Prodígio argentino já contratado pelo F.C. Porto fala ao «Maisfutebol»
Juan Manuel Iturbe. Aos 17 anos inebria o mundo do futebol com um talento inesgotável. Diamante em bruto, facilmente lapidável, descoberto pelo microscópio do F.C. Porto. Assinou contrato com os dragões por cinco anos, trespassou o Sul-Americano de sub-20 de um lado ao outro com o seu pé esquerdo e já encanta na equipa sénior do Cerro Porteño.
Numa entrevista exclusiva ao Maisfutebol, Iturbe apresenta-se na primeira pessoa aos adeptos portugueses e nem se escusa a falar das constantes comparações com Lionel Messi. A nossa conversa começou por aí, aliás. La Pulguita ou Mini-Messi, a Iturbe tanto faz.
Longe de ser arrogante, o pequeno argentino começa a perceber o que vale. Rodeado de loas por todos os lados, habituado a pegar nos jornais e a sorrir perante os elogios, o futuro dragão está preparado para carregar o peso da semelhança com o seu grande ídolo.
«Conheci-o na África do Sul, durante o estágio da Argentina, e é uma grande pessoa. Tem uma capacidade extraordinária e só me posso sentir orgulhoso por dizerem que somos parecidos», refere Iturbe, hesitante na forma como desfere as palavras.
«Não me importo que digam isso. Não há problema nenhum. Mas é importante que as pessoas percebam que tenho 17 anos. Passo a passo quero construir a minha carreira e chegar em dois/três anos à selecção principal da Argentina. Estou certo que ainda irei jogar muitas vezes ao lado de Messi. Esse é um dos meus grandes sonhos.»
«O Maradona falava e eu só baixava os olhos»
Sem ponta de exagero, é possível encontrar pontos em comum entre o futebol genialmente mitigado de Messi e as promessas convincentes de Iturbe. Um raio na esquerda, fulminante a executar, mais rápido e instintivo do que os outros.
Também Diego Maradona viu em Iturbe essas qualidades. Por isso chamou-o para ajudar na preparação da selecção para o Mundial-2010. Foi uma espécie de internato, monitorizado bem de perto pela ubiquidade de D10S.
«Que experiência fantástica! Estar ao lado daqueles monstros sagrados com 16 anos e conviver diariamente com o grande Diego foi inacreditável», sublinha Juan Iturbe. «Não falei muito com ele porque tinha vergonha. Sempre que o Maradona se aproximava para me dar alguma indicação eu baixava os olhos e só acenava com a cabeça. Era muita pressão.»
«Vai ser importante para mim ter o Otamendi ao lado»
Foi precisamente nos dias antecedentes ao Mundial que Juan Iturbe conheceu Nicolás Otamendi. «Na altura estava longe de imaginar que iríamos jogar juntos no F.C. Porto», confessa ao nosso jornal o imberbe prodígio.
«Curiosamente, o Otamendi era daqueles que mais comunicava comigo. Ainda não falei com ele nas últimas semanas. Vai ser importantíssimo para a minha adaptação. Sei que no Porto também estão o Belluschi e o Mariano, mas esses não conheço pessoalmente. Apenas através da televisão», completa.
E para completar o tema-selecção, Iturbe deixou uma breve análise ao que fez no Torneio Sul-Americano de sub-20.
«Gostava de ter jogado mais. Tentei aproveitar as oportunidades e fiz alguns golos bonitos. Adoro ter a bola controlada e partir para cima dos defesas. Felizmente as coisas correram-me bem, mas é uma pena a Argentina não se ter qualificado para os Jogos Olímpicos de 2012.»
«Vou ganhar a Champions com o Porto»
A ressonância dos feitos de Juan Iturbe faz lembrar as tardes passadas de ouvido colado à telefonia. Cada um, consciente ou inconscientemente, pincela o retrato da forma que mais lhe apraz. Mesmo na era da comunicação, a distância traça limites profundos e não permite uma observação rigorosa dos atributos do jovem argentino.
Há curiosidade, muita curiosidade.
Sem uma imagem fidedigna, concludente, a beleza de um drible pode ser ampliada ou diminuída. É uma questão de propaganda, bem feita, mal feita. Iturbe está consciente do exagero que acompanha tudo o que faz. Na Argentina, os garimpeiros deixaram a procura de ouro e buscam um novo Maradona, um novo Messi, debaixo de cada pedra.
Como confessa nesta entrevista ao Maisfutebol, Iturbe pretende apenas jogar o seu futebol. «Com simplicidade e qualidade.» «Entro no estádio do Cerro e as pessoas gritam o meu nome. É claro que fico orgulhoso, mas sei que também vou ter dias maus. Os hinchas do F.C. Porto não me conhecem e só lhes posso prometer que vou dar o máximo todos os dias.»
