Há uma velha piada a que é difícil resistir num momento destes e que reza mais ou menos assim: os submarinos até flutuam, mas foram feitos para afundar. E o Villarreal, o submarino amarelo que vinha de Espanha com ares de ameaça séria, afundou-se com estrondo no mar de entusiasmo do Dragão, ainda que tenha agitado as águas antes de ser engolido. Já se explica como. Antes, convém dizer que viagem para Dublin faz-se agora com escala burocrática em Vila-Real, onde só uma catástrofe de dimensão tão épica quanto improvável impedirá o FC Porto de chegar à quinta final europeia da sua história. Obra e graça de uma equipa com nervos de aço, comandada por um treinador que vai despindo o fato de "Special two" e vestindo o de "Special too" (o trocadilho funciona melhor em inglês, mas, traduzindo, significa que mais do que um Especial Número Dois, Villas-Boas vai-se confirmando como um treinador Também Especial por conta própria). Obra ainda de um Falcao espantoso que ajuda, e muito, a explicar o facto de o FC Porto chegar a esta fase com o melhor ataque das competições europeias, saltitando de goleada em goleada.
Até chegar a esta história cor-de-rosa, e mais cor-de-rosa por causa disso, foi preciso sobreviver a um pesadelo de 45 minutos. Uma primeira parte de equívocos inesperados do FC Porto, com erros tremendos no passe, falhas inexplicáveis na pressão ao meio e ainda um flanco esquerdo que virou avenida para os passeios de Nilmar. Num desses passeios sem obstáculos, o brasileiro acabaria por descobrir a cabeça de Cani na área e, em cima do intervalo, o Villarreal chegava ao golo, aparentemente comprometedor para as ambições portistas. Fechadinhos, solidários a defender, os espanhóis mantinham a defesa portista em constante sobressalto para o qual os dragões não encontravam antídoto. Pior ainda: Álvaro Pereira andava distraído e Guarín jogava a passo.
A referência a esses dois, mesmo que justa e obrigatória, também não é inocente. Ironicamente, acabaria por ser na sequência de um corte decisivo do uruguaio na área portista que começaria uma resposta desenvolvida por Guarín e na qual participou Falcao. Nasceu aí o penálti que marcou o ponto de viragem e o início da reviravolta, consumada em dez minutos e ampliada em menos de 20.
Sereno e embalado pelo público, o FC Porto cavalgou para uma segunda parte demolidora, com Guarín a provar que, em nítida inferioridade física, pode ser decisivo: marcou o segundo, com o mérito de não desistir da jogada, e assistiu o quarto, ao aproveitar uma saída de Hulk (estava a ser assistido por lesão) para apontar um livre à cabeça de Falcao. Mais uma prova de que Hulk não os deve marcar todos, mesmo que tenha sido ele a servir numa bandeja dourada o segundo golo de Falcao no jogo.
Já sem as ameaças de Borja Valero e Nilmar, substituídos, os portistas souberam manter o ritmo insaciável para escarafunchar as feridas do Villarreal. E escarafunchar feridas pode ser altamente doloroso, sobretudo quando há Falcao por perto. O quinto golo acabou por ser um ponto final perfeito de uma noite mágica. Tão mágica como a vitória (4-1) sobre a Lázio, na primeira mão da meia-final de 2003. Coincidências...
FC Porto 5 | Villarreal 1
Estádio do Dragão
Assistência: 44.719 espetadores
Árbitro: Bjorn Kuipers, da Holanda
FC Porto: Helton, Sapunaru, Rolando, Otamendi, Álvaro Pereira, Fernando, Guarin (Souza, 78), João Moutinho, Hulk (James Rodriguez, 84), Cristian Rodriguez (Varela, 71) e Falcao.
(Suplentes: Beto, Maicon, Varela, Walter, James Rodriguez, Souza e Rúben Micael)
Villarreal: Diego López, Mário Gaspar, Musacchio, Marchena, José Catalã, Borja Valero (Wakaso Mubarak, 66), Bruno Soriano, Cani (Javier Matilla, 71), Santi Cazorla, Nilmar (Marco Ruben, 71) e Rossi
(Suplentes: Juan Carlos, Marco Ruben, Joan Capdevila, Javier Matilla, Cicinho, Kiko, Wakaso Mubarak)
Ao intervalo: 0-1
Golos | 0-1, Cani, 45 minutos; 1-1, Falcao, 49 (g.p.); 2-1, Guarin, 61; 3-1, Falcao, 67; 4-1, Falcao, 75; 5-1, Falcao, 90
Amarelos para Fernando (05), Hulk (26), Borja Valero (41), Diego López (48), José Catalã (74) e Helton (82)
in "ojogo.pt"
1 comentário:
Mais uma bela e gloriosa página, escrita por uma equipa que sabe seguir à letra o lema do Clube: «Ganhar é o nosso destino».
Resultado e exibição que honram os pergaminhos e quando assim é para quê falar das dificuldades da primeira parte.
Dublin ficou imensamente mais perto, mas falta ultrapassar o «quase».
Estou certo que AVB vai continuar a fazer história e a pulverizar todos os recordes.
Estou cada vez mais orgulhoso deste Clube, o melhor de Portugal e um dos melhores do Mundo.
Um abraço
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