domingo, 24 de abril de 2011

“Não é justo dizer que Villas-Boas é um Mourinho”

Técnico falou da aventura atribulada no Panathinaikos, um clube sem presidente e sem director desportivo. E olhou para o futebol português. Chumba o desempenho do Benfica e aprova a mudança de Domingos Paciência para o Sporting.


Correio Sport - Disse que ia para a Grécia para ser campeão e ficou no segundo lugar. O que correu mal?
Jesualdo Ferreira – O Panathinaikos é o clube com o melhor currículo internacional mas no plano interno o Olympiacos é mais forte. Essa superioridade está entranhada, repercutindo-se a nível da organização, da disciplina e do poder instituído. Fomos até onde pudemos ir, ficámos em 2º, e o jogo com o Olympiacos, em Fevereiro, foi decisivo. Teve casos tristes.
O Panathinaikos é o clube com o melhor currículo internacional mas no plano interno o Olympiacos é mais forte. Essa superioridade está entranhada, repercutindo-se a nível da organização, da disciplina e do poder instituído. Fomos até onde pudemos ir, ficámos em 2º, e o jogo com o Olympiacos, em Fevereiro, foi decisivo. Teve casos tristes.
– Está a falar do golo mal anulado à sua equipa e outro mal validado ao Olympiacos?
– Cenas lamentáveis de arbitragem e uma invasão de campo por parte dos adeptos do rival, etc. O país é bom, as pessoas óptimas, adoro o Panathinaikos, mas não é fácil trabalhar no futebol grego.
– Fica no Panathinaikos?
– A minha continuidade depende do que vier a acontecer no clube. O presidente demitiu-se, o director desportivo (Carlos Freitas) também. O impasse leva quatro meses.
– Abordaram-no para ficar?
– Querem que fique, sim. Agora estamos num ‘play-off’ de acesso à Champions que não faz sentido.
– Porquê?
– É incompreensível uma liguilha de 6 jogos em 2 semanas. Além disso, terminámos a fase regular com 10 pontos de avanço sobre o AEK, 12 sobre o PAOK e 13 à frente do Olympiakos Volous. Agora iniciamos a prova com vantagem de dois e três pontos, respectivamente.
– Ninguém questiona isso?
– A mentalidade instalada é de que o Olympiacos é sempre campeão, por isso os clubes acomodam-se.
– Fizeram-lhe convites de outros emblemas?
– Estando distante dos centros de decisão e poder, não é fácil. E não me movimento nesse sentido.
– Voltar a Portugal é hipótese?
– De férias, sim.
– Se voltasse para treinar, teria de ser um ‘grande’?
– Não faria sentido outra situação mas não penso nisso. Creio que ainda posso ganhar alguma coisa no Panathinaikos.
– Como é a sua relação com os ‘media’ gregos?
– Um mundo à parte. Acaba um treino e, passada uma hora, sai nos ‘sites’ o que eu disse aos jogadores.
– Não fecha as portas do treino?
– Fecho, mas a rapaziada conta tudo o que se passa. Depois, cada um escreve à sua maneira.
– Esperava que Carlos Freitas regressasse ao Sporting?
– Fiquei decepcionado, por não acabar o projecto que nós come-çámos. Mas saiu com argumentos legítimos.
– Será ele o antídoto para a crise dos ‘leões’?
– Espero que seja. A turbulência competitiva e directiva do Sporting é indisfarçável. Até as eleições foram confusas. O Carlos tem experiência e ‘know-how’ para mudar a linha de funcionamento do clube, embora não me pareça que consiga fazê-lo num ano ou dois. Precisa de tempo para atingir um rumo que não deixe espaço para os solavancos dos últimos anos.
– Domingos Paciência rima com Sporting?
– Rima. O Domingos já fez um trajecto bonito para ser treinador de um clube grande. Mas orientar um grande não é o mesmo que treinar um clube que quer ser grande.
– Que explicação para os pontos de avanço do FC Porto sobre Benfica (19) e Sporting (35)?
– Não é a primeira vez que acontece. Não me espantou.
– Está a pensar no título que conquistou nos dragões na época de 2007/08?
– Não. É verdade, porém, que terminámos com 23 sobre o Benfica e 20 sobre o Sporting. Depois ‘roubaram-nos’ seis na secretaria, por causa do ‘Apito Final’.
– Que diferenças entre este FC Porto e o seu na época passada?
– Tem jogadores que fizeram campeonatos, como o Moutinho, falta o Bruno Alves e o Meireles. Essencialmente, é a mesma equipa, só que crescida, com a evolução natural de jogadores que conhecem melhor o clube e o Campeonato.
– E o Benfica?
– Foi vítima da própria incapacidade de lidar com um mau arranque. Ganhar a Supertaça deu confiança ao FC Porto e ajudou a que o Benfica entrasse mal na liga: perdeu três jogos em quatro e não se encontrou. Acredito que ganhe a Taça da Liga frente ao Paços de Ferreira.
– Villas-Boas surpreendeu-o?
– Trabalhou bem. Ser treinador do FC Porto é um risco permanente. Para o ano, poucos se lembram do que fez. No Benfica, a mesma coisa.
– A comparação a Mourinho...
– Não é justo dizer que Villas-Boas é um Mourinho...
– Quem tem mais ‘chances’ de chegar à final da Liga Europa?
– O FC Porto tem mais agressividade ofensiva do que o Villarreal. O Sp. Braga, com menos qualidade do que no ano passado,tem ultrapassado o bloqueio mental de jogar com gigantes. Se o fizer de novo, pode eliminar este Benfica.
– Vai a festas do ‘jet-set’. Sente-se uma celebridade?
– Não sou do ‘jet-set’ (risos). Sou o tipo mais simples do Mundo.
– Era capaz de participar num ‘reality show’?
– Não (risos).
– A sua mulher deu nega a um. Influência sua?
– Ela toma as suas decisões. Era para ser um programa sobre mulheres ricas. Se eu não sou rico, ela não pode ver-se como tal.
PERFIL
MANUEL JESUALDO FERREIRA nasceu em Mirandela há 64 anos (24/05/1946). Emigrou em criança para Angola mas regressou na adolescência. Foi em Lisboa que se licenciou em Desporto e se lançou no futebol. Trabalhou nas selecções e na formação do Benfica, iniciando-se como treinador nas divisões inferiores. A estreia na liga principal foi na Académica, em 1984. Regressou às selecções nos anos 90, voltou ao Benfica como adjunto e ‘virou’ treinador principal após a demissão de Toni. Correu mal a experiência, mas não ficou muito tempo desempregado, porque foi contratado pelo Sp. Braga. Finda a aventura minhota, rumou ao Boavista e foi ‘pescado’ por Pinto da Costa na pré--época. Foi o primeiro técnico português tricampeão no FC Porto.
in "cm.pt"

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