José Maria Pedroto foi a transferência mais cara do futebol português durante 15 anos, ao trocar, ainda enquanto jogador, o Belenenses pelo FC Porto, e não ficou célebre apenas pelos títulos que conquistou, pelas inovações tácticas ou pela condição de um dos mentores do FC Porto europeu. Pedroto ficou igualmente conhecido e ainda hoje é admirado pela audácia com que abordava polémicas e questões-tabu, pela ironia refinada, pela forma como impunha a sua liderança e por expressões famosas, como os “roubos de igreja”.
Neste texto, o www.fcporto.pt recupera dez curiosidades e episódios sobre o “Mestre” que talvez desconheça e que ajudam a traçar o perfil de um génio:
- José Maria Pedroto continua a ser o português com mais Taças de Portugal no currículo. São sete. Objectivamente e como treinador, são cinco: duas com o FC Porto, duas com o Boavista e mais uma com o Vitória de Setúbal, número que já chegava para constituir recorde. Mas quando se fala de Taça, nunca é de mais lembrar que tem mais duas enquanto jogador do FC Porto.
- Para o ‘Mestre’, o jogo mais difícil do primeiro bicampeonato do FC Porto em regime democrático (1977-79) não foi nem com o Benfica nem com o Sporting, como seria de supor. Foi com o Beira-Mar, a 17 de Dezembro de 1978, em Aveiro (2-3), onde, reconheceu Pedroto, os azuis e brancos conquistaram “os dois pontos mais preciosos do bicampeonato, o jogo em que mais tivemos que sofrer para os merecer”.
- Pertence a José Maria Pedroto a famosa frase que coloca o adepto à frente da equipa. “A massa associativa do FC Porto não é o 12.º jogador, como se diz por aí. É o 1.º jogador, porque sem ela o futebol não tinha razão de existir”, disse, em Abril de 1979.
- Pedroto deu os primeiros toques na bola inspirado no também imortal Pinga, o ídolo que fez com que José Maria, ainda criança, passasse tardes a fio na Constituição, na tentativa de registar todos os movimentos do génio madeirense. Chegou ao ponto de imitar o seu estilo de correr e maneira de andar, o que resultou. Tal como Pinga, Pedroto foi um ‘interior’ de excepção.
- José Maria Pedroto foi o primeiro jogador do FC Porto a vencer o prestigiado troféu de “Melhor Futebolista do Ano”, instituído em 1954 pelo já extinto jornal ‘Diário Popular’. A distinção foi feita no ano desportivo de 1956, com Pedroto a suceder aos sportinguistas Carlos Gomes e a Travassos.
- Caso não tivesse sido futebolista e, posteriormente, treinador, Pedroto gostaria de ter sido toureiro. “Gosto de ser aplaudido”, assumiu em entrevista. Assim sendo, escolheu bem: o futebol é o palco mais universal e generoso da planeta.
- Por incrível que pareça, era relativamente fácil perceber quando José Maria Pedroto ia assinar contrato. Apesar de o secretismo ser a alma do negócio, especialmente no futebol, Pedroto deixava-se atraiçoar pelo cuidado que colocava em tudo. Quando surgia aos amigos ao volante do seu automóvel de marca Jaguar, era infalível: era dia de assinar ou renovar contrato. “Tenho de levar este carro, para fazer valer os meus direitos”, justificava, sorridente.
- Antigo treinador do Vitória de Setúbal, José Maria Pedroto, já na qualidade de treinador dos azuis e brancos, teve de sair do Bonfim vestido com uma farda de polícia para passar despercebido e escapar à fúria dos sadinos após um efervescente Vitória-FC Porto.
- Pedroto-jogador regressou ao Porto com 23 anos, vindo do Belenenses, e antes de assinar com o FC Porto, a 15 de Agosto de 1952, estabeleceu-se como sócio-gerente do Café Apolo, sito nos ângulos da Rua do Almada com a Rua Ramalho Ortigão, assumindo a gerência do estabelecimento a partir de 1 de Agosto de 1952.
HISTÓRIAS DO “MESTRE” REVIVIDAS POR PINTO DA COSTA
Presidente foi um dos convidados da tertúlia que assinalou as três décadas do desaparecimento de José Maria Pedroto
Casa cheia no auditório do Instituto Universitário da Maia (ISMAI) para homenagear “o mestre”, como apelidou o professor universitário José Neto; um “homem de capacidade multifacetada”, como disse Lourenço Pinto, presidente da Associação de Futebol do Porto; o “melhor treinador português de sempre”, como classificou Rodolfo Reis, que foi seu jogador no FC Porto. “Pedroto era um homem de coração, de causas, de paixões, um nortenho a 100 por cento, um lutador incansável, que combatia o centralismo de uma forma aberta”, sintetizou Jorge Nuno Pinto da Costa.
