O Braga já não vai apanhar ninguém desprevenido. A convicção é de André Villas-Boas e baseia-se na excelente época realizada pelos minhotos em 2009/10 e pelo recente apuramento para a fase de grupos Liga dos Campeões. Na véspera de receber o vice-campeão nacional no Dragão, o técnico garantiu um FC Porto organizado e capaz de manter o registo vitorioso dos seis jogos anteriores. Mesmo que a paragem tenha condicionado a preparação do encontro.
Como perspectiva o jogo com o Braga?
Queremos continuar a ganhar e a paragem não ajuda as dinâmicas que estão construídas. Ontem [anteontem] foi para recuperação porque os internacionais chegaram tarde das selecções e o Falcao só voltou hoje [ontem]. Optámos por recuperar e hoje [ontem] já treinámos mais intensamente. Acreditamos que a equipa se vai manter a um nível exibicional elevado e de resultados positivos. Queremos manter a liderança e deixar o Braga numa posição desconfortável à quarta jornada. O Braga quer, obviamente fazer o contrário. É uma equipa que se pode permitir a jogar na casa dos grandes e ganhar, foi assim que ganhou em Alvalade, na época passada.
Que opinião tem do adversário?
O Braga vem motivado por uma entrada na Liga dos Campeões totalmente meritória em mais uma elevação do futebol português na Europa. São duas equipas que lutam pelo campeonato, mas o FC Porto e os outros grandes, em relação ao Braga, já não serão apanhados desprevenidos. Na época passada, a consideração que se tinha era de que mais tarde ou mais cedo acabaria por perder pontos e isso foi uma observação errada. Agora estão todos mais alerta e concentrados, sabendo que não se pode relaxar.
Este é o adversário mais difícil que o FC Porto teve até à data?
O Braga é um candidato ao título. É um jogo que permite colocar um candidato a uma distância considerável. É esse o nosso sentimento. O Braga quer continuar a mostrar que é uma equipa de topo.
Vão enfrentar-se as duas melhores equipas do campeonato até ao momento?
O FC Porto e o Braga estão no topo da classificação e foram as que começaram mais regulares, mas não posso dizer que são as melhores. Há boas equipas e o Benfica e o Sporting que estão em ascensão. O Sporting joga em casa e pretende continuar o seu percurso perto dos lugares da frente e o Benfica com uma deslocação difícil.
Um FC Porto ao nível dos últimos jogos será suficiente para vencer o Braga?
Procuramos sempre o resultado e a exibição. Retiro mais prazer quando jogamos bem e demonstramos a beleza do nosso jogo. O FC Porto é uma equipa em crescendo, com exibições que têm variado, mas mantido uma regularidade de princípios. Se é suficiente ou não, vamos ver.
Até por isso estará pouco tentado a fazer alterações?
Vamos ter uma carga de jogos em Setembro e Outubro importante, principalmente devido às viagens e às deslocações difíceis à Bulgária e à Madeira e depois à Turquia. Nesse sentido, é natural que mais tarde ou mais cedo a rotação seja introduzida. Para este jogo não sei. O mais importante é manter o nível elevado de rendimento, sejam quais forem as opções.
Já venceu o Benfica, ganhar ao Braga significará ter uma equipa mais mentalizada que pode conquistar o título?
É muito cedo. Até à 11ª jornada não se poderá estabelecer um padrão em termos de classificação. São quatros equipas a lutar pelo título e afastar o Braga para cinco pontos à quarta jornada é um passo importante, mas não decisivo. O Braga teve uma regularidade impressionante na época passada e não são normais os feitos que tem alcançado. É uma equipa que respira motivação, os jogadores estão unidos em torno do líder e dos objectivos. Toda a cautela é pouca, mas estamos organizados para vencer. Uma vitória do FC Porto não ditará o afastamento do Braga da luta.
"Entregámos um Falcao fresco, devolveram um Falcao morto"
O JOGO fez as contas e concluiu que Falcao teve de percorrer mais de 27 mil quilómetros para jogar dois particulares pela Colômbia, tendo regressado apenas ontem de manhã. Villas-Boas reconheceu ter recebido um avançado exausto pelo que as horas até ao jogo com o Braga serão de repouso absoluto. Admitindo que o FC Porto tem margem de progressão e erros para colmatar, considerou injusta a campanha feita por alguma Comunicação Social a favor da entrada de Fucile e Otamendi na equipa.
