quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Dei tudo o que tinha no FC Porto" - Jesualdo Ferreira


É a primeira vez que Jesualdo Ferreira dá uma entrevista em exclusivo a um órgão de Comunicação Social português desde que deixou o FC Porto. Não se percebe ponta de mágoa nos seus olhos em relação ao clube onde foi tricampeão, mas vê-se por ali alguma nostalgia.

O sentido do dever cumprido, sim senhor, numa missão complicada para uma espécie de benfiquista. É assim que o olham ainda hoje.

«Que hei-de fazer? Não tenho clube do coração, como se diz por aí. O facto de ter estado 12 anos no Benfica, no somatório das quatro vezes, cola-me, naturalmente ao clube. Não foram muito simpáticos comigo a determinado momento, fiquei magoado, porque também ganhei no Benfica e muitas vezes. Os adeptos do Benfica acharam que por, eu ter lá estado, não podia ir para o FC Porto ganhar títulos e os do FC Porto entenderam que, por eu ter estado no Benfica, não ia ganhar quando fui para o Dragão. Perante isto, que hei-de fazer? Não tenho clube do coração. Sou um profissional e levo isso muito a sério».

O professor tem aquele ar de zangado. «Não posso fazer nada. Tenho esta expressão facial. Não há nada a fazer, mas não sou o que aparento». E não. O professor ri, diz piadas, está feliz. «Estou mesmo muito feliz aqui. É um desafio enorme, mas tenho de o vencer. As pessoas acreditaram em mim e no projecto.»

- Foi uma surpresa ser chamado para o campeonato espanhol?

- Da forma como aconteceu, foi. A minha saída do FC Porto foi tardia em relação ao que são normalmente as datas em que os clubes que querem treinadores começam a procurá-los. Quando acertei em definitivo a saída do FC Porto sabia que havia muitas portas do mercado que se tinham fechado. Fiquei na dúvida se deveria continuar como treinador ou não.

- Qual o projecto para o Málaga?

- Fazer um clube melhor e num espaço de tempo relativamente extenso; fazer do Málaga um clube para estar entre os melhores de Espanha.

A má memória

- Esteve quatro anos no FC Porto. Pode dizer-se que foram três anos de glória e um de má memória?

- Nem concordo com a glória, nem com a má memória. Estive quatro anos consecutivos no FC Porto, e com a possibilidade de fazer cinco, o que foi a primeira vez; ganhei três campeonatos consecutivos, o que também não tinha acontecido com treinadores portugueses. Provavelmente, a memória vai reter também que o FC Porto não foi à Liga dos Campeões pela primeira vez nos últimos anos. Então aí, a má memória vai tilintar mais vezes.

- Você muitas vezes deu a cara pelo FC Porto, numa altura em que quase ninguém no clube falava e quando havia o processo Apito Dourado a correr, limitando, nomeadamente, declarações do presidente. Está arrependido?

- Não. Dei no FC Porto tudo o que tinha e às vezes muito mais do que podia. Não estou arrependido.

- Porque é que perderam o campeonato?

- Não fomos tão competentes como nos anos anteriores e houve duas equipas, nomeadamente a que foi campeã, que foi mais competente. O treinador é o mais responsável. Quando digo nós refiro-me a todo o grupo. Houve muitas razões, mas não me parece correcto enumerá-las porque estaria a apresentar apenas uma parte do problema. Ia falar de uma árvore quando aquilo foi uma floresta, mas se alguém o quiser fazer no futuro, cá tenho a minha árvore para a descascar.
 
in "abola.pt"

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