Iturbe confessa ser um apaixonado pelo Cerro Porteño. No coração, porém, há espaço para mais paixões. «Sempre fuicerrista, é o clube que amo. Daqui a seis meses vou chegar ao Porto e espero dizer, dentro de um ano, que também é o clube do meu coração. Quero dar tudo aí em Portugal, cumprir tudo o que o treinador me pedir e ganhar muitos títulos.»
Motivação-extra para Iturbe é a possibilidade de participar na Liga dos Campeões. «Sei que o Porto está em primeiro e que na próxima temporada poderei jogar a Champions. Quero fazer bem as coisas e sinto que vou ganhar essa prova fantástica», sublinha o esquerdino, 17 anos apenas.
Juan Iturbe ainda não viu o Estádio do Dragão. Não sabe o que o espera. O pai e o empresário deram-lhe «as melhores referências» sobre o seu futuro clube, mas nesta altura há mais dúvidas do que certezas sobre a nova realidade.
«No Paraguai não costumo ir muitas vezes à internet. Sei que o clube veste de azul e branco e que tem sido quase sempre campeão em Portugal», aponta, timidamente. Estas dúvidas poderão ser desfeitas rapidamente, pois o menino argentino tem planeada uma viagem até Portugal.
«O meu representante está a tratar das coisas. Já lhe disse que gostava muito de ver ao vivo ao F.C. Porto-Sevilha. É na quinta-feira, não é? Adorava estar aí e sentir o ambiente desse jogo.»
Obrigatório era trazer para a mesa de conversa o nome de André Villas-Boas. Afinal, o que sabe Iturbe sobre o seu mais-do-que-provável próximo treinador? «Apenas o que me disseram. Sei que gosta de apostar em jovens e que está a fazer um grande trabalho. Vou evoluir muito a trabalhar com ele. Já me elogiou? Não sabia. Bem, é um orgulho muito grande.»
«Real Madrid, ManUtd? Não, não, F.C. Porto»
A ideia foi colocada em circulação nas últimas semanas: Iturbe poderia ir directamente para o Real Madrid ou Manutd, por exemplo, sem chegar a vestir de dragão ao peito. OMaisfutebol colocou essa hipótese ao jogador. Este negou-a com veemência.
«Não, nem pensar. Obviamente, é bonito saber que há outros grandes clubes a seguir-me, mas só penso em estabilizar no F.C. Porto e fazer uma carreira bonita aí. Mais tarde, no futuro, vemos o que pode suceder. Garanto que é no Porto que vou jogar a partir de Julho.»
da Barraca Central para o mundo
Buenos Aires, bairro da Barraca Central. O pequeno Iturbe, filho de pais paraguaios, descobre o prazer pelo futebol nascanchas esconsas do Club Atlético Barracas. A habilidade natural, a perícia no trato da bola, o prazer de fugir aos pais e jogar até à noite são um vício irresistível. A história é um decalque de tantas outras.
Uma família humilde, um rapaz com um talento incomum, o futebol em jeito de salvação. «Os meus pais matavam-se a trabalhar para sustentar a família», recorda Juan Iturbe aoMaisfutebol.
«Em certos períodos, quase não os via. A minha mãe tinha uma farmácia e o meu trabalhava na construção civil. Eu ia para a escola e jogava à bola até à noite. Muitas vezes, só estava com os meus pais antes de ir dormir.»
Em 2005, o senhor Juan del Carmen e a esposa Miriam Arévalos regressam ao Paraguai e à cidade de Assunção. Iturbe tinha apenas 11 anos. O Cerro Porteño surge na sua vida. «Comecei a jogar nos infantis e fiquei por lá até agora. Apenas tive uma experiência no Quilmes, uma confusão. Agora está tudo resolvido.»
Apesar de viver no Paraguai, Juan Iturbe diz ser argentino «de corpo e alma». «Tenho uma vida calma. Passo grande parte do meu tempo com os meus pais e agora tenho uma namorada nova. Quero aproveitar os meus últimos meses no Paraguai, porque depois não vou ter os meus amigos daqui comigo.»
Com 16 anos estreou-se na primeira divisão paraguaia. O treinador era Pedro Troglio, antigo colega de Diego Maradona na selecção da Argentina. Antes de ser Pulguita ou Mini Messi, Juan Iturbe foi Cara sucia [cara suja]. «Andava sempre na rua e não gostava de tomar banho.»
Os tempos mudam, a vida corre, Juan limpou a cara e é um dos jovens futebolistas mais desejado em todo o mundo. O F.C. Porto adquiriu uma pérola de valor incalculável.
in "maisfutebol.iol.pt"
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