domingo, 30 de outubro de 2011

Hulk ferve com os assobios

Já estou a ficar um bocado farto dos assobios. Os adeptos têm de meter na cabeça que não vale a pena assobiar" - 19 de Janeiro de 2008. A frase pertence a Quaresma e seguiu-se a uma vitória (2-0) do FC Porto sobre o Aves no Estádio do Dragão. Mais de três anos depois, a história repetiu-se; no jogo de sexta-feira, as manifestações de desagrado voltaram a ser uma constante, quase sempre com o mesmo alvo: Hulk. O brasileiro não gostou de ter sido assobiado na própria casa, sobretudo porque esses assobios apareceram muito cedo no jogo, logo aos 20 minutos, depois de uma perda de bola no meio-campo defensivo. Mais do que a substituição, Hulk ficou revoltado com aquilo que sentiu ser uma tremenda ingratidão dos adeptos perante um dia menos positivo no plano individual. O avançado não o disse no final - apenas pediu desculpa por não ter ido para o banco de suplentes -, mas a verdade é que não gostou nada da atitude dos adeptos, por sentir que tem sido de uma enorme dedicação e fidelidade ao clube. E são vários exemplos que poderia ter esgrimido: apesar do estatuto que conquistou nos últimos anos, nunca manifestou vontade de sair e ainda esta época se disponibilizou para jogar frente ao Leiria no dia imediatamente a seguir à partida que realizou pela selecção brasileira. Rui Moreira, conhecido adepto do FC Porto, também se colocou ao lado do avançado nesta luta em particular. "Não consigo compreender os assobios dos adeptos, muito menos a um jogador com esta dedicação ao clube", referiu.
Apesar disso, Hulk não gosta de ser substituído, nunca gostou; quer jogar sempre - partida com o Leiria é um bom exemplo -, seja na Liga dos Campeões ou na Taça de Portugal. Aliás, na época passada, o brasileiro também se mostrou descontente quando foi substituído com o Rapid de Viena e, sobretudo, no jogo frente ao CSKA de Sófia. Villas-Boas chegou mesmo a comentar o assunto. "O Hulk tem apenas um lado de homem extremamente competitivo. E como qualquer outro jogador gera insatisfação quando é substituído e pensa que está bem. Foi isso que aconteceu em Sófia. Desde que não me batam...", explicou.
A verdade é que o Estádio do Dragão tem um imenso historial de casos similares, mesmo estando o FC Porto habituado a vencer quase sempre ao longo dos últimas décadas. Também aconteceu - imagine-se! - na época passada: na partida com o Pinhalnovense, para a Taça de Portugal, ouviram-se assobios pelo facto de os portistas terem conseguido vencer apenas na fase final do jogo, curiosamente com dois golos de Hulk.
"Criámos um patamar elevado, e os adeptos também. Se a ideia dos adeptos for ver sempre 5-0, aviso já que isso não vai acontecer. Se estão à espera de ópera, é melhor partirem para outra, para não se chatearem muito", respondeu na altura André Villas-Boas. Carlos Abreu Amorim, outro conhecido adepto portista, também não consegue compreender o ambiente que se viveu no último jogo do Dragão. "Os adeptos do FC Porto devem ser exigentes, mas não devem tornar-se num obstáculo à própria equipa. Aqueles assobios foram um exagero", afirmou.
A verdade é que, internamente, o caso está ultrapassado e Hulk até tem a garantia de continuar na equipa titular na partida que se segue frente ao APOEL. "Apesar de tudo, o assunto está resolvido e a postura dele no final foi óptima", reconheceu Carlos Tê, outro dos adeptos portistas ouvido ontem por O JOGO. Hulk está perdoado.

Opinião VIP

Carlos Abreu Amorim

Deputado

"Quem é que nunca perdeu a cabeça no trabalho?"

"Há uma frase do Nuno Gomes, que diz isto: os jogadores também são seres humanos como as pessoas. Quem é que nunca perdeu a cabeça no trabalho e depois, a frio, pensou que errou? Já me aconteceu. Hulk não fez nada de grave, não insultou ninguém, não exagerou, tendo-se limitado a ir para o balneário. Estava chateado consigo mesmo. Mas os adeptos exageraram nos assobios, algo que gostava de não ver repetido"

Rui Moreira

Presidente da Associação Comercial do Porto

"Não consigo compreender os assobios ao Hulk"

"Acabou por ser um episódio bom para a equipa. A saída do Hulk justificou-se e o Vítor Pereira mostrou a sua personalidade e autoridade, algo muito importante nesta altura. Mas não consigo compreender os assobios dos adeptos, que desestabilizam sempre um jogador, sobretudo os dirigidos ao Hulk, que foi sempre dedicado ao clube. Os adeptos de hoje acham que vai correr sempre tudo bem, mas têm de compreender que o futebol não é assim"

Carlos Tê

Compositor

"Hulk teve uma óptima atitude no final do jogo"

"Hulk anda a testar a liderança de Vítor Pereira e o treinador esteve muito bem ao mostrar quem manda. O Hulk saiu chateado com os adeptos, mas andou o jogo todo a incorrer em opções erradas. Se quiser ir ao Mundial ou para um clube maior, tem de ser mais maduro. Apesar disso, isto nem chega a ser um caso, porque ele teve, com aquelas declarações, uma óptima atitude no final do jogo"

in "ojogo.pt"

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