Está feito: o FC Porto está a 90 minutos burocráticos de entrar formalmente na Liga Europa depois de uma exibição com ares de Champions. A equação de sucesso começou na inteligência de Falcao e ganhou consistência nas mãos de Helton, solidificando-se em definitivo com um tiro de Souza e com a arte de Belluschi. Quatro sul-americanos frios. Pelo meio, ainda houve dedo de André Villas-Boas, que mexeu - e bem - no que não funcionava. Terá servido de exemplo para outras batalhas, porque esta está ganha.
Vamos às explicações. Por mais que se queira fugir da referência, porque a ideia não é que soe a desculpa, a verdade é que este jogo começou antes... de começar. Sem Hulk, Villas-Boas viu-se forçado ao improviso, sabendo de antemão que, sem ele, perdia a mola que mexe verdadeiramente com a velocidade do jogo. E notou-se.
Ukra foi a aposta, mas é preciso um bocadinho mais do que assinalar essa entrada directa no onze. Surpreendentemente, ainda que familiarizado com o flanco, Ukra posicionou-se à esquerda, deslocando Varela para o lado contrário. Porquê? Talvez porque Villas-Boas não estivesse convencido de que Sapunaru daria ao flanco, de forma regular, a profundidade desejada, e que Álvaro Pereira garantia do lado contrário. Assim, trocando, equilibrava à esquerda um lateral atrevido com o extremo menos rotinado; à direita, conjugava um Sapunaru mais contido com a irreverência de Varela. Uma irreverência teórica, porque Varela foi quase sempre discreto até sair. Belluschi também demorou a arrancar, perdendo-se em deslizes de atenção num meio-campo que, por causa da diferença de desenhos, foi garantindo ao Genk superioridade numérica até às entradas certeiras de Souza e Rúben Micael. Não era uma superioridade de talento, a do Genk, mas, mesmo assim, ter gente a mais nessa zona foi atrapalhando a construção de jogo aos portistas, espevitados aqui e ali por algumas aberturas de Fernando e pela natureza incansável de Falcao.
Incansável e inteligente. Numa jogada que parecia perdida, porque não tinha companhia, o colombiano fez um compasso de espera com a bola nos pés, já na área, e Joneleit fez o resto: uma falta que o árbitro viu e que o público nem queria acreditar que tivesse existido. Indiferente aos assobios, Falcao marcou o penálti e deu a um FC Porto que jogava à velocidade de quem sabia que a eliminatória se podia resolver a duas mãos (e que esta era em casa do adversário, convém lembrar...) uma tranquilidade adicional. O jogo era bonito? Não, não era, mas o FC Porto, mais apostado em moer o juízo ao adversário do que em asfixiá-lo com uma pressão vistosa, tinha-o nas mãos. Deixou-o escorregar por entre os dedos no início da segunda parte, altura em que o Genk imprimiu outra velocidade, esbarrando na segurança de Helton. Uma, duas, três vezes.
Villas-Boas cansou-se e resolveu corrigir: apostou primeiro em Souza, depois em Rúben, sacrificando os dois alas, e - embora com a ajuda preciosa de Matoukou, expulso aos 66' - recuperou o controlo das operações. Uma ou outra vez quebrado por erros nos passes e desatenções defensivas que Helton foi resolvendo até que o resultado magro, virou goleada farta; primeiro com uma bomba de Souza, depois com a arte de Belluschi. Ponto final nesta história e, sem dúvida alguma, nesta eliminatória.
in "ojogo.pt"
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