Com o Rapid de Viena, pode jogar-se sem medo de apanhar infecções, tenham ou não os austríacos eliminado esse colosso do futebol europeu chamado Aston Villa (haverá parentesco?), mas Villas-Boas decidiu que não, provavelmente por querer ensaiar caminhos novos para um FC Porto experimentalista e tão à vontade no relvado como no laboratório. Não sendo "criatividade" uma palavra muito utilizada para falar de treinadores, começa a ser o caso: o primeiro jogo do FC Porto na Liga Europa, contido e controlado, teve pelo menos tanto rasgo e fantasia no banco como no campo.
Quem leia a conferência de Imprensa dada anteontem por Villas-Boas sabe como foi a primeira parte do FC Porto-Rapid: paciente. Os cinco médios austríacos desencorajavam as trocas de bola? É deixá-los desencorajar. Era a fase contabilística dos dragões. Se um jogador a mais subia ao ataque, outro rapidamente fazia contas de cabeça e recuava para manter a aritmética. Despreocupados e certos do que havia a fazer. Carregar pela área dentro não era o primeiro objectivo desta vez. Uma falta lateral ou um canto satisfariam as necessidades, porque a noite era da artilharia pesada. À primeira bola parada, sacaram o golo a Maicon no último instante; à segunda, foi Maicon quem se perdeu da baliza e, à vontade, cabeceou para onde esperava que ela estivesse; à terceira, golo por via indirecta: ressalto e passe de Rodríguez para Rolando. Ontem, poucas bolas paradas andaram longe de resultar, e 90 por cento delas levavam Maicon na mira. Só ele falhou três golos claros, sem contar com o remate que valeu o segundo à equipa na recarga de Falcao. Villas-Boas reinventou o preservativo: sexo seguro e limpo à custa de uma eficácia nos livres indirectos e cantos que ainda não fora assim tão evidente esta época. Ainda no sábado, os três golos ao Braga chegaram todos de bola corrida.
Uma saída de bola lenta que os austríacos recuperaram na pior zona e, depois, um momento de apatia no meio-campo que permitiu uma chegada fácil do Rapid à área sustentam um mínimo da tese defendida pelo treinador do FC Porto na véspera do jogo, confirmando que não falta o que aperfeiçoar na equipa. Mas nunca houve sequer razão para luz amarela. Fortalecido pelos canhões que dizimavam os austríacos a cada subida de Maicon e Rolando até à área deles, o jogo dos dragões prosseguia com ares de estar programado ao minuto. Para a segunda parte, Villas-Boas previra puxar da paleta e pintar a noite de paciência - e alguma monotonia, claro - com melhores promessas. A soma de Belluschi, ontem suplente, a Rúben Micael e Moutinho cumpriu-as: o FC Porto não está condenado às bolas paradas, longe disso. A coincidência dos três médios em campo lançou outro tipo de futebol, completamente diferente, o que torna de repente muito difícil descrever esta equipa em termos de estilo ou modelo de jogo. Do bombardeamento espaçado passou-se à dança intensa, de passes curtos e rápidos, como uma máquina de costura. E isto quando era suposto ver-se alguma reacção do Rapid, que, a ter havido, morreu por falta de genica para responder. Um golo conseguido pela via dos três baixinhos, embora contando com o "outsourcing" de Rodríguez nos acabamentos, selou a promessa de um futuro bem menos contabilístico do que fora a primeira parte e deixou a sugestão de que este FC Porto será sempre uma equipa muito difícil de prever pelos adversários.
FC Porto-Rapid Viena, 3-0
Estádio do Dragão
Relvado Excelente
Espectadores 30014
Árbitro: Douglas McDonald
Golos 1-0 Rolando 26' 2-0 Falcao 65' 3-0 Ruben Micael 78'
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FC Porto
Helton, Fucile, Rolando, Maicon, Álvaro Pereira, Fernando, Ruben Micael (André Castro, 82), João Moutinho, Hulk (Belluschi, 69), Cristian Rodriguez e Falcao (Walter, 78).
Treinador André Villas-Boas
Rapid Viena
Raimund Hedl, Tanju Kayhan, Mário Sonnleitner, Ragnvald Soma, Andreas Dober (Jurgen Patocka, 79), Thomas Hinum, Stefan Kulovits, Veli Kavlak, Steffen Hofmann (Christopher Trimmel, 73), Christoph Saurer (Christopher Drazan, 62) e Atdhe Nuhiu.
Treinador Peter Pacult
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Acção disciplinar: Cartão amarelo para Andreas Dober (18), Thomas Hinum (39) e Cristian Rodriguez (61).
in "ojogo.pt"
1 comentário:
Bom dia,
Ontem fizemos um jogo quanto baste para levar de vencida o Rapid de Viena, que ofensivamente poucos problemas nos criou.
Na primeira parte, dominamos o jogo sem deslumbrar, com Hulk individualista e menos bem que nos anteriores jogos, mas "tantas vezes vai o cântaro à fonte, que lá deixa a asa" e assim foi, num dos inúmeros cantos conquistados acabamos por chegar à vantagem na primeira parte.
Na segunda parte, e depois da entrada de Belluschi melhoramos imenso, e o resultado poderia ter sido mais volumoso.
Realce para as excelentes prestações de Ruben e Rodriguez, jogadores pouco utilizados esta época.
E Moutinho que rubricou uma excelente exibição.
O golo de Ruben é uma excelente jogada de circulação de bola e tabelas, com uma finalização fantástica.
Mais uma vez a SIC demonstrou o péssimo serviço que presta. Primeiro estavam sempre a antever a substituição de Cebola, que no entender deles estava a jogar mal, quando ele foi a par de Ruben um dos mais empenhados e melhor em campo.
Depois estão sempre a falar no clube deles, ao ponto de gritar golo de Gaitan, quando Falcao marcou ... lamentável.
Abraço
Paulo
pronunciadodragao.blogspot.com
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