Paragem foi de alguma forma benéfica ou condicionou por só ter agora os jogadores?
Os que ficaram permitiram continuar a trabalhar os nossos processos e conhecer um pouco mais o que temos à disposição na formação. Agora, a dinâmica de vitória que estava instalada poderá ou não sofrer atrasos. Vai depender do que fizermos com o Braga. A equipa está preparada e organizada o suficiente para se manter nas vitórias. Houve jogadores que foram para as selecções com resultados variáveis e nesse sentido houve motivações e desmotivações.
Qual a margem de crescimento deste FC Porto?
Há sempre espaço para a evolução. Há erros que podem ser colmatados. Caminhar para a perfeição é um pouco caminhar para o infinito, mas queremos crescer como colectivo. Há decisões na estética do jogo que podemos melhorar e aspectos defensivos em que é claro que podemos dar o salto. O fundamental é manter a regularidade.
Por isso é que não tem mudado as rotinas defensivas?
Há muitas opções, mas acho que o empurrão da Comunicação Social ao Otamendi e ao Fucile não é justo para o Maicon, o Rolando, o Sereno e o Sapunaru. O Otamendi tem um período de adaptação ao estilo de jogo do FC Porto e o Fucile tem de continuar a trabalhar. Foi determinante nos quatros anos, mas encontra um Sapunaru a um nível elevado. Estão próximos um do outro.
Que objectivos é que tem para este ciclo que agora se inicia?
O objectivo global é ganhar o campeonato, mas queremos deixar o Braga numa posição desconfortável. É esse o objectivo imediato, passando mais uma jornada na liderança.
Pergunta O JOGO
Em que condições é que Falcao se apresentou depois de ter feito mais de 27 mil quilómetros para jogar dois particulares pela selecção da Colômbia?
Completamente exausto. Acontece a qualquer um. Foi um número anormal de horas de voo, ainda por cima o voo para a Venezuela partiu com três horas de atraso e, por causa disso, a equipa chegou lá já de madrugada. Entregámos um jogador fresco e eles entregaram um jogador morto e exausto. O tempo de recuperação até ao jogo será suficiente para se apresentar fresco.
"Hulk vai continuar a representar a selecção"
Em entrevista a O JOGO Robinho admitiu que gostaria de ter Hulk ao seu lado no Milan. Villas-Boas registou a intenção do craque brasileiro e não se mostrou preocupado com a projecção que o seu jogador tem tido nos últimos dias por ter estado no estágio em Barcelona. "Foi apenas um estágio da selecção brasileira e, sem querer criticar, há uma série anormal de jogadores que consegue ser internacional, mas depois nem todos dão sequência", recordou. Contudo, está convencido que Hulk fará parte daqueles que vão manter-se na lista de convocados de Mano Menezes. "Acreditamos no potencial do Hulk e que pode continuar a representar a selecção e que se não fosse o castigo teria estado no Mundial. Mas só o rendimento dele no FC Porto permitirá chegara à selecção. Esta chamada foi um factor motivacional nesta fase e esperamos que assim continue e que não seja de desmotivação se por acaso ficar de fora", referiu.
"Se ganhar a jogar mal, não durmo bem"
Por não dar entrevistas individuais - um hábito que mantém desde a Académica -, nos últimos dez minutos da conferência de Imprensa Villas-Boas respondeu, em inglês, às perguntas de um jornalista japonês, a preparar um trabalho de quatro páginas sobre o técnico a publicar brevemente na revista "The Hochi Shimbun". "O facto de estar aqui um jornalista do Japão demonstra que provoco uma certa curiosidade. Se estou a ter sucesso, devo-o também a um grupo de jogadores e a uma estrutura", começou por dizer Villas-Boas.
Sem medo de assumir o objectivo de "vencer tudo", o treinador descreveu a maneira como se vive o futebol em Portugal. "As pessoas prezam-te quando vences, mas quando perdes não toleram as falhas. Quando falhas, que pode ser por causa da natureza do jogo, afectam o teu moral." Com seis vitórias em seis jogos, Villas-Boas também disse estar preparado para momentos menos bons. "Mais cedo ou mais tarde haverá falhas", reconheceu.
