terça-feira, 29 de novembro de 2011

Paille: drogas, álcool e a redenção com deus Zidane

Depois da passagem pelo F.C. Porto, o avançado viveu um período muito conturbado. Deu a volta e tornou-se «olheiro» do Real Madrid. O Maisfutebol quis saber mais


O antigo menino bonito do futebol francês tem um lado obscuro. Inescrutável. Primeiro, os factos: em Setembro de 1995, Stéphane Paille acusa o consumo de cannabis. Jogava no Mulhouse e viu o seu contrato rescindido; em Maio de 1997, já nos escoceses do Hearts, termina a carreira de futebolista ao revelar o consumo de anfetaminas noutro controlo anti-doping.

Um mês depois esse episódio é condenado a quatro meses de prisão por transporte, uso e cumplicidade no tráfico de estupefacientes, ao ser envolvido numa densa rede de droga com origem na Suíça. O final deste período trágico eclode em 2003. Paille volta à cadeia por 15 dias, depois de ser apanhado a conduzir em excesso de velocidade nas ruas da cidade de Besançon, com 1,48g de álcool no sangue.

Convidado pelo Maisfutebol a falar sobre esta fase terrível, aparentemente enterrada em definitivo no passado, o ex-jogador do F.C. Porto reage da mesma forma com que finalizava as jogadas: cheio de frieza. 

«Bem, desculpe, mas não quero voltar a falar disso. Ficou tudo para trás, já dei a volta. Costumo dizer que o passado não tem futuro. É uma bela frase, não?» Sim, de facto.

Deus Zidane e os olhos de Mourinho em França

No passado mês de Setembro, Stéphane Paille voltou a ser notícia. Olheiro para o Real Madrid. A pedido de um antigo companheiro no Bordéus, um tal de Zinédine Zidane, Paille tornou-se observador oficial do Real Madrid. «Deus estava ao telefone. Antes de me explicar o projecto, eu já estava de acordo», referiu o ex-avançado do F.C. Porto em entrevista à France Football.

O trabalho consistia em estabelecer relatórios sobre os adversários do Real Madrid e ficar atento a jovens promessas que um dia podiam vir a representar os merengues. Paille chegou a viajar com José Mourinho até a Croácia para analisar um jogo do Dínamo de Zagreb, por exemplo.

«Estava noutro planeta», recordou, sem poupar nos elogios a Mourinho. «É um gajo extraordinário», completou, em declarações à revista francesa. Com alguma surpresa, quando questionado pelo Maisfutebol sobre o seu trabalho em prol do Real Madrid, Stéphane Paille respondeu de forma muito seca: «São informações falsas. Não quero falar sobre isso».

Então, e agora ? «Não trabalho, estou desempregado. Sou treinador e aguardo um novo clube», explica ao nosso jornal. Desde Dezembro de 2009, quando deixou o Evian Thonon-Gaillard, que Stéphane Paille não se senta num banco. E não descarta a possibilidade de vir a treinar em Portugal. «Interessa-me. Falo melhor português do que inglês. O apelo está feito», diz, mais risonho.

Pinto da Costa e Artur Jorge: inesquecíveis

20 anos depois a sua passagem pelo F.C. Porto, Stéphane Paille só voltou uma vez a Invicta. «Foi uma visita confidencial», confessa, sem entrar em pormenores. Ficou deslumbrado com o Dragão. «É um estádio de topo. Desde o Euro 2004, vejo que os clubes portugueses souberam evoluir e seguir no bom caminho.»

A ligação aos antigos companheiros no balneário azul e branco diluiu-se no tempo. «Perdi o contacto com eles. Vamos para um lado, vamos para o outro e esquecemo-nos dos colegas.» De qualquer forma, Pinto da Costa e Artur Jorge são nomes importantes na sua carreira. Inesquecíveis. «Não via muito o presidente, mas tinha uma personalidade forte. O Artur Jorge é um homem bom e grande treinador. Falei com ele há pouco tempo.» 

A pior lembrança recai sobre Octávio Machado, adjunto do F.C. Porto em 1990/91. «Sem comentários. O meu treinador era Artur Jorge. Mais nada». 

Paille: a aventura no F.C. Porto estragada por Domingos

Época 1990/91. O internacional francês chega às Antas a pedido de Artur Jorge. Só não contava com a explosão de um menino chamado Domingos. «Ele não parava de marcar», lamenta ao Maisfutebol


Os mais saudosistas talvez se lembrem da personagem: Stéphane Paille, internacional francês, avançado problemático, jogador do F.C. Porto na época 1990/91. As credenciais passadas pelos bleus não foram certificadas nas Antas, embora o começo da relação tenha sido prometedor. 

21 anos depois, o Maisfutebol redescobre Paille. Tudo por culpa de José Mourinho e o Real Madrid. O contemporâneo de Eric Cantona e Zinedine Zidane responde com surpresa, ao perceber que está a falar para Portugal. Depois, desfila memórias atrás de memórias. 

Em 27 jogos oficiais marca dez golos. O primeiro, logo na atribuição da Supertaça Cândido Oliveira contra o Estrela da Amadora. «São excelentes recordações, apesar de nem tudo ter sido perfeito. Prefiro lembrar-me do