sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Moutinho. Finalmente, o lugar de Deco entregue numa bandeja


"Vou dar o máximo no FC Porto, tal como nos clubes onde passei." Depois da vitória frente ao Nacional, foi com esta ideia que João Moutinho limpou o seu passado recente no Sporting. Os últimos tempos foram obscuros; o capitão estava lá mas não estava, parecia uma cópia daquele miúdo imparável que José Peseiro lançou em 2004/05 e Paulo Bento, depois, tornou o mais sério caso de regularidade no futebol nacional - para falhar um jogo tinha de estar castigado e com febre (2008/09, Belenenses). Agora, na selecção, Moutinho voltará a ter a mesma importância, e só não será o dez indiscutível no novo núcleo se não agarrar a oportunidade que Paulo Bento lhe vai oferecer numa bandeja.

O novo seleccionador - passou ontem na Federação para assinar contrato e será hoje apresentado - saiu do Sporting em Novembro de 2009 e com ele levou um pedaço de Moutinho. A partir daí o médio ofensivo entrou em descrença e deu instruções ao seu empresário para lhe encontrar um clube no estrangeiro. Voltava a ganhar força aquele desejo de ir para qualquer lado, até para a Rússia (Zenit, onde já estava o amigo Danny), ou então encontrar um clube do segundo pelotão de Inglaterra, como o Everton. Aliás, o Everton tinha sido a razão do único confronto Bento vs. Moutinho, depois de o jogador ter surpreendido com o desejo de saída para os Toffees, mas até isso o implacável Paulo Bento lhe perdoou, em consequência de uma admiração que vinha do tempo dos juniores, onde coincidiram e desenvolveram a confiança suficiente para, mais tarde, o técnico ordenar o jovem futebolista algarvio num dos mais jovens capitães de sempre do clube. Moutinho era a extensão de Bento dentro do campo e sem ele o miúdo sentiu-se um órfão.

Com ou sem razão, a verdade é que João Moutinho baixou de rendimento e, com Carlos Carvalhal, conseguiu ficar fora da convocatória para o Mundial da África do Sul. Scolari até o tinha tornado titular no Euro'2008, mas Carlos Queiroz não viu o mesmo jogador dois anos mais tarde. Moutinho bateu no fundo e só se ergueu com a estrondosa transferência para o FC Porto, onde reencontrou o rendimento e as condições para voltar à selecção. Esse regresso veste agora as condições perfeitas para ser bem sucedido, porque ocorre na presença do treinador melhor o conhece.

A BASE Portugal perdeu Deco - número dez que assegurou o Euro'2004, o Mundial-2006, o Euro'2008 e o Mundial-2010 - e o plano Bento passa por fazer de João Moutinho o sucessor. É ele que é considerado o principal playmaker no novo núcleo duro que se desenha, onde estão nomes incontornáveis para o futuro: Ricardo Carvalho, Bruno Alves e Pepe são os defesas mais importantes; Raul Meireles e João Moutinho assumem-se como os médios indiscutíveis; no ataque, Nani e Cristiano Ronaldo são os nomes incontornáveis. Nesta base nasce a equipa que se pretende capaz de assegurar duas vitórias no imediato (Dinamarca e Islândia - até amanhã Paulo Bento tem já de enviar a pré-convocatória para esta dupla operação) e depois garantir o apuramento para o Europeu da Polónia e Ucrânia, em 2012.

Paulo Bento tem um defesa esquerdo escolhido - Fábio Coentrão -, mas precisa de resolver o problema à direita. Paulo Ferreira e Miguel abandonaram, Bosingwa continua indisponível e apenas Sílvio (Sporting de Braga) parece ser opção. Mas irá nascer uma oportunidade para João Pereira (Sporting)? No meio-campo, a estrutura pode ser composta com Tiago (A. Madrid) e Manuel Fernandes (Valência), mas é conhecida a admiração que Paulo Bento tem por Miguel Veloso, de quem fez um trinco em Alvalade. No ataque, Quaresma, Liedson e Danny estão à espera de uma chamada. Quem não deve ter oportunidade, está visto, é Carlos Martins. Ao contrário de Moutinho, para este nada podia ser pior que Paulo Bento.
 
in "ionline.pt"

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