sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Angelino Ferreira: "Vamos para o mundo"


Num contexto de crise e de retracção, o FC Porto está investidor. Angelino Ferreira falou a O JOGO e revelou que está em curso um projecto de internacionalização.


O modelo de negócio da SAD depende ainda mais dos sucessos desportivos neste contexto de crise global?

Sabemos quão importante é ganhar. Alavancamos a nossa actividade no sucesso desportivo, é fundamental e dependemos dele.

É impossível prometer aos adeptos que não serão vendidos os principais activos do plantel?

É verdade que o sucesso desportivo depende de investimentos grandes no plantel, quer com a compra de jogadores, quer com a renovação dos que já cá estão. Isso exige algum esforço financeiro e a fixação de objectivos, muito deles individuais, que se reflectem nos custos da sociedade. Hoje em dia, 35 por cento dos custos com pessoal têm que ver com a componente variável, isto é, com prémios.

A SAD gastou mais de 50 milhões de euros com pessoal. Foi batido o recorde de custos?

É natural. Só nas rubricas variáveis gastámos mais 10 milhões de euros do que na época passada, o que se compreende à luz dos sucessos que tivemos a nível nacional e que alargámos com a conquista da Liga Europa. São prémios de desempenho com impacto nas contas.

O arranque da caminhada na Liga dos Campeões não tem sido esclarecedor. Perspectivando receitas, qual é o mínimo que se exige à equipa?

O nosso pressuposto, que até está orçamentado, é a presença nos oitavos-de-final. É o patamar que temos como objectivo e que é possível atingir. Já temos ido além e isso seria muito bem-vindo, porque representaria maiores proveitos.

Numa fase em que a economia está em retracção, o FC Porto continua a investir. A SAD não anda contraciclo? Lembro que falou, durante a apresentação dos resultados, da necessidade de reduzir custos...

Rescindimos vários contratos com jogadores que estavam emprestados, mas também houve muito investimento. Temos poucos jogadores emprestados hoje, o que não acontecia há uns anos. O plantel está mais curto, mas com mais qualidade, e fizemos um forte investimento nesse sentido. A indústria do futebol tem as suas particularidades e tem potencial de crescimento, ao contrário de outros sectores da actividade económica. É com os olhos nesse potencial que estamos a desenvolver algumas iniciativas.

Pode revelar-nos quais?

Passam essencialmente pela internacionalização da marca FC Porto. Já traçámos as linhas, sabemos como queremos fazer, mas não é fácil. É um projecto que vai demorar muito tempo e que nos vai exigir as ferramentas adequadas.

Mas a internacionalização materializa-se em quê?

Expansão dos nossos negócios ao nível do merchandising, do canal televisivo, enfim... São projectos em curso. Na nossa reflexão estratégica concluímos que temos de ir para o Mundo. E nós vamos para o mundo.

Quais são os parceiros do FC Porto e que impacto têm na capacidade de investimento da SAD?

São uma das alavancas do nosso negócio. Precisamos de parcerias em diferentes áreas. Ainda recentemente celebrámos uma parceria com um banco brasileiro [n.d.r.: BMG], mas há outras áreas nas quais procuramos ainda parceiros.

"40 milhões pelos jogos do Benfica? Não acredito"

O FC Porto renegociou o seu contrato televisivo [encaixou, no último ano, pouco mais de 11 milhões]. Como concorrente, pergunto-lhe se lhe parece possível que o Benfica venda os seus direitos por uma verba na ordem dos 40 milhões anuais, como se tem escrito, e se é verdade que o contrato do FC Porto possui cláusula de indexação?

Há muito que decidimos que tínhamos de estar no mercado, não faremos um aproveitamento interno, nem mesmo tendo um canal televisivo. É verdade que há uma cláusula de indexação, mas só no caso de o operador com quem temos o contrato vir a fazer novos contratos com outros clubes. Se for um player diferente, não beneficiamos.

Não teme uma clivagem grande? Ou não acredita nos números que têm sido associados ao novo contrato que o Benfica está a negociar?

O mercado é soberano e saberá ditar o preço adequado. Se me pergunta a minha opinião pessoal, dir-lhe-ei que não acredito. A não ser que seja enquadrado num contexto mais alargado de negócios. Em termos de preço directo do negócio, não sei que mercado português pode suportar um negócio daqueles, mas isso não nos preocupa.

Contas em dia

Villas-Boas

Na apresentação das contas, saltou à vista, nos proveitos, a rubrica "Outros", que rendeu mais de 15 milhões de euros. A explicação está em Villas-Boas e na cláusula paga pelo Chelsea ainda em Junho. A auditoria entendeu que não era correcto incluir a mais-valia com a transferência do treinador junto da venda de passes de jogadores.


Quem está?

Falcao ainda não entra nas contas, ao contrário de Bruno Alves e Raul Meireles.


UEFA já rende

Com um encaixe superior a 18 milhões, o FC Porto lucrou mais com a UEFA do que no exercício anterior. Ora, a Liga Europa não vale assim tanto e Angelino Ferreira explicou que é prática a inclusão dos 7,2 milhões de euros da participação na Champions no exercício em que ela é garantida. Assim foi...


Plnatel valioso

O FC Porto dispensou o acessório para reforçar a aposta no essencial. Rescindiu com vários jogadores que estavam emprestados e hoje tem o seu plantel avaliado em quase 90 milhões de euros (há um ano valia 67,8 milhões). Angelino Ferreira ressalvou que a equipa "está registada a preço de custo", o que não reflecte o que pode render em negociações de mercado.


E O IVA?

Angelino Ferreira admitiu uma quebra nas quotizações e na venda de Dragon Seat, sem que isso reflicta, no entanto, a perda de valor na rubrica da bilheteira. A SAD nega que os preços a praticar no Dragão aumentem, mas admite que a subida do IVA vai representar quebras no consumo e que o futebol não é um universo à margem.

in "ojogo.pt"

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