quinta-feira, 17 de maio de 2012

Título começou nos Açores

Natural de Espinho, Vítor Pereira tem nos Açores uma segunda casa. Foi por não esquecer o arquipélago e acreditar que graças à oportunidade que o Santa Clara lhe deu é que hoje é campeão nacional, que o técnico escolheu a bandeira açoriana para festejar. "É o reconhecimento de que a passagem dele pelos Açores foi muito importante. É gratificante para nós. Ainda mantemos uma relação muito forte", explica-nos Mário Batista, presidente do Santa Clara, que ainda no fim de semana passado esteve algum tempo à conversa com o treinador na Figueira da Foz, onde este foi ver o jogo com a Naval. "Vê o Santa Clara sempre que pode. Não se esquece de nós, nem nós dele. Falamos muitas vezes por telefona", completa o presidente.
Vítor Pereira viveu dois anos sozinho em Ponta Delgada e nunca se esquecerá do apoio que recebeu e do carinho das pessoas que o fizeram sentir-se em casa. "Nos dias em que estava mais triste, surpreendia-o com camarão grelhado. Ele levantava-se e dava-me um abraço. Dizia que no restaurante tinha a segunda família", conta-nos Vítor Duarte, dono do restaurante onde Vítor Pereira comia todos os dias.
Desde que deixou o Santa Clara, Vítor Pereira foi duas vezes aos Açores. Na primeira para ministrar um curso de treinadores na AF de Ponta Delgada. Noutra a acompanhar uma comitiva da Dragon Force. "A agenda dele é agora muito preenchida. Tenho a certeza de que gostaria de vir mais vezes", confirma Mário Batista. "Sempre que veio, passou pelo restaurante para visitar-nos. É muito ligado à família e aos amigos. E dá-me sempre a entender que um dia compra uma casa aqui. Não tenho dúvidas de que somos a sua segunda família. E por isso a bandeira", completa Vítor Duarte.
Foi no restaurante que conheceu alguns padres que o ajudaram a orientar a sua fé. José Constância é aquele com quem mantém contacto. "Tinha prestígio nos Açores e era uma pessoa muito reservada. Mas falávamos sobre a fé e espiritualidade e abordávamos questões que o ajudavam na sua profissão, como o autocontrole ou a gestão das emoções. A esperança que a fé transmite dava-lhe muito otimismo em relação à sua profissão", sublinha. 

Homenagem prevista em Espinho

O espinhense de maior sucesso nesta época desportiva tem prevista uma homenagem na Câmara Municipal da cidade, a 16 de junho. Essa é a intenção da autarquia, mas está ainda sujeita à anuência de Vítor Pereira, que nessa fase já terá uma agenda muito preenchida e condicionada pela preparação da nova época portista, que começa a 2 de julho. Entretanto, o treinador terminará hoje a peregrinação a Fátima que iniciou na segunda e que repete em relação a outras épocas. "Tem uma base cristã muito consolidada e é um católico esclarecido e praticante. É devoto da Srª de Fátima", frisa o Padre Constância, que de vez em quando é procurado pelo técnico para conversar. 
 

Curiosidades

> Mergulho
Dar um mergulho no mar, sozinho e ao fim da tarde, era um hábito de Vítor Pereira nos Açores. Diz quem o conhece que o fazia especialmente depois de uma derrota, para o ajudar a superar e seguir em frente. A Praia do Pópulo, em frente à sua casa, era a preferida.
> Tática à mesa
Era no Restaurante Mariserra que Vítor Pereira comia todos os dias. Depois da refeição, era capaz de ficar horas à mesa a desenhar táticas e a apontar notas num bocado de papel que pedia ao balcão. Caneta também nunca levava.
> Filipe ao lado
O adjunto Filipe Almeida era das poucas companhias de Vítor Pereira. Também ele deixou saudades nos Açores, pela responsabilidade e feitio pacato que mostrava, apesar da juventude. Enquanto Vítor Pereira escrevia as táticas, Filipe Almeida devorava futebol no computador.
> Espião nos bares
Recatado, era raro o dia em que Vítor Pereira saía à noite. Quando ia a um bar, era para ver se algum dos seus jogadores andava na noite a prevaricar. Vinho não apreciava. No máximo bebia uma cerveja.
> Bifinhos e feijão
No dia seguinte a tornar-se campeão, Vítor Pereira ligou para o amigo Vítor Duarte a dizer que o que lhe apetecia mesmo era almoçar os bifinhos com feijão típicos do seu restaurante e que se tornaram rapidamente no seu prato preferido. Além disso, comia muito peixe grelhado com legumes.
> Até os infantis
A admiração dos açorianos nasceu com a dedicação que mostrava ao clube. Era tanta que chegava a ir ver jogos de infantis e iniciados e a privar com os pais das crianças. Quem o fez destaca o feitio simples e afável. 

3 questões

Luís Miguel
Treinador do Santa Clara e cunhado de Vítor Pereira
"Aqui recordam-no
com nostalgia"
1
No Santa Clara e em Ponta Delgada ainda se sente a passagem de Vítor Pereira pelos Açores?
Sim, claro que se sente. A direção do clube ainda hoje se gaba da aposta de risco que fez em Vítor Pereira. Ele deixou excelente imagem aqui, essencialmente pela dedicação total ao clube e por ter lutado pela subida de divisão. Acompanhava 24 horas por dia o clube, não só a equipa profissional como também a formação.
2
Ficou surpreendido por ver o seu cunhado festejar o título com uma bandeira do arquipélago?
Apesar de eu saber a ligação que ele mantém a esta ilha e a esta gente, sim, fiquei surpreendido. Mas ele é assim, consegue sempre surpreender-nos. Conversei com ele a seguir à festa, mas não me explicou o porquê. Foi um gesto espontâneo, com um significado que só ele saberá exatamente qual é.
3
Podemos dizer que os habitantes de Ponta Delgada, mesmo os não portistas, torceram pelo sucesso dele no FC Porto?
As pessoas recordam-no com alguma nostalgia. Além do caráter do Vítor, gostavam do caráter dos jogadores que ele escolheu para o Santa Clara e do jogo de ataque e posse que a equipa privilegiava. Não tenho dúvida de que as pessoas da ilha torciam para ele ser campeão. Mesmo alguns que são adeptos de outros clubes. 

in "jogo.pt"

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