Quem não se lembra dos mundialmente famosos saltos na classificativa de Fafe/Lameirinha do Rali de Portugal? Milhares de espectadores, uns mais temerários que outros, bordejavam, então, a estrada, em busca de emoções fortes, e entre eles esteve por mais de uma vez, na década de 90, o jovem André Villas-Boas, na companhia de amigos. Era fã de pilotos como Carlos Sainz ou Colin McRae e também admirava o já então veterano Miki Biasion. Grande entusiasta do desporto automóvel, desde miúdo que guarda essa paixão e ontem o agora treinador do FC Porto, a poucas jornadas de conquistar o título de campeão nacional, teve oportunidade de concretizar um sonho antigo: viver por dentro as emoções ditadas pelo ritmo de andamento de um piloto do Mundial de Ralis. "Foi óptimo, único, fantástico", disse, ao deixar o banco do lado direito do Ford Fiesta RS WRC nº 15 que o britânico Matthew Wilson tripulará, a partir de hoje, na terceira prova do campeonato do mundo, cuja primeira classificativa, esta tarde, terá como palco a zona do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
O convite ao treinador do FC Porto para substituir, num curto espaço de tempo e sem ditar notas de andamento, Scott Martin foi endereçado pelo presidente do Automóvel Clube de Portugal, organizador do rali, depois de a equipa M-Sport Stobart Ford World Rally Team se ter disponibilizado para colaborar, aproveitando o tradicional shakedown (3,2 km), uma pequena classificativa no qual as equipas procedem à afinação dos carros na véspera da prova. Quanto recebeu o telefonema de Carlos Barbosa, Villas-Boas não hesitou um segundo que fosse, entusiasmado com a experiência de andar ao lado de um piloto profissional e num carro da nova geração WRC estreada esta época do Mundial de Ralis. "Não vou andar no máximo, mas o suficiente para o nosso convidado se divertir e ficar com uma ideia de como andamos numa classificativa e também do funcionamento do carro. De certeza que vai gostar…", comentava o simpático Wilson.
Um aparatoso acidente do norte-americano Ken Block, que capotou o seu Ford Fiesta RS WRC logo no início da classificativa, obrigou a interromper a sessão para o piloto ser evacuado, por precaução, para o hospital. Resultado: o técnico do FC Porto, já equipado com o fato de competição, esteve pouco mais de 45 minutos à espera de "luz verde" para o Fiesta de Wilson poder acelerar a fundo… ou quase.
"Se travei muito? Não, de modo algum, claro que foi uma experiência nova e gratificante, pois tive sensações que nunca antes experimentara. Valeu a pena e só tenho que agradecer ao ACP e à família Wilson [patrão da equipa M-Sport] a simpatia que tiveram para comigo", declarou, depois da volta pela classificativa de Vale de Judeu, nos arredores de Loulé.
André Villas-Boas confessou que o seu bichinho pelos desportos motorizados, e particularmente pelos automóveis, esteve "sempre presente", relevando os aspectos que mais o impressionaram: "A potência do motor, a travagem, aquelas acelerações. São tudo situações difíceis de viver numa situação normal."
As emoções são comuns ao futebol e aos ralis e o treinador do FC Porto não se escusou a compará-las. "Trata-se de estímulos diferentes, a potência do carro, o talento dos pilotos, tal como o talento dos jogadores faz a diferença. Esta relação máquina/piloto é fundamental." E quando questionado se, profissionalmente, trocaria o futebol pelos automóveis, revelou-se categórico: "Para ser piloto eu não tenho jeito", garantiu. Mas também não teve receio, confessou: "Senti-me completamente seguro. Adorei mesmo a experiência e se no futuro surgir nova oportunidade, talvez a aceite."
Viagem de helicóptero teve paragem forçada
André Villas-Boas viajou ontem para o Algarve de helicóptero logo que terminou os seus afazeres profissionais no FC Porto, tendo embarcado em Massarelos rumo ao Estádio do Algarve, com uma paragem breve em Lisboa, para "apanhar" Carlos Barbosa, o presidente do ACP. Depois de deixar a capital, pouco depois das 14 horas, o aparelho, num dia ventoso mas com sol e poucas nuvens fez uma paragem não programada por questões de segurança. É que uma luz… vermelha começou a piscar no cockpit e o piloto entendeu que o melhor seria encontrar um local aprazível para aterrar, o que sucedeu na zona da Comporta. Uma breve paragem e logo que surgiu a certeza da inexistência de problemas, o voo prosseguiu até às imediações do Estádio do Algarve, passa das 15h30. Foi tempo de o técnico do FC Porto envergar o fato de competição entregue pelo ACP, ser apresentado a Malcom Wilson, patrão da equipa oficial da Ford e pai de Matthew, e ao piloto. Depois, o acidente de Ken Block, ditando a interrupção do shakedown, atrasou, e de que maneira, Villas-Boas, cuja volta com o piloto britânico no Ford Fiesta RS WRC começou já bastante depois das 17h30, chegando o carro ao parque de assistência meia hora depois. Só então teve tempo para… almoçar, mas dado que o sol começava já a baixar no horizonte, o regresso ao Porto foi feito à noite de avião, porque já não havia tempo de repetir, em segurança, a viagem de helicóptero.
Guiado por um jovem piloto fã do Manchester United
"Sei alguma coisa do futebol de Portugal e julgo que o FC Porto será, provavelmente, a equipa mais forte, embora o Benfica também seja uma boa equipa, dizia-nos, com um sorriso, o jovem Matthew Wilson, o piloto responsável por mostrar a André Villas-Boas o que é um carro de ralis e como se anda rápido numa classificativa em piso de terra. Não tem mais de 24 anos o filho de Malcom Wilson, o patrão da M-Sport - empresa que desde há 25 anos é responsável pela participação da Ford no Mundial de Ralis - que sem as portas abertas pelo seu pai dificilmente teria o actual estatuto de piloto semioficial. "Sei que o André é o treinador do FC Porto, uma equipa que não há muito tempo jogou com o 'meu' Manchester United", disse ainda, para depois formular um desejo ao seu convidado: "Espero que ele goste da experiência e se divirta ao máximo. Quanto ao resto, vou explicar-lhe todos os detalhes do carro e da forma como o conduzo, quer nas travagens quer nas curvas."
No final, Matthew Wilson, de sorriso bem aberto, dizia aos jornalistas: "Parece que o André gostou. Ele é um grande apaixonado de ralis…".
Acelerar está nos genes
Não é unicamente de carros que o treinador do FC Porto gosta e já chegou a ir para a serra dos arredores do Porto deliciar-se na condução de um UMM. Aliás, André é sobrinho de um dos pioneiros do todo-o-terreno no nosso país, Pedro Villas-Boas, e também um dos primeiros portugueses a disputar o genuíno Paris-Dacar, na década de 80, com uma armada portuguesa da equipa UMM da qual faziam parte pilotos como o malogrado José Megre ou Pedro Cortez, entre outros.
E André Villas-Boas também gosta, quando dispõe de tempo, de passear na sua KTM 250 preparada para trial, que não é exemplar único de duas rodas na sua garagem…
in "ojogo.pt"
Sem comentários:
Enviar um comentário