A maneira como chegou ao futebol, pela mão de Bobby Robson, também fez parte do questionário da revista nipónica, tal como a colaboração com José Mourinho. "Todos os treinadores me deram experiência e conhecimento. Estou grato aos dois e não esqueço o que me ajudaram, mas também demonstrei o meu profissionalismo." Logo depois veio a comparação. "As ideologias dos meus pais, entre aspas, são diferentes. O Robson tinha uma maneira de pensar o futebol, enquanto o Mourinho adopta maneiras diferentes de jogar dependendo das equipas que orienta", recordou.
Assumindo-se como um "romântico do futebol", que gosta de trabalhar aspectos como a "posse e a velocidade de circulação da bola", o treinador portista valoriza um jogo com "muitas oportunidades de golo, sucesso e futebol de ataque". No entanto, vencer não é tudo. "Os adeptos merecem bom futebol. Nem sempre se recordam apenas as equipas que ganham, mas também as que jogam bem. Como a Holanda de Rinus Michels, o Brasil de 1982, o Bari de Giampero Ventura [futebol italiano, época passada] ou ainda equipas como a Argentina de Marcelo Bielsa. No álbum do futebol, recordam-se os vencedores e os que jogam bem. Se ganhar a jogar mal, não durmo bem", explicou.
Dizendo que não chegou ao FC Porto sem provas dadas - "Não é fácil convencer o presidente do FC Porto" -, Villas-Boas revelou alguns "sonhos estranhos" para a sua carreira. "Gostava de treinar na Argentina, no Chile e no Japão, porque gosto de Tóquio. Mas tenho um trabalho de sonho no FC Porto e quero ficar cá muitos anos. O normal é um treinador não ficar mais de dois anos neste clube, mas tenho de convencer o presidente para ficar dez anos. Adoro o clube, o ambiente e sinto-me envolvido com tudo. Adoro a cidade e as pessoas do Norte, que representam uma certa maneira de ser e com as quais me identifico. Não se encontram estes valores em todo o lado", afirmou André Villas-Boas.
A culpa, afinal, é do ídolo Domingos
Villas-Boas partilhou, com os jornalistas, uma história curiosa sobre o início da sua carreira, admitindo que tinha em Domingos, antigo jogador do FC Porto e actual treinador do Braga, um ídolo da sua juventude. Mais: pelos vistos, Domingos foi o responsável por certo dia ter perdido a vergonha e confrontado Bobby Robson quanto à fraca utilização do avançado. Na sua opinião, o goleador devia ter um papel mais activo na equipa, o que viria a acontecer mais tarde. Esta conversa seria decisiva para a carreira que Villas-Boas abraçou entretanto. "Ele foi o jogador que espoletou o meu início. Quando abordei pela primeira vez o Robson, foi para lhe mostrar a minha insatisfação pelo facto de o Domingos não estar a jogar. O meu atrevimento de jovem permitiu-me descordar da opinião dele e, sem dúvida, não estaria nesta cadeira se não fosse essa história", contou, mostrando-se aliviado por Domingos não poder defrontar o FC Porto amanhã à noite. "Era um apreciador das suas qualidades, assim como sou das suas qualidades como líder e treinador. Os feitos do Braga e a sua regularidade, sobretudo tendo perdido algumas peças fundamentais, não são normais. Está ali um grupo forte para fazer frente aos clubes mais fortes. Tem um presidente e um treinador ambiciosos, uma excelente estrutura e jogadores motivados", acrescentou.
"Não sei a que arbitragens Vieira se refere"
Em entrevista à SIC, Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, exigiu isenção às arbitragens, apontando-as como responsáveis pelas duas derrotas dos encarnados no arranque do campeonato. Villas-Boas foi convidado a comentar estas afirmações e aproveitou para relembrar o jogo "agressivo" do Benfica na Supertaça, considerando normal que o tema das arbitragens tenha sido usado como "entretenimento" durante a paragem da competição. "Não sei a que tipo de arbitragens se refere o presidente do Benfica, se às dele, se às nossas", questionou. "Era natural que o entretenimento nesta paragem fosse as arbitragens. Não achei tão natural que não houvesse o mesmo entretenimento quando o FC Porto ganhou a Supertaça pela mancha que pairou sobre esse jogo pela quantidade inacreditável de lances de agressividade. Se é preciso estar atento às arbitragens, que se divida por todos e não apenas ao clube em questão", atirou.
in "ojogo"
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