Um conceito, uma forma de estar e a confiança no plano de operações permitiu ao FC Porto ganhar de forma categórica o primeiro troféu oficial da época. E conseguiu-o com mestria frente ao campeão nacional, que desconfiou da própria sombra e deu-se mal ao tentar regressar ao sistema que na época passada lhe conferiu o êxito, mas que a pré-temporada tem mostrado estar desajustado aos actuais intérpretes. Ao voltar ao 4x4x2, em vez do 4x3x3 que tem ensaiado, Jorge Jesus avaliou mal o adversário e até a própria equipa, que poucas vezes conseguiu jogou de igual para igual com um FC Porto personalizado, que gosta de ter a bola, de a tratar bem, que não dá espaços nem perdeu o que, embora usando um figurino diferente, de bom fazia nas épocas anteriores. E fez o segundo golo numa transição rápida depois de passar grande parte do tempo restante a provar que sabe jogar em ataque continuado e é capaz de explorar os pontos fracos do opositor.
André Villas-Boas apresentou o esquema esperado, alterando apenas uma das personagens cogitadas: Sapunaru apareceu como lateral-direito em vez de Miguel Lopes, o que pode explicar-se pela capacidade de o romeno defender por dentro, dobrar os centrais e jogar bem de cabeça. No resto, foi sem surpresa que se viu o FC Porto fazer posse de bola, atacá-la quando a perde, envolver os laterais nos lances ofensivos e apostar nas vantagens numéricas, como se viu principalmente na primeira parte, quando Varela e Álvaro Pereira, com o apoio de Moutinho ou Belluschi, infernizaram a vida a Rúben Amorim, que raramente contava com o apoio de Carlos Martins.
O Benfica contrapôs o esquema da época passada, com César Peixoto na lateral esquerda, Coentrão a tentar ser Dí Maria e passar algum tempo perdido, sem sequer conseguir ser Coentrão. O meio-campo completava-se com Airton mais recuado, Aimar a tentar ficar na linha de Carlos Martins e Coentrão e Saviola a ter de recuar para receber jogo.
O golo cedo - aconteceu num canto com falhas de marcação mas podia ter ocorrido na jogada bem construída que lhe deu origem - permitiu aos portistas manterem o seu futebol sereno e concentrado, onde é notória a presença de João Moutinho, tanto na dinâmica de jogo como na temporização ou a lutar pela bola. Ao lado dele, há até um novo Belluschi, com quem faz trocas de posição constantes. O argentino, que nunca se deu bem com as transições rápidas e pouca bola nos pés, parece estar agora na praia dele, jogando e fazendo jogar, circulando a bola (só emperra quando chega a Hulk, que mesmo assim foi muitas vezes à linha e jogou para a equipa) ou aparecendo nas zonas de tiro.
Jorge Jesus teimou na estratégia durante uma hora, até trocar (59') Aimar por Jara e fazer de Coentrão médio-interior. Tal como 4x4x2, o 4x3x3 também teve que lidar contra a falta de espaço para jogar, porque o FC Porto roubou bola e espaço, teve a arte de encolher o campo quando lhe dava jeito e de alargá-lo sempre que Varela ou Álvaro Pereira (e mais tarde Rodríguez) exploravam o corredor esquerdo, porque desde cedo tinham descoberto que era por ali que iriam encontrar o mapa da mina. Assim aconteceu aos 67', criando um momento mágico e sentenciando a partida.
A vontade dos jogadores do Benfica, que nunca se renderam, valorizou um jogo intenso, menos conflituoso do que têm sido os clássicos dos últimos anos (mesmo assim César Peixoto devia ter visto vermelho por agressão) e onde ficou claro que, apesar de euforia da pré-época o campeão está bem mais titubeante do que pretendente, que apresentou um conceito bem definido, bem interpretado e no qual os jogadores não só dão mostras de confiarem como transmitem a ideia de lhes ser ajustado.
Benfica 0
FC Porto 2
Jogo no Estádio Municipal de Aveiro
Relvado aceitável
Assistência: cerca de 30 000 espetadores
Árbitro: João Ferreira (Setúbal)
Assistentes Pais António e Luís Ramos
Benfica
Roberto, Ruben Amorim, Luisão (Sidnei, 69), César Peixoto, David Luiz, Airton, Carlos Martins, Pablo Aimar (Jara, 59), Fábio Coentrão (Gaitán, 77), Saviola e Cardozo
Suplentes: Júlio César, Maxi Pereira, Sidnei, Javi Garcia, Gaitán, Jara e Nuno Gomes)
FC Porto
Helton, Sapunaru (Miguel Lopes, 74), Rolando, Maicon, Álvaro Pereira, Fernando, João Moutinho (Raul Meireles, 81), Belluschi, Varela (Cristian Rodriguez, 69), Hulk e Falcao
Suplentes: Beto, Miguel Lopes, Sereno, Souza, Raul Meireles, Ukra e Cristian Rodriguez)
Ao intervalo 0-1
Golos
0-1, Rolando, 03 minutos; 0-2, Falcao, 67
Cartão amarelos: Fernando (19), Fábio Coentrão (30), Luisão (47), Aimar (51), Álvaro Pereira (56), David Luiz (57), Sapunaru (57), Jara (63), João Moutinho (76) e Helton (86)
in "ojogo.pt"
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