Está quase a fazer um ano que Vítor Baía cessou funções no FC Porto, onde liderava o departamento de relações externas. O ex-guarda-redes praticamente desapareceu da cena mediática, controlando com pinças as aparições públicas e também as declarações. Poucas, muito poucas. Ontem, na celebração do sétimo aniversário da Fundação Vítor Baía e coincidindo com o Dia Mundial da Criança, o ex-guarda-redes apareceu em Vila Nova de Gaia e falou um pouco de tudo.
A começar pelos êxitos fresquinhos do FC Porto. "Foi uma época realmente extraordinária. No início, nem os mais optimistas estariam à espera de algo semelhante. Acompanhei de perto todas estas conquistas e, como portista, fiquei muito, muito feliz com o sucesso alcançado." Baía trocou o gabinete pela bancada e seguiu com toda a atenção a equipa de André Villas-Boas. Ao ponto de considerar possível a repetição do cenário vitorioso após a conquista da Taça UEFA, em Sevilha, que teve sequência na Liga dos Campeões de 2004. "Tudo pode acontecer em futebol. As situações são diferentes, mas porque não? No início desta época, também ninguém acreditava no feito que o FC Porto conseguiu. Por isso, não vejo razões para não acreditar em mais sucessos. Há que lutar por eles", afirmou Vítor Baía.
No Mónaco, na Supertaça Europeia, Villas-Boas vai defrontar Guardiola, no qual se inspira. Baía, que trabalhou com ambos, prefere não fazer grandes comparações. "Cada um tem a sua forma de ver o jogo, a sua filosofia e personalidade. São dois treinadores que gostam de que as suas equipas dêem espectáculo e, por isso, será uma Supertaça europeia com grande emoção. Será um bom espectáculo."
Quanto às explicações sobre a saída do FC Porto, continuam a ser vagas. "A minha ligação ao FC Porto é eterna. Estou na história do FC Porto, tal como estou na história do Barcelona, mas a nossa vida tem de continuar. Se fosse possível trabalhar no FC Porto, fantástico. Não sendo possível, tenho de seguir o meu caminho e traçar os meus objectivos. Pretendo dar seguimento à minha carreira como dirigente, sendo útil e fazendo aquilo de que mais gosto, que é fazer parte de um projecto ambicioso e estar na gestão diária de uma equipa de futebol." Baía acrescentou ainda que as funções que desempenhava no FC Porto tinham "conteúdos diferentes" daqueles que ambicionava.
"Continuo a encarar a hipótese Federação"
A Federação Portuguesa de Futebol continua a estar nos horizontes de Vítor Baía. A ideia foi lançada em Setembro de 2010. "O que eu disse na altura foi que estava disponível para ajudar e para ser uma mais-valia para a Federação. Com os estatutos aprovados e com tudo regularizado, isto é, a Federação estando dentro da lei, encaro a hipótese desde que o projecto seja credível e com gente de qualidade. Porque não? É uma possibilidade, mas não passa disso." Ora, se Baía chegasse à presidência da Federação será que Paulo Bento seria o seu eleito? "É o seleccionador nacional e é a pessoa que tem a confiança de todos os portugueses. Que tenha muita sorte", disse, acrescentando esperar uma vitória com a Noruega.
"Estranhei muito ver Domingos de verde"
Amigo de longa data, Domingos Paciência associou-se à comemoração do sétimo aniversário da Fundação Vítor Baía, tal como João Vieira Pinto, e surgiu ao lado do ex-guarda-redes em Vila Nova de Gaia. O treinador do Sporting não quis falar - "Quem é o melhor jogador do Braga? São todos", foi apenas a frase que se ouviu em resposta a um miúdo -, mas Vítor Baía não se importou de falar de Domingos. "Vou aplaudir as vitórias do Domingos em todos os jogos, menos contra o FC Porto. Ele tem tido muito mérito na carreira que tem feito. Tem subido a pulso e demonstrado uma grande capacidade e competência. Neste momento, o Domingos está ao nível dos melhores em termos europeus", explicou.
Depois de Leiria, Académica e Braga, o Sporting é um salto na curta carreira de Domingos. Baía acredita que o amigo tem condições para chegar ao sucesso. "É só dar continuidade ao que já fez. Há a amizade, mas também há o meu amor pelo FC Porto. Vou ser sincero: achei muito estranho quando o vi de verde e branco. Mas é a vida. Ele faz muito bem em seguir o seu caminho, e desejo-lhe muita sorte, menos nos dois jogos com o FC Porto." O ex-guarda-redes não duvida que o Sporting acertou na contratação. "Leva competência de certeza absoluta. Disso não tenho dúvidas. Ele saberá o que terá que fazer, mas nem quero falar do Sporting, porque não conheço a realidade. Reconheço que é um grande clube, claro, mas ele é que terá de falar do Sporting." Mas Domingos não falou.
Quando é que regressas ao futebol, Vítor?
Barba de três dias, o cabelo mais grisalho do que nunca, vestido com um casaco cheio de estilo e talvez com dois ou três quilogramas a mais desde os tempos em que andava entre um poste e o outro a defender os remates dos adversários. Assim está Vítor Baía, 41 anos, dedicado a cem por cento à fundação que dirige, vocacionada para o apoio a crianças desfavorecidas. Já auxiliou mais de dez mil, mas o futebol é a essência da sua vida e é para ele que quer voltar. Em breve. "A minha vida está e estará sempre ligada ao futebol. Neste momento tenho uma preponderância maior na fundação e no trabalho que temos realizado. Estou mais junto das pessoas, mais em campo, e a pôr em prática novos projectos. Mas, naturalmente, a minha vida tem a ver com o futebol, e é isso que pretendo. Tenho um curso de Gestão do Desporto e pretendo seguir a direcção desportiva. É esse o meu objectivo em termos profissionais", disse. E para quando o regresso? "Não há prazos. É quando surgir o melhor momento para o fazer", analisou. Já houve convites, mas nenhum que tenha seduzido Baía. "Têm surgido alguns, mas não vale a pena estarmos a falar deles. Se ainda não aceitei, é porque não é o momento certo nem o projecto que pretendo."
FC Porto-Barça de despedida
No final da época 2006/07, no jogo entre o FC Porto e o Aves, Vítor Baía fez a defesa mais difícil da sua vida. Pôs um ponto final na carreira ao fim de 700 jogos nos seniores e ao cabo de 33 títulos conquistados, a maior parte deles no FC Porto. Ontem, por portas travessas, o tema cruzou-se com a actualidade. Falava-se da Supertaça europeia, no Mónaco, entre o FC Porto e o Barcelona. "Vai ser um dia muito especial. Quando terminei a carreira, o meu principal desejo era que o jogo de homenagem tivesse como protagonistas o FC Porto e o FC Barcelona", disse Vítor Baía. O jogo de homenagem do ex-guarda-redes, com o Barcelona ou com outro clube, nunca passou do papel. Percebeu-se ontem que a mágoa persiste. Aliás, até existe uma página na rede social Facebook, com quase oito mil subscritores, a pedir tal homenagem. A escolha do Barcelona tinha motivos óbvios. "Foram as duas equipas que representei e onde deixei, felizmente, algo importante. Faço parte da história desses clubes. Assistir a um jogo entre as duas equipas [no Mónaco] será um momento de grande emoção, uma oportunidade para rever grandes amigos", explicou. Seja como for, Baía não tem dúvidas enquanto adepto. "Naturalmente pretendo que o FC Porto vença. É natural. Mas não ficarei tão triste se o FC Porto não vencer."
in "ojogo.pt"
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