quinta-feira, 21 de abril de 2011

Análise de Bruno Prata

Jesus só tinha plano para defender, Villas-Boas deu a volta à situação com a ajuda de Moutinho


1. A remontada, categórica, contrariou todas as probabilidades estatísticas, mas respeitou a principal e mais importante lei do futebol: ganhou a melhor equipa e a única que se apresentou com um plano (mesmo que algo tardio) para vencer o jogo. André Villas-Boas ganhou a eliminatória durante o intervalo e nas substituições de um jogo que foi sempre um enorme depósito de sentimentos, nem sempre saudáveis. Mas o herói no relvado chamou-se João Moutinho.

2. Foi talvez o pior dos cinco confrontos entre o Benfica e o FC Porto e os primeiros 45 minutos foram um enorme soporífero. Culpa do Benfica, que entrou na expectativa e com a segurança dos dois golos de vantagem, mas principalmente culpa de um FC Porto pouco intenso e demasiado errático no passe e nas saídas para as transições ofensivas.

3. Jorge Jesus resistiu à tentação de repetir o duplo pivot que tão bom sucesso garantira no início de Fevereiro, quando o Benfica calou o Dragão. As ausências (a última acabou por ser a de Gaitán) podem ter contribuído para isso. Mas, como se esperava, César Peixoto surgiu no lado esquerdo do losango. Para o lado contrário foi guardada a meia-surpresa, protagonizada por Jara, ficando Carlos Martins no apoio à dupla habitual na frente.

4. Rapidamente se percebeu que o Benfica estava ali quase apenas para deixar correr o marfim, recuando as linhas e pressionando mais atrás do que é hábito - papel em que esteve extraordinário Coentrão. Mas, aí, fazia-o com garra e alguma clarividência. Não mostrava uma ideia com a bola (excepto nas cavalgadas de Maxi), mas também não deixava jogar um FC Porto que teimava em perder bolas. Nos últimos minutos da primeira parte já se notou a retoma portista, mas Falcao só conseguiu contribuir para que Júlio César começasse a tornar-se como um dos melhores em campo.

5. A segunda parte foi outra história, quase integralmente pintada a azul e branco. A mudança foi radical e em todos os capítulos. E a superioridade do FC Porto tornou-se avassaladora depois do primeiro golo, até porque o Benfica pareceu impreparado para lidar com essa circunstância. Minutos antes do pontapé certeiro de Moutinho, Rúben Micael cedera o lugar a James Rodriguez, o que a equipa entendeu como um sinal para carregar ainda mais no acelerador. Muito antes do segundo e do terceiro golos já o Benfica havia bloqueado, quase entrando em delírio. No campo e não só. Jesus, de mãos na cabeça, começou por adiar a entrada de Aimar, mas acabou a meter, à pressa, homens para a frente.

6. O penálti, caído do céu, deu uma falsa sensação de incerteza no último quarto de hora. Mas, na verdade, o Benfica era então uma equipa desequilibrada (só Carlos Martins praticamente ajudava a defesa) frente a um adversário que só não o humilhou porque preferiu jogar pelo seguro.

7. Carlos Xistra tem as insígnias da FIFA, mas isso não faz dele um bom árbitro. Hulk estava adiantado no segundo golo e o penálti sobre Saviola foi mais do que duvidoso. Mais grave do que isso, provou não ter personalidade até na forma como apitou para as bancadas nos últimos dez minutos.


in "publico.pt"

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