Eduardo Lara traçou-lhe a sentença: nunca dará jogador. Vai respondendo a cada toque na bola
Juan Quintero, o talento que foi uma das grandes revelações do Mundial Sub-20, não nasceu para jogar futebol. A afirmação não é nossa, no entanto. Pertence a Eduardo Lara, ex-selecionador sub-17 da Colômbia. E terá sido dita, cara a cara, ao reforço do F.C. Porto.
«Não só privou-me de um Mundial Sub-17 como me disse umas palavras muito duras, que nem quero repetir, e que me fizeram sentir muito mal e desiludido comigo mesmo», assumiu o jogador numa entrevista ao jornal «El Tiempo», do seu país, em 2010.
O problema? Era demasiado pequeno. A história nunca foi contada oficialmente, mas Lara terá mesmo dito a Quintero para deixar o futebol e arranjar outra ocupação. «Talvez te safes como vigilante...» Na flor da idade e com muitos sonhos a preencher a cabeça, é difícil encontrar algo que magoe mais.
O novo reforço portista teve de ser muito apoiado para continuar. Felipe Paniagua, presidente do Envigado, onde o colombiano se formou, conta ao Maisfutebol como o ajudou a ultrapassar esse período.
«O Lara gostava de jogadores grandes, potentes. Privilegiava o contacto físico. Ora, isto não tinha nada a ver com as características do Juan. Nunca soube ao certo o que lhe disse, foi algo que ficou entre eles. O Juan ficou algo afetado mas teve sempre o apoio do clube», conta Paniagua.
O Envigado garante que nunca teve dúvidas sobre o talento que descobriu com 12 anos. «Ele foi a figura de um torneio muito importante no país para aquelas idades. Aos 16 já treinava com a equipa principal e assinou o primeiro contrato», revela.
Um golo nos descontos e uma lesão arrepiante
A verdade é que o perfil de Juan Quintero não desagradava apenas a Eduardo Lara. «No início, como ele era assim pequeno e parecia frágil, os treinadores tinham algum receio em colocá-lo a jogar na primeira equipa. Mas em 2009 começou a jogar de vez em quando e mostrou logo qualidades», acrescenta.
Uma eliminatória com o Deportivo Pasto, que permitia a subida de Divisão, ficou na memória dos adeptos e do próprio Quintero. Por bons e maus motivos.
«No jogo da primeira mão, entrou aos 90 minutos e ainda conseguiu mandar uma bola ao poste e marcar o golo da vitória. Na segunda mão correu pior. Entrou a 15 minutos do fim e sofreu uma lesão gravíssima: fratura da tíbia. Esteve parado seis meses», conta Paniagua, que frisa que voltou ainda mais forte. «Em 2010 já era, praticamente, uma certeza no clube», refer.
«Com a bola nos pés faz maravilhas»
Felipe Paniagua acredita que Quintero poderá explodir em Portugal. «A Liga portuguesa adapta-se mais ao estilo dele. Em Itália há muitos cuidados defensivos. Em Portugal o jogo é mais coletivo e, além disso, está numa das duas melhores equipas do país e vai jogar competições importantes», recorda.
Para o Envigado já é normal ver jogadores formados no clube a brilhar no estrangeiro. Foi assim com Fredy Guarin ou James Rodríguez, por exemplo. O presidente aproveita para separar as águas entre James e Quintero, contudo.
«James joga melhor na ala do que o Juan. Ele é um dez puro. Não é tão forte sem bola, mas com a bola nos pés faz maravilhas. Tem uma técnica impressionante e é muito inteligente», sublinha.
Por isso, acredita que o F.C. Porto fez a escolha certa e Quintero também. E deixa uma última nota que serve para uma reflexão paralela: «Ainda bem que em Portugal não têm regras a bloquear os jogadores estrangeiros, como em outros países. A Colômbia tem um potencial enorme e era, até há pouco, um mercado inexplorado.»
in "maisfutebol.iol.pt"
Sem comentários:
Enviar um comentário