sábado, 8 de dezembro de 2012

F.C. Porto-Moreirense, 1-0 (crónica)


Longa se torna a espera quando o golo chega ao 22º remate. Só ao 22º remate. As ameaças inquietam, o atraso aflige, as más notícias aparecem sempre mais depressa do que as boas. Seja como for, o desassossego do F.C. Porto foi sanado por Jackson. A tempo da equipa reaprender a sorrir. 


O mal dos dragões terá sido esse. Pressionados por duas derrotas consecutivas, entraram em campo sisudos, incapazes de sentir prazer com o toque da bola. Quiseram resolver tudo depressa, mas a questão revelou-se mais intrincada do que se esperava. A paciência virou impertinência, a ambição transformou-se em desespero e o medo instalou-se até ao pontapé número 22. 



O F.C. Porto foi sério e honesto. É bom que isso fique claro. Mas não foi capaz de decidir bem. Minuto após minuto, segundo após segundo, aumentou a pressão sobre o Moreirense e aumentou a pressão sobre si mesmo. A dada altura deixou de ser capaz de respirar e pensar.



O relógio virou-se ao contrário, o tic-tac passou a contar de trás para a frente, como se houvesse uma bomba relógio pronta a explodir nas mãos dos bicampeões nacionais. Não era caso para tanto. 



Os maus resultados são potencialmente contagiosos. Uma espécie de Ébola no organismo das equipas. A lógica encontra jurisprudência em vários casos. O F.C. Porto, letrado e informado, teve consciência disso e passou a assustar-se com a própria sombra. 



Pontapé após pontapé, Jackson e James, Moutinho e mais Jackson, a bola não entrava. Por vezes de forma escandalosa, outras por mérito de Ricardo Ribeiro e ainda mais por uma questão de sorte ou apenas futebol. 



Os lances repetiam-se e por trás de cada movimento pressentia-se o espetro de um serial killer. Todos estes instantes sugeriam perigo, golo, sangue, e todos terminavam como se fossem uma brincadeira de Carnaval. Pistolas a esguichar água, facas de plástico a enrugarem-se, arco e flecha de brincadeira. 



A somar a todo este mundo de aventuras inócuas, a lesão de Lucho. Vítor Pereira inovou e lançou o menino Kelvin. Um brinca na areia entusiasmante, mas com muito por provar. Juntou-se ao coro de avisos e desperdício, ao conjunto de boas intenções e remates ao lado. 



Depois apareceu Kléber e o dragão passou a ter dois pontas-de-lança, com James a passar de extremo a dez e de dez a extremo. 



O Moreirense sobrevivia, é certo, mas em sofrimento. Olhava para cima e via pendurada sobre si a espada de Dâmocles. O fio que a sustinha era fino, quase transparente e a qualquer instante rasgava-se. 



Aconteceu ao minuto 71, ao 22º remate. Tantas tentativas frustradas, tanto receio acumulado, até ao cabeceamento do colombiano-mor, señor Jackson, após canto de James Rodríguez. Era preciso tanto? Não, naturalmente que não. A rever, a evitar, se o F.C. Porto quiser ser o que já foi este ano. 



Longa se torna a espera, de facto, quando a aflição atrapalha o talento se mascara. 


in "maisfutebol.iol.pt"


1 comentário:

dragao vila pouca disse...

Foi uma vitória justa, só deu F.C.Porto, mas faltou brilho e eficácia, no regresso do bi-campeão às vitórias. Quem viu o jogo e o início prometedor do F.C.Porto - aos 3 minutos, Jackson e James, já tinham desperdiçado duas boas oportunidades -, acreditou que ia ser uma noite tranquila e a vitória seria construída sem grandes dificuldades. Não fim assim. E não foi assim porque a equipa de Vítor Pereira durante a primeira-parte, apesar do dominar claramente e acrescentar, às já ciatadas, mais algumas chances, nunca carregou, nunca pressionou, nunca mostrou grande inspiração, nunca escolheu as melhores soluções para ultrapassar uma barreira de um Moreirense que só defendia. Pouca profundidade, pouca criatividade, muita lentidão a pensar e executar, jogadores muito estáticos, uma pasmaceira, 45 minutos de serviços mínimos. Embora e como já disse, a equipa azul e branca tivesse algumas oportunidades e até pudesse ter ido para o intervalo em vantagem, o nulo era castigo merecido pelo que o F.C.Porto não tinha feito.

Sabendo que ou mudava a atitude, carregava no acelerador e subia a qualidade, ou juntava a duas derrotas consecutivas, um resultado comprometedor e de difícil digestão, o conjunto de Vítor Pereira, que entrou com Kelvin - bons pormenores, mas alguma ansiedade natural -, no lugar de um pouco inspirado Lucho - mais tarde entraria Kléber que não acrescentou muito, para o lugar de mais outro dos desinspirados da noite, Silvestre Varela -, aumentou o ritmo, pressionou melhor, a qualidade subiu e mesmo continuando perdulário, chegou ao golo e à vitória, por Jackson, faltavam 20 minutos para o fim. Aberta a contagem, feito o mais difícil, a equipa bi-campeã ainda teve mais uma ou outra oportunidade de aumentar a contagem, não o conseguiu e nos últimos minutos, mesmo sem nunca ver a sua baliza em perigo, houve alguma ansiedade na plateia do Dragão.

Resumindo, concluindo e repetindo, vitória da melhor equipa, da única que quis ganhar, por números escassos, numa noite de pouca inspiração e apenas 45 minutos de transpiração.
Cansaço físico e mental? Vou mais por uma má abordagem, em particular nos 45 minutos iniciais e pela fraca prestação de muitos dos que normalmente fazem a diferença. Em particular Moutinho, embora melhorasse muito na segunda-parte, nunca esteve ao seu nível e James, complicativo, lento, raramente escolhendo as melhores opções. Gostei muito, tem sido uma constante, de Otamendi; também de Mangala; mais de Alex Sandro que de Danilo; Helton não teve que fazer e Atsu entrou já no final do jogo e não deu para mostrar nada. Temos quase uma semana par o próximo jogo, em Setúbal, aí já não há cansaço e portanto, espero um Porto melhor, no último jogo para o campeonato - ainda haverá um para a Taça da Liga, frente ao Nacional, na Madeira - antes da pausa natalícia.

Notas finais:
Excelente vitória do F.C.Porto sobre o Benfica, 28-27, num grande jogo de Andebol.
Relvado do Dragão: aprovado!
Os últimos são os primeiros: Deco, o mágico nº10 que joga com os dois pés, esteve esta noite no Dragão e foi recebido como merece, com um estádio em pé a aplaudi-lo e cantar o nome dele.

Abraço