira e o Fernando Gomes, por exemplo, que mais tarde vieram a integrar a estrutura do FC Porto. Sentia um orgulho enorme pelo que fizeram. Serviram de inspiração para todos nós. Nutria muito respeito, carinho e amizade por eles.

O que acha que herdou de médios como André, Sousa, Jaime Pacheco?
No FC Porto, todos herdam um pouco uns dos outros. A nossa cultura é ganhar; não olhamos para nós, mas para o grupo, para os adeptos e para toda a estrutura. Todos os que se envolvem também ganham; não são só os jogadores. É precisamente essa mentalidade que nos distingue dos demais.

Que valores de clube foram representados por essa geração, quais deles foram marcantes para si enquanto jogador do FC Porto e quais tenta transmitir hoje como treinador?
É como acabei de dizer: o FC Porto é diferente, porque aqui sentimos que todos ganham. Olhamos para todos e para tudo o que nos envolve e não apenas para nós.

Focado em ser Dragão


Ao contrário da maior parte das figuras dos últimos 25 anos do FC Porto que temos entrevistado ao longo desta semana, Paulinho Santos é perentório em afirmar que via o seu futuro como futebolista nas Antas. A obsessão tomou conta do jovem médio, então ainda nas escolas do Rio Ave, clube pelo qual se estrearia no futebol sénior antes de, em 1992, cumprir o seu destino. “Queria ser jogador de futebol e, mais do que tudo, queria jogar no FC Porto, fosse em que desporto fosse. O meu sonho era ganhar títulos no FC Porto, nem que tivesse de jogar outra modalidade”, refere a esta distância. Sem especial interesse ou apetência pelos estudos, Paulinho Santos seguiu o trilho do também caxineiro André, com quem ainda se chegou a cruzar nos azuis e brancos. Com mais 300 jogos, foi sete vezes campeão nacional, conquistando ainda quatro Taças e cinco Supertaças. Como jogador do FC Porto, esteve ainda no Europeu de 1996.

in "ojogo-pt"

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