sexta-feira, 18 de março de 2011

Começar história pelo ponto final

Nem sempre acontece, mas desta vez foi assim: a história deste jogo começa mesmo no primeiro minuto. E vale a pena detalhar. Saída de bola do FC Porto, com passe lateralizado para Guarín, que sofre um toque ligeiro, quase uma carícia que não parecia ser mais do que mera casualidade irrelevante de aquecimento. O árbitro assinala-a e Hulk assume a marcação do respectivo livre. Longe, muito longe da baliza de Akinfeev. Sabemos todos que distância é um conceito relativo para o brasileiro, especialista em encurtá-las, mas nem ele imaginaria o que se passou depois. Aliás, o pontapé não parecia nada de especial, adivinhando-se nele apenas a intenção de servir alguém na área; Guarín fez-se ao lance sem chegar à bola, que tocou apenas no chão antes de ressaltar para dentro da baliza. Um dos mais estranhos golos de Hulk, que já marcou 29 esta época. Com o primeiro minuto ainda incompleto, os portistas reforçavam a vantagem conseguida em Moscovo. Era praticamente um ponto final na história logo a começar.

Do civilizado aperto de mãos entre as duas equipas a um aperto do pescoço do CSKA foi um instantinho. Akinfeev ainda tentava perceber que raio de lance tinha sido aquele e já havia uma resposta de Vágner Love a bater na barra da outra baliza. Tempo de jogo: três minutos. Ou melhor, três loucos minutos de emoções condensadas, sem margem de fôlego para mastigar as apostas dos dois treinadores. Na verdade, havia apenas uma a merecer destaque: Guarín manteve-se no onze, em prejuízo de Belluschi, e não demoraria muito a fazer-se notar. Liberto de pressões, o FC Porto carregou mais um pouco até ampliar a vantagem. Uma obra de méritos partilhados. A começar pela asneira grossa de Akinfeev, que se atrapalhou com a pressão de James e não conseguiu agarrar ou desviar um atraso de Ignashevich. A bola ameaçou sair pela linha de fundo, mas James foi inteligente ao não ceder à tentação fácil de conquistar o canto, acelerando para tirar um cruzamento que apanhou Akinfeev fora da baliza. Falcao falhou a emenda, mas estava Guarín ao segundo poste para empurrar. Ao terceiro golo do colombiano, em três jogos, apetece mesmo perguntar: quem és tu, Guarín?

Com a porta dos quartos escancarada, os portistas abriram também um pouco a defesa, assistindo de forma algo relaxada ao golo de Tosic. Mais do que acreditar na reviravolta, a festa russa que se seguiu terá sido um compreensível acto de exorcismo: ao sexto jogo (479 minutos depois, para ser mais exacto...), o CSKA conseguia, finalmente, marcar um golo ao FC Porto.

Isto tudo em menos de meia hora de jogo, convém lembrar.

Até ao intervalo, Helton teve de mergulhar corajosamente aos pés de Vágner Love para evitar o segundo golo e, com ele, uma injecção de moral no CSKA,que não tinha outro remédio senão inclinar-se para a frente, destapando ainda mais espaço nas costas dos médios. Talvez por isso, e também pela necessidade de controlar o jogo com a bola nos pés, Villas-Boas foi o primeiro a mexer na equipa, trocando os malabarismos de James pela certeza de ter um Belluschi que saberia conservar a bola nos pés, reforçando igualmente a presença na linha média. Slutski mantinha-se conservador, ou resignado, limitando-se a trocar Doumbia por Necid.

Os russos procuraram uma aproximação efectiva à baliza de Helton, quase sempre sem perigo. Fernando e Guarín limpavam pelo meio; Rolando e Otamendi completavam essa limpeza mais atrás, tornando as intenções do CSKA em lances inconsequentes. Com espaço para explorar, Hulk ainda embalou algumas vezes; Falcao esteve algo apagado. Nessa altura, os portistas falhavam muito no passe e, dessa forma, comprometiam a hipótese de engordar o resultado. O importante estava feito. Com a eliminatória controlada, Villas-Boas tratou de gerir esforços. O FC Porto está nos quartos-de-final da Liga Europa.

in "ojogo.pt"

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