Para chegar ao Dragão, o guarda-redes que em Pêro Pinheiro se transformou no mais jovem de sempre a jogar pelo FC Porto, teve de escapar ao destino que o queria encaminhar para o Manchester United (depois de ser observado pelo olheiro Toninho Cruz) e mais tarde para o Benfica. E se só não viajou para Inglaterra por problemas na obtenção de visto, que demorava cerca de três meses, tempo que o United não tinha; para a Luz não havia documento que o travasse, mas Kadú não queria. Assim que soube que Viana de Carvalho, então presidente do Belenenses, o vendeu, Kadú fugiu para o FC Porto. A história é deliciosa, até porque Viana de Carvalho não sabia quem estava a vender.
"O FC Porto apareceu e mostrou interesse no jogador. Trataram sempre comigo o assunto de forma séria e eu prometi-lhes que se na época seguinte o Kadú não ficasse no Belenenses, iria para o FC Porto", recorda Luís Alves, o empresário do jogador. Mais tarde surgiu o Benfica. "Num encontro promovido por Jorge Castelo, em Janeiro de 2009, apareceu o Nené e o Manuel Ribeiro. Eu disse que já estava comprometido com o FC Porto e eles optaram, então, por falar directamente com a direcção do Belenenses. Eu avisei o FC Porto do que se estava a passar", conta.
O resto da época passou sem grandes novidades, além de alguns empresários que "apareceram a oferecer dinheiro e a acenar com Barcelona e Inter de Milão. Mas ele já só pensava no FC Porto."
No arranque de 2009/10, e quando tudo indicava que ia ficar no Belenenses, aconteceu a transferência do Júlio César para o Benfica. "No mesmo pacote, os encarnados queriam meter um iniciado e um juvenil chamado Aldo Monteiro. Os directores do Belenenses não se aperceberam que se tratava de Kadú e assinaram o acordo. Quando eu soube, peguei no miúdo e levei-o para o FC Porto. Ele também quis ir logo. É portista desde pequenino e sempre foi esse o seu desejo", acrescenta aquele que também descobriu Bebé, actualmente no Besiktas.
Como Kadú não tinha contrato profissional, o Benfica não o podia recrutar sem que este assinasse a inscrição. Assim, foi fácil para o FC Porto pôr um ponto final no processo e começar a escrever uma história que em Pêro Pinheiro teve o dia mais significativo até ao momento: nove minutos na primeira equipa. Cumpriu-se o sonho.
Curiosidades
> QUE SELECÇÃO?
Kadú foi duas vezes chamado à selecção principal de Angola para que jogasse e assim fosse impedido, no futuro, de optar por Portugal. Os (maus) resultados daquela selecção não permitiram a estreia e, por isso, jogar por Portugal não é uma hipótese descartada.
> OLHO DE PACHECO
Se Jesualdo Ferreira o recrutou para treinar com os seniores a poucos dias de completar 15 anos, melhor fez Jaime Pacheco, no Belenenses, que o chamou pouco depois de ter feito 14 (!). Assim começou a sua fama.
> MÃE QUERIDA
Muito ligado à família, é na mãe que Kadú tem o seu grande apoio. Assim que terminou o jogo com o Pêro Pinheiro, publicou dois agradecimentos no Facebook dirigidos a Deus e à progenitora
> PROIBIDO JOGAR
Apesar da ligação forte, foram muitas as vezes em que levou um tabefes da mãe. E tudo porque fugia para jogar futebol nas ruas de Porto Amboim, cidade angolana onde nasceu. Nessa fase, jogava à baliza, na defesa e como avançado.
> MAIS DE 30 IRMÃOS
Filho de pais divorciados, o guarda-redes tem mais de 30 irmãos e nenhum seguiu a via do futebol. Mas tem um primo, que também é guarda-redes, mas de andebol.
> ÍDOLO HELTON
Como portista que sempre foi, Kadú teve o primeiro ídolo em Vítor Baía. Posteriormente, foi Helton que lhe ficou na retina, especialmente pela elasticidade. A oportunidade para fazer parte do mesmo plantel do brasileiro foi um sonho tornado realidade.
Chegou doente e sem dinheiro para se tratar
Kadú chegou a Portugal com 14 anos. Veio de Angola com a família e pensou que a ideia era passar uns dias de férias. Por gostar de futebol, aceitou o repto de um amigo que jogava nos juniores e foi treinar ao Belenenses. Gostou do ambiente, foi continuando e quando os azuis do Restelo o convidaram para ficar decidiu que não regressaria ao país natal. Poucas semanas depois de ter assinado, foi-lhe descoberto um problema de saúde ao nível das virilhas. Sem dinheiro para o tratamento, foi o empresário [Luís Alves] que assumiu as despesas médicas permitindo que em Janeiro de 2009 pudesse finalmente começar a jogar.
Mudo no primeiro dia
Luís Alves conheceu Kadú um mês depois deste chegar ao Belenenses. "Um amigo do clube quis mostrar-me um guarda-redes que ia buscar bolas ao Cristo-Rei", brinca. A empatia foi imediata. "Ele morava em Santarém e só podia treinar duas vezes por semana. Nesse dia arranjei-lhe logo onde ficar", continua.
Kadú foi morar com Assis, júnior do Belenenses. Hoje no Freamunde, recorda o dia em que o portista lhe apareceu em casa. "Não disse uma palavra, tanta era a timidez. Só falou no dia seguinte", ri.
Da convivência resultou uma boa amizade e a certeza de que "por ser uma pessoa muito dedicada e com qualidade", vai ter "sucesso."
Sobre os meses que passou com ele, recorda uma história: "Ele ia buscar a comida ao restaurante e levava numa marmita para comer em casa. Viajava no comboio do meio-dia e as pessoas ficavam a olhar para ele, tal era o cheiro a comida. Ficou tão envergonhado que deixou de o fazer."
in "ojogo.pt"
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