O presidente do FC Porto foi um dos convidados da tertúlia José Maria Pedroto – O Homem para além do Tempo, que teve lugar na noite desta quarta-feira no ISMAI, no dia em que se evocaram os 30 anos do desaparecimento do antigo treinador e jogador. Relatou, com emoção, histórias e episódios que tiveram os dois como protagonistas, recordou, com saudade, as tardes no café Orfeu, as noites na confeitaria Petúlia e os famosos “roubos de igreja quando se visitava a catedral”: “Hoje, se ele fosse vivo… ui! Não vou dizer o que penso que ele diria, porque ainda me podem mover algum processo disciplinar”.
Pinto da Costa passou em revista alguns dos momentos mais marcantes vividos com o eterno Zé do Boné, como o regresso difícil ao FC Porto - que teve que ser aprovado em Assembleia Geral, por proposta do presidente e de outros sócios -, ou a última partida dos Dragões com o antigo técnico no banco, em Penafiel: “O jogo estava complicado e numa daquelas suas ideias momentâneas, que normalmente eram sempre acertadas, meteu o Bobó, que fez o golo. Agarrei-me a ele com um grande abraço e ele disse-me: ‘Ó Jorge Nuno, parece que ganhamos o campeonato!’. Ele não sabia o que me ia na alma. Foi a vitória mais difícil para mim”.
Foi um dia cheio de recordações, de memórias, mas não foi um dia de homenagem, defendeu Pinto da Costa. “Ele está aqui no meio de nós, está aqui connosco. Nós não temos saudades, porque nós estamos sempre com ele, vivemos com ele e havemos de o ter sempre a nosso lado e ele ter-nos-á sempre connosco”.
Na tertúlia participaram ainda Domingos Oliveira Silva, o reitor do ISMAI, Rui Pedroto, filho do antigo treinador, Rodolfo Reis, um dos capitães de Pedroto, o professor universitário Manuel Sérgio e José Neto, que trabalhou com o técnico no FC Porto e que foi o grande responsável por aquela noite de homenagem: “Foi um homem para lá do tempo, que fez da regra disciplina; da disciplina, resultado; do resultado, sucesso. Rompia conceitos, desafiava o erudito e encorajava o intranquilo”, descreveu José Neto, que recordou uma ideia que Pedroto repetia: “Diz-me como jogas e dir-te-ei como deves treinar. Olha para o jogo e ele dir-te-á como deves treinar”.
MUSEU RECORDA LEGADO DE PEDROTO
“Mestre” eternizado através de várias iniciativas e elementos gráficos e plásticos
O Museu FC Porto by BMG mantém, até dia 11 de Janeiro, várias iniciativas que visam recordar Pedroto e valorizar o património material e imaterial a que o ex-jogador e técnico do FC Porto está associado. Descubra neste artigo de que forma está o Museu a colocar o “Mestre” (ainda mais) no mapa da história do FC Porto.
O vídeo-hall da entrada do Museu é o “palco” para um cartaz gráfico em vídeo de homenagem a Pedroto e que acolhe os visitantes do Museu. Contém uma frase, os anos de nascença e morte e associa-se às portas do edifício, em que Pedroto recebe quem o visita. No ecrã junto aos elevadores, pode ver um filme do género “best-of” do “Mestre” e, um pouco mais adiante, no Auditório do Museu, pode assistir à projecção de uma reportagem sobre Pedroto, do Porto Canal (com a duração de cerca de 30 minutos), em contínuo e com entrada livre.
Mas é já no interior do Museu FC Porto que Pedroto assume a verdadeira dimensão histórica que protagoniza e se mistura com o clube. Os colaboradores do Museu, desde a recepção aos orientadores que estão a acompanhar os visitantes, usam um boné à “Zé do Boné”, aos quadradinhos, parecido com o de Pedroto. Há cinco pontos com a silhueta do Mestre que visam chamar a atenção dos visitantes para troféus, estátuas ou documentos que estão associados à memória do ex-treinador e jogador do FC Porto.
Na praça do Museu, em que estão expostos vários troféus, há um deles, inédito, que aguarda os visitantes: o primeiro troféu que Pedroto venceu enquanto treinador principal da equipa sénior, a Taça Waldemar Mota, conquistada em 1966, pela vitória no Torneio Início da AF Porto. Mais adiante na visita, pode assistir a um documentário produzido com a colecção de imagens do Museu e da viúva de Pedroto, com o perfil desportivo do “Mestre” em 1950, 60, 70 e 80, num vídeo de cerca de cinco minutos. É o verdadeiro documento museológico de Pedroto, com fotos, fichas, blocos de notas e recortes de jornais, com uma parte do material inédito a ser revelado pela primeira vez. Pode ainda tirar uma foto com José Maria Pedroto, numa criação especial para esta altura.
No próximo sábado, na Terra do Dragão, o espaço educativo do Museu, haverá ainda uma actividade plástica e gráfica com crianças, com o objectivo de contar a história de Pedroto através de desenhos e pinturas.
in "fcp.pt"
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