Ontem, enquanto orientava mais um treino no Olival, o nome de André Villas-Boas circulava de notícia em notícia nos meios italianos como um dos possíveis substitutos de Rafa Benítez no Inter de Milão, detentor da Liga dos Campeões. O suposto interesse do emblema italiano explica-se em duas partes distintas: o lugar do treinador espanhol do Inter está tremido, especialmente depois da derrota no dérbi do último domingo com o Milan e a consequente descida ao quinto lugar da Serie A (a seis pontos do rival milanês); e o bom desempenho do técnico portista há muito passou as fronteiras, ao ponto de, aos 33 anos, já ser considerado na alta-roda europeia.
Por muito que tente desmarcar-se de José Mourinho, a imagem de Villas-Boas anda, para já, de mão dada com o Special One. Ora, depois de ainda recentemente o trabalho realizado pelo treinador no FC Porto ter sido amplamente difundido em Itália - "Mourinho loiro", escreveram -, aos primeiros sinais de divórcio entre Benítez e o Inter o nome de Villas-Boas surgiu naturalmente em vários jornais. Massimo Moratti, presidente do Inter, já veio a público dizer que confia em Rafa Benítez, mas não evitou uma onda de notícias com vários treinadores à mistura: Leonardo (com quem Moratti teria almoçado), Rijkaard, Spalletti, Dunga e... André Villas-Boas.
Difundida a notícia com base no que se escreve em Itália, resta avaliar as possibilidades que André Villas-Boas tem de sair do FC Porto. Cenário remoto, para não dizer mesmo impossível. O próprio, portista assumido, já confessou estar na sua cadeira de sonho e, em início de carreira, está apostado em ganhar títulos e cimentar uma posição no futebol português e europeu. A possibilidade de trabalhar no estrangeiro não faz parte dos planos imediatos de André Villas-Boas.
Quanto à posição da SAD, é mais ou menos a mesma do treinador. A possibilidade de o clube recuperar o título nacional e a esperança de uma boa campanha na Liga Europa, pensando-se mesmo na final de Dublin, são as primeiras etapas de um contrato que tem ( para já...) a duração de duas épocas. Quanto mais não seja, as notícias italianas vão-lhe massajando o ego.
Substituir Mourinho é um problema crónico
Tem sido a norma: depois de José Mourinho costuma haver um período de luto nos clubes que o perdem. A tendência assumiu contornos claros e evidentes no FC Porto, na ressaca da separação após duas épocas a ganhar quase tudo. Os portistas experimentaram três treinadores para ultrapassar o vazio - Del Neri, Victor Fernandez e José Couceiro - mas nenhum vingou. Seguiu-se o fucarão Adriaanse e a coisa só estabilizou verdadeiramente com Jesualdo Ferreira.
O Chelsea também demorou a encontrar um sucessor convincente. O israelita Avram Grant assumiu o posto de Mourinho e, embora tenha chegado à final da Champions e tenha lutado também pelo campeonato até à meta, acabaria por ser substituído por Scolari no final da época. O brasileiro quase nem aqueceu o lugar, acabando despedido, com uma choruda indemnização pelo meio, pouco tempo depois. Abramovich chamou Guus Hiddink de emergência, mas o holandês avisou logo que não ficaria muito tempo. A estabilidade só surgiu com a contratação de Carlo Ancelotti.
Agora, o Inter. Depois do título europeu, Massimo Moratti investiu as fichas todas no espanhol Rafa Benítez. Os resultados estão longe de satisfazer e a onda de especulações, qual maldição de Mourinho, já começou. Aliás, foi nessa onda que surgiu o nome de Villas-Boas.
Citações
"Se Rafa Benítez vive na sombra de José Mourinho, e já tem o lugar em risco no Inter, já se vislumbra outra sombra, esta de carne e osso. É a de André Villas-Boas, actual treinador do FC Porto, depois de uma vida como adjunto de José Mourinho. A reputação como clone de Mourinho está a desaparecer, dando lugar à de herdeiro do treinador do Real Madrid"
Sky Italia, ontem
"A ideia mais fascinante que surgiu nos últimos dias é a de André Villas-Boas, treinador do FC Porto, que está a dominar o campeonato português depois de dez vitórias e um empate. Com 33 anos, é considerado o novo Mourinho em virtude do passado em conjunto com o Special One. Este é o segundo ano como treinador principal"
Tuttomercatoweb, ontem
"Tacticamente, o trabalho do Mourinho loiro é mais sofisticado do que o do original, não só pela preparação dos jogos (baseada num estudo obsessivo dos adversários), mas também pela disposição da equipa em campo, com um 4x3x3 sólido e muito virado para o ataque"
Corriere della Sera, 9 de Novembro
in "ojogo.pt"
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