quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Villas-Boas revê ex-treinador: «O André era um jogador à Porto»

Manuel Ribeiro orientou-o no MGC em 1998/99; agora está no Moreirense


Os balneários não passavam de uma fonte escura de humidade bolorenta. A água quente, fosse Verão ou Inverno, um luxo ao alcance de poucos. Relva? Uma quimera sem sentido. Naquele campeonato de amadores, o sacerdócio era feito em campos pelados, tantas e tantas vezes transformados em pântanos de lama. Na época de 1998/99, os sábados de André Villas-Boas eram passados nesta cornucópia de privações.

Não, não era uma via-sacra opcional, um auto de fé ou uma catarse em jeito de auto-flagelação. André suportava todos estes obstáculos em nome de uma paixão. Uma paixão arrebatadora, incontrolável, pelo futebol e pelo Clube Marechal Gomes da Costa.

Muito antes de se deliciar com a fama, o treinador do F.C. Porto provou o lado insalubre do jogo. Mas também aquele que o apresenta no seu estado mais puro, sem adulterações de qualquer espécie. André Villas-Boas tinha 21 anos e era treinado por Manuel Ribeiro no popular MGC.

Curiosidade das curiosidades: 11 épocas depois, o antigo técnico de André é o director-desportivo do Moreirense. Isso mesmo, o adversário de domingos dos azuis e brancos. Após mais de uma década sem se verem, o reencontro está agendado para a Taça de Portugal.

Ao Maisfutebol, Manuel Ribeiro deixa um pedido. «Só espero que o André se lembre de mim. Tínhamos uma excelente relação, muito salutar. Infelizmente, os nossos caminhos nunca mais se cruzaram. Até agora. Vai ser bonito estar com ele, por certo.»

«Falava muito em campo e era coerente»

De chuteiras calçadas e pernas ensanguentadas pela gravilha, André Villas-Boas já apresentava uma sintomatologia de líder. «Falava muito em campo. Tinha coerência no discurso, como agora, e transmitia com lucidez as suas ideias», recorda Manuel Ribeiro, que se lembra «perfeitamente» da temporada em que treinou o actual treinador do F.C. Porto.

«Era um executante razoável. Um bom jogador de equipa. Tinha muita raça, elegância e bons pés. Não dava uma bola por perdida no meio-campo. Lutava até à exaustão. Posso dizer que era um jogador à F.C. Porto.»

Nesses tempos as preocupações de ordem táctica eram «nulas». André Villas-Boas já gostava de falar sobre «a organização» da equipa, mas não era o conhecimento aquilo que procurava no MGC.

«O André era um jovem igual aos outros. Estava no clube para se divertir e fazer uma das coisas que mais adorava: jogar à bola. A metodologia de treino e as tácticas não lhe eram indiferentes, mas naquele contexto estavam longe de ser a prioridade dele.»

«O André convivia mal com os maus resultados»

A intolerância à derrota, a urticária ao insucesso e à desilusão eram já sinais fortes na personalidade do adolescente André. «Convivia mal com os maus resultados», sublinha Manuel Ribeiro, que encontra aí também a explicação para a ascensão do treinador ao topo.

«O F.C. Porto tem uma equipa tremenda, mas que ninguém tenha dúvidas que o Moreirense vai lutar com todas as suas armas pela vitória. Temos uma equipa organizada, boa capacidade de trabalho e valores individuais interessantes», avisa o responsável pelo futebol profissional dos minhotos.

No final, após tantos elogios, fica o aviso paternalista ao antigo pupilo. «O André Villas-Boas terá vida difícil para vencer em Moreira de Cónegos!»

Clube MGC: desde 1965 na cidade do Porto

O Clube Marechal Gomes da Costa foi fundado a 1 de Agosto de 1965 e representa simbolicamente a freguesia de Lordelo do Ouro. O emblema participa no Campeonato de Amadores da A.F. Porto e não possui campo próprio.

Durante uma temporada, foi a casa de André Villas-Boas.

in "maisfutebol.iol.pt"

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