Uma longa reta. De prego a fundo durante 60 minutos, em desaceleração no derradeiro terço. Curvas? Nem uma. Obstáculos? Apenas a miragem do aborrecimento.
Lembram-se dos Washington Generals? Acompanharam anos a fio os geniais Harlem Globetrotters em digressões mundiais. Faziam parte do espetáculo, mas sem nunca beliscar o brilhantismo dos protagonistas. Perdiam e tinham gosto na derrota.
Salvo as devidas diferenças, o Belenenses teve momentos em que pareceu confortável na pele de dominado. Desinteressado, impotente, incapaz de incomodar por uma vez que fosse Fabiano Freitas. O show era do FC Porto e os homens da Cruz do Cristo não tinham objeções a levantar.
Lito Vidigal queixara-se do pouco tempo de recuperação, após os 7-1 sofridos em Braga, e até fez seis mudanças na equipa inicial. Mas nada, nem mesmo essa rotação, explica uma noite tão pobre, paupérrima, dos lisboetas na Cidade Invicta. Só no período de descontos andaram perto do golo de honra.
Muita dessa incapacidade está diretamente ligada à exibição convincente do FC Porto, obviamente.
Óliver Torres de mãos seguras e pés de veludo com o volante, Herrera de pulmão cheio a ser o combustível perfeito, Jackson Martinez a funcionar como motor de arranque na explosão do marcador.
O décimo terceiro golo do colombiano tem tanto de simples como de feroz, de resto. Óliver a servir Herrera, o mexicano a cruzar em jeito, Ventura e Tikito por terra, Jackson a encostar de cabeça. Nove minutos de jogo.
Primeira aceleradela, Belenenses perdido no fumo azul e branco, uma pista em exclusivo para o FC Porto usufruir.
Provando que é possível ter vários amores sem estar louco, os dragões foram primeiro contundentes e mais tarde conscientes. Dos passes verticais à procura das fugas de Herrera, a equipa passou ao futebol curto e tricotado por Óliver. Tudo válido, tudo a eclodir no 2-0.
Autor? Óliver, o melhor em campo. E já leva cinco golos na Liga. Para quem assumia que a finalização era um problema…
A 40 minutos do apito final, o jogo estava decidido e mais do que decidido. O Belenenses, tantas vezes alvo de encómios esta época (e de forma justa) deixou uma imagem horrível péssima. Nem uma jogada interessante, nem uma nota de incómodo à baliza do FC Porto até aos 90+3 minutos.
Logo a seguir, Evandro aproveitou para marcar pela primeira vez de dragão ao peito. Entrou bem, tal como Quintero e Adrián López.
A noite do FC Porto foi como o cartaz de Estrada Perdida, o filme de David Lynch. Muito alcatrão, tracejado, uma reta com nulo grau de dificuldade e olhos no horizonte. Uma reta feita em total segurança. Sem distrações.
in "maisfutebol.iol.pt"
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