Natural de Espinho, Vítor Pereira tem nos Açores uma
segunda casa. Foi por não esquecer o arquipélago e
acreditar que graças à oportunidade que o Santa Clara lhe
deu é que hoje é campeão nacional, que o
técnico escolheu a bandeira açoriana para festejar.
"É o reconhecimento de que a passagem dele pelos Açores
foi muito importante. É gratificante para nós. Ainda
mantemos uma relação muito forte", explica-nos
Mário Batista, presidente do Santa Clara, que ainda no fim de
semana passado esteve algum tempo à conversa com o treinador na
Figueira da Foz, onde este foi ver o jogo com a Naval. "Vê o
Santa Clara sempre que pode. Não se esquece de nós, nem
nós dele. Falamos muitas vezes por telefona", completa o
presidente.
Vítor Pereira viveu dois anos sozinho em Ponta Delgada e
nunca se esquecerá do apoio que recebeu e do carinho das pessoas
que o fizeram sentir-se em casa. "Nos dias em que estava mais triste,
surpreendia-o com camarão grelhado. Ele levantava-se e dava-me
um abraço. Dizia que no restaurante tinha a segunda
família", conta-nos Vítor Duarte, dono do restaurante
onde Vítor Pereira comia todos os dias.
Desde que deixou o Santa Clara, Vítor Pereira foi duas vezes
aos Açores. Na primeira para ministrar um curso de treinadores
na AF de Ponta Delgada. Noutra a acompanhar uma comitiva da Dragon
Force. "A agenda dele é agora muito preenchida. Tenho a certeza
de que gostaria de vir mais vezes", confirma Mário Batista.
"Sempre que veio, passou pelo restaurante para visitar-nos. É
muito ligado à família e aos amigos. E dá-me
sempre a entender que um dia compra uma casa aqui. Não tenho
dúvidas de que somos a sua segunda família. E por isso a
bandeira", completa Vítor Duarte.
Foi no restaurante que conheceu alguns padres que o ajudaram a
orientar a sua fé. José Constância é aquele
com quem mantém contacto. "Tinha prestígio nos
Açores e era uma pessoa muito reservada. Mas falávamos
sobre a fé e espiritualidade e abordávamos
questões que o ajudavam na sua profissão, como o
autocontrole ou a gestão das emoções. A
esperança que a fé transmite dava-lhe muito otimismo em
relação à sua profissão", sublinha.
Homenagem prevista em Espinho
O espinhense de maior sucesso nesta época desportiva tem
prevista uma homenagem na Câmara Municipal da cidade, a 16 de
junho. Essa é a intenção da autarquia, mas
está ainda sujeita à anuência de Vítor
Pereira, que nessa fase já terá uma agenda muito
preenchida e condicionada pela preparação da nova
época portista, que começa a 2 de julho. Entretanto, o
treinador terminará hoje a peregrinação a
Fátima que iniciou na segunda e que repete em
relação a outras épocas. "Tem uma base
cristã muito consolidada e é um católico
esclarecido e praticante. É devoto da Srª de
Fátima", frisa o Padre Constância, que de vez em quando
é procurado pelo técnico para conversar.
Curiosidades
> Mergulho
Dar um mergulho no mar, sozinho e ao fim da tarde, era um
hábito de Vítor Pereira nos Açores. Diz quem o
conhece que o fazia especialmente depois de uma derrota, para o ajudar
a superar e seguir em frente. A Praia do Pópulo, em frente
à sua casa, era a preferida.
> Tática à mesa
Era no Restaurante Mariserra que Vítor Pereira comia todos os
dias. Depois da refeição, era capaz de ficar horas
à mesa a desenhar táticas e a apontar notas num bocado de
papel que pedia ao balcão. Caneta também nunca levava.
> Filipe ao lado
O adjunto Filipe Almeida era das poucas companhias de Vítor
Pereira. Também ele deixou saudades nos Açores, pela
responsabilidade e feitio pacato que mostrava, apesar da juventude.
Enquanto Vítor Pereira escrevia as táticas, Filipe
Almeida devorava futebol no computador.
> Espião nos bares
Recatado, era raro o dia em que Vítor Pereira saía
à noite. Quando ia a um bar, era para ver se algum dos seus
jogadores andava na noite a prevaricar. Vinho não apreciava. No
máximo bebia uma cerveja.
> Bifinhos e feijão
No dia seguinte a tornar-se campeão, Vítor Pereira
ligou para o amigo Vítor Duarte a dizer que o que lhe apetecia
mesmo era almoçar os bifinhos com feijão típicos
do seu restaurante e que se tornaram rapidamente no seu prato
preferido. Além disso, comia muito peixe grelhado com legumes.
> Até os infantis
A admiração dos açorianos nasceu com a
dedicação que mostrava ao clube. Era tanta que chegava a
ir ver jogos de infantis e iniciados e a privar com os pais das
crianças. Quem o fez destaca o feitio simples e afável.
3 questões
Luís Miguel
Treinador do Santa Clara e cunhado de Vítor Pereira
"Aqui recordam-no
com nostalgia"
1
No Santa Clara e em Ponta Delgada ainda se sente a passagem de Vítor Pereira pelos Açores?
Sim, claro que se sente. A direção do clube ainda hoje
se gaba da aposta de risco que fez em Vítor Pereira. Ele deixou
excelente imagem aqui, essencialmente pela dedicação
total ao clube e por ter lutado pela subida de divisão.
Acompanhava 24 horas por dia o clube, não só a equipa
profissional como também a formação.
2
Ficou surpreendido por ver o seu cunhado festejar o título com uma bandeira do arquipélago?
Apesar de eu saber a ligação que ele mantém a
esta ilha e a esta gente, sim, fiquei surpreendido. Mas ele é
assim, consegue sempre surpreender-nos. Conversei com ele a seguir
à festa, mas não me explicou o porquê. Foi um gesto
espontâneo, com um significado que só ele saberá
exatamente qual é.
3
Podemos dizer que os habitantes de Ponta Delgada, mesmo os não portistas, torceram pelo sucesso dele no FC Porto?
As pessoas recordam-no com alguma nostalgia. Além do
caráter do Vítor, gostavam do caráter dos
jogadores que ele escolheu para o Santa Clara e do jogo de ataque e
posse que a equipa privilegiava. Não tenho dúvida de que
as pessoas da ilha torciam para ele ser campeão. Mesmo alguns
que são adeptos de outros clubes.
in "jogo.pt"
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