É possível que o destino de Tomás Costa tenha escapado a muitos portistas, de quem não chegou a despedir-se. Afinal, por onde anda o médio argentino que, em tempos, até chegou a ser apontado como sucessor de Lucho? Emprestado ao Cluj, da Roménia, a aventura não lhe está a correr lá muito bem. Tem jogado pouco. "Trocámos de treinador e fiquei de parte", justifica-se, explicando o facto de só ter dois jogos incompletos no currículo. "Há que ter paciência; no futebol as coisas mudam", desabafa.
E mudam mesmo. O FC Porto, de que Tomás Costa fez parte na época passada, por exemplo, mudou radicalmente. "Tenho visto os jogos sempre que posso e estou a par de tudo. Têm jogado muito bem e despertado atenções na Europa inteira. Aliás, tenho lido jornais ingleses e italianos e já vi referências elogiosas à forma de jogar deste FC Porto", diz. Tomás Costa concorda com esses elogios e, com o natural conhecimento de causa, sente legitimidade para os detalhar. "Tem sido uma equipa agressiva, que cria muitas situações de golo, porque os avançados são terríveis para qualquer defesa. Falcao, que eu já conhecia da Argentina, nunca me surpreendeu: é um fenómeno e vai cansar-se de tanto marcar", atira, com sorrisos à mistura. Mas há mais por onde seguir na análise. "O FC Porto ganhou muito com a chegada de Moutinho", assegura, apontado como efeito colateral da nova configuração do meio-campo "o nível actual de Belluschi".
Encantado com a dinâmica imposta por André Villas-Boas, com quem trabalhou na pré-temporada, Tomy admite que gostaria de entrar nos planos futuros do treinador. "Sim, claro que gostaria. Tenho mais dois anos de contrato e o FC Porto é um excelente clube para jogar; uma instituição fantástica. Espero ter outra oportunidade. De qualquer forma, ter ganho quatro títulos em dois anos já foi algo muito importante na minha carreira."
Para Tomás Costa, os dragões estão bem lançados para conquistar o título, perdido para o Benfica na última época. Aos que chegaram de novo e que, por isso, podem estrear-se na sensação de vencer o campeonato português, como João Moutinho ou Otamendi, o médio deixa uma mensagem especial. "A melhor recordação que tenho foi precisamente o primeiro campeonato que ganhei no FC Porto. Ver toda aquela gente nos festejos de rua é uma coisa inesquecível; fiquei muito surpreendido na altura. Dei-me conta da dimensão do clube; aqueles milhares de pessoas que saudavam o nosso autocarro descapotável. Essa paixão dos adeptos ficou-me gravada", remata.
Contrato tem cláusula para sair em Janeiro
Como já se disse, a vida de Tomás Costa no Cluj não tem sido fácil: um jogo no campeonato e outro na Taça romena, ambos incompletos. O jogador ainda não desistiu da ideia de afirmar-se na Roménia, mas explica que até pode sair na próxima janela de transferências. "O FC Porto acautelou a possibilidade de eu sair na reabertura do mercado se houver uma proposta de outro clube ou se quiser que regresse. Não quero pensar nisso, mas apenas em jogar e garantir continuidade. Conheci aqui dois argentinos, Culio e Peralta, que me têm ajudado na adaptação."
"Com Jesualdo era sim ou... sim"
Ao contrário do que possa pensar-se, por não ter sido opção regular nos dois anos que passou no Porto, Tomás Costa gostou muito de trabalhar com Jesualdo Ferreira. "É um grande treinador, um professor de futebol como lhe chamávamos no balneário. Muito táctico e obcecado pelo trabalho. Foi o meu primeiro treinador europeu, recebeu-me bem e estava sempre atento ao que se passava connosco fora dos relvados. Em termos futebolísticos, o conceito mais claro que nos deixou foi o da recepção de bola orientada, com o passo seguinte calculado, e a importância da boa colocação em campo. Os argentinos devem saber do que falo quando observam o Bolatti actual. Ganhar um segundo na jogada é um momento-chave e Jesualdo Ferreira fazia finca-pé nisso: era fundamental para ele e tínhamos de aprender. Era sim ou sim", conta, divertido.
Na memória de Tomy ficou gravada, pela negativa, a eliminação nos quartos-de-final da Champions, com o Manchester. "Empatámos a dois em Inglaterra e perdemos no Porto, com um golo de 40 metros. Ainda estivemos perto de empatar, mas ficámos com essa espinha atravessada. Doeu-nos menos perder por 5-0 com o Arsenal nos oitavos do ano seguinte", confessou o argentino.
"Criei expectativas com a saída de Lucho"
Tomás Costa encara o problema de frente e não foge às responsabilidades: a passagem pelo FC Porto esteve longe de ser um sucesso absoluto a nível individual. Faltou-lhe exactamente o quê para vingar em Portugal? "Faltou afirmar-me", diz prontamente. Depois, procura os detalhes para explicar o insucesso. "Acho que estive em 70 jogos nos dois anos [fez 71, 40 dos quais no campeonato], mas não me consolidei como titular. Criei muitas expectativas depois da saída do Lucho, porque se abriu uma vaga, mas logo chegaram Belluschi, Valeri e passou a haver mais gente para aquela posição. Eu entrava e saía, com várias posições em campo e nunca com um lugar fixo. Gostaria de emendar isso."
Saudades dos churrascos no terraço de Mariano
Saudade. Tomás Costa aprendeu a tal palavra sem tradução noutras línguas. "Sinto falta do Porto, onde já tinha as minhas coisas. O meu apartamento, o meu automóvel, os meus amigos. Mas, a minha profissão obriga-me a saber adaptar-me às mudanças. Não havendo continuidade no FC Porto, o melhor era sair. Tínhamos chegado a esse acordo". Alguns dos amigos mais chegados do plantel também já partiram para outras paragens: Lucho e Lisandro, por exemplo. "Houve muitos jogadores importantes com quem me cruzei. Lucho, Lisandro, Bruno Alves, Meireles. Era um plantel de grande qualidade. Jogadores que, apesar de terem ganho muito, sentiam sempre fome de glória. Isso ajudou-me muito a interiorizar rápido o que era o FC Porto. Tive de mudar o chip, porque estava habituado a lutar por coisas diferentes no [Rosário] Central".
Os argentinos foram determinantes na primeira aventura europeia. "Fiz grandes amigos. Quando cheguei, Lucho e Lisandro estavam sozinhos e acabei por passar mais tempo com eles. Mariano, Tecla Farías, os colombianos e os uruguaios tinham a família. Fiz uma amizade fantástica com Lucho e Licha. Aliás, visitei o Lucho em Marselha há pouco tempo. É um dos meus melhores amigos. O Lisandro tem também uma qualidade humana impressionante". Há outra coisa de que sente falta: os "asados", ou churrascos, em casa de Mariano. "Ele vive no último piso de um prédio e tem um terraço onde podíamos assar. O Mariano começava sempre a cozinhar, mas o Tecla tinha a mania de meter a mão, porque é um perfeccionista de um bom churrasco. Nunca nos faltou a carne nem erva para o mate [o chá que os sul-americanos não dispensam]".
in "ojogo.pt"
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