segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Reabastecer a montra

Bernard Lacombe, conselheiro do presidente do Lyon nas contratações, vai directo ao assunto. "O respeito pelo trabalho do FC Porto é enorme. Vão buscar jogadores desconhecidos que se tornam rapidamente conhecidos. Depois conseguem projectá-los de um dia para o outro e acabam por vender a um preço espectacular, o que só prova que devem ter um excelente departamento de prospecção". Numa altura em que se noticiaram as contratações dos praticamente desconhecidos Iturbe e Kelvin, a questão é: o que faz do FC Porto montra preferencial para quem vende e compra?

Entre os múltiplos ecos de satisfação ouvidos por O JOGO, há histórias que ajudam a montar o puzzle da resposta. "Quando estava no Japão, o Hulk foi abordado por dois clubes da Europa que jogavam na Champions. Mas um dia surgiu Antero Henrique, que nos convidou a vir à Europa conhecer o FC Porto. Conhecemos o clube, o estádio, o centro de treinos, toda a história e, realmente, hoje estamos convencidos de que escolhemos a melhor porta para a Europa", conta Teodoro Fonseca, representante do Incrível. Mas, incrível mesmo é a história de Cissokho, adquirido ao Setúbal, em Janeiro de 2009, por pouco mais de 300 mil euros e vendido seis meses depois ao Lyon, por 15 milhões de euros. É o exemplo mais inequívoco de rentabilização supersónica.

Numa altura em que economistas e empresários insistem na importância de potencializar marcas como forma de reconhecimento do mercado e garantia de qualidade para fidelizar clientes, o FC Porto aparece como referência incontornável em termos de mercado de transferências. Só nos últimos dez anos, os azuis e brancos facturaram mais de 350 milhões euros em vendas de jogadores, dominando claramente a tabela das maiores negócios de sempre do futebol português e abastecendo, quase sempre no Verão, muitos emblemas europeus. Quase sem reclamações: clubes vendedores que conservam fatias de passe de jovens promissores porque confiam em mais-valias futuras; empresários e clubes compradores dizem ter no FC Porto um certificado de garantia. Iturbe e Kelvin parecem reforçar a aposta clara no reabastecimento da montra. Os responsáveis portistas perceberam que a única forma de contornar a exiguidade do mercado nacional passava por adquirir jogadores de qualidade mais ou menos reconhecida, ou jovens com potencial, aos quais a estrutura técnica do clube podia acrescentar valor, projectando-os através das competições europeias. A esta política juntou-se a conquista da Taça UEFA, em 2003, e da Liga dos Campeões, no ano seguinte, catapultando ainda mais o clube para o topo da Europa futebolística. Conquistada a notoriedade nos relvados, mais atractivo se tornou o clube para jogadores sem espaço noutros mercados, mas que encontraram no FC Porto tempo para crescer. Nem todos crescem como o FC Porto gostaria, e há também algumas apostas ao lado, mas, olhando para o saldo dos lucros, esses enganos estão devidamente compensados...

Valeri explica o destino dos que não dão certo

Nem todos os jogadores contratados pelo FC Porto se tornaram em apostas certeiras, faltando-lhes a explosão que o clube projectara. Tomás Costa, Benítez, Mareque, Leandro, Leandro Lima, Leandro do Bonfim, Sonkaya, Pelé, Prediger, Bolatti, Rentería ou Valeri são exemplos bem recentes de tiros ao lado. Uns porque não tiveram tempo, oportunidades ou não fizeram por as merecer. Curiosamente, uma entrevista de Valeri publicada ontem na Argentina ajuda a perceber o que acontece nesses casos. "O FC Porto é uma grande instituição, de uma grande cidade. Tem forte poder económico e, por isso, investe muito em jovens sul-americanos para que, com tempo, se adaptem ao futebol de Portugal e amadureçam para explodir. Se não conseguirem, são negociados", avisa Valeri, exemplo prático dessa paciência com limites: o argentino foi emprestado ao Almeria, de Espanha, mas já voltou à Argentina, onde, aos 24 anos, procura relançar a carreira. O FC Porto ainda poderia exercer o direito de opção no final desta temporada. Benítez ou Rentería foram negociados; Tomás Costa, depois de passagem pela Roménia, foi emprestado ao Universidade do Chile para reconfirmar credenciais.

in "ojogo.pt"

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