Faz hoje um ano que André Villas-Boas abraçou a carreira de treinador. Evitou a descida da Académica e ganhou o bilhete para orientar o F. C. Porto. Uma carreira que começou como jogador no futebol amador. Os primeiros treinadores recordam o carácter do Cenourinha.
Pode ser bisneto do 1.º Visconde de Guilhomil, ter sangue azul a correr-lhe nas veias e ser o treinador da moda do futebol português, mas André Villas-Boas deu os primeiros passos futebolísticos nos campos pelados do distrito do Porto. Foi aí que alimentou a paixão pelo desporto, de chuteiras calçadas e muitos sonhos erguidos. Em meados da década de 1990, jogou no Ramaldense e no Marechal Gomes da Costa, dois clubes populares da cidade Invicta, que competem no futebol amador e distrital, respectivamente. E onde os jogos valem bem mais do que uma simples vitória. São um salutar convívio de jovens apaixonados pela bola.
No Marechal Gomes da Costa, era "conhecido pelo Cenourinha", lembra Manuel Ribeiro, actual director-desportivo do Moreirense. Na altura, era o treinador da equipa amadora que se exibia ao sábado à tarde. Os cabelos ruivos ajudavam a caracterizar um jogador de recursos promissores e que se distinguia pelo carácter de quem e era capaz de levar o sacrifício até patamares extremos.
Tinha espírito agressivo
"Jogou connosco durante uma época. Era um médio muito razoável e tinha uma característica fundamental, era extremamente participativo no jogo. Procurava a bola e tinha um espírito agressivo, antes quebrar do que torcer. Era um jogador à F. C. Porto, um líder em campo. Tinha 20 anos e só não era capitão porque a braçadeira pertencia sempre jogador mais antigo", conta Manuel Ribeiro, ex-treinador do Marechal Gomes da Costa, que não estranha o sucesso que tem caracterizado o trabalho de André Villas-Boas. "Não me surpreende, porque já nesse tempo era uma pessoa empenhada".
Nessa altura, dava os primeiros passos nos escalões de formação do F. C. Porto, onde desenvolvia o gosto pela organização colectiva e desempenhava funções de treinador: "Gostava de falar comigo sobre tácticas e como o meio-campo se devia organizar. Era um atleta com atitude crítica e corrigia os colegas no campo". Além disso, tinha outra característica: "Não sabia perder e convivia mal com as derrotas".
Dava instruções em campo
Antes, também vestiu a camisola do Ramaldense, no qual Humberto Coelho deu os primeiros pontapés na bola antes de se transferir para o Benfica. Chegou por influência dos amigos de escola do Colégio do Rosário, paredes-meias com as instalações do clube portuense, onde a bola entretia muitos treinos semanais. Em meados da década de 90, a equipa sénior definhava nos distritais e corria o risco de descer de divisão. Até que tudo mudou.
"Quando cheguei, estávamos mal classificados e tivémos de recorrer à equipa de juniores para termos um plantel mais competitivo. Promovemos três jogadores e um deles era o André Villas-Boas", lembra Quim Espanhol, na altura técnico do Ramaldense e que hoje se ri quando dizem que o treinador do F. C. Porto nunca foi futebolista: "Jogava a médio e tinha muitas qualidades. Era um jogador de fibra, valente e habilidoso. Foi um dos que nos ajudou a não descer de divisão. Fazia bons passes a 20 ou 25 metros".
Mas já quando tinha 18 anos, era mais do que um simples jogador a impulsionar o meio-campo. Era um treinador que orientava os colegas nas acções mais difíceis: "Dava muitas ordens no campo. Não se inibia de dar instruções ao jogador mais velho, que tinha 30 e muitos anos". Hoje, Villas-Boas é o treinador da moda do futebol português, faz um ano como técnico principal, o primeiro patamar de uma carreira que promete grandes êxitos. "Creio que nem ele adivinharia aquilo que é hoje. Mas merece o sucesso que está a ter", finaliza Quim Espanhol.
in "jn.pt"
Sem comentários:
Enviar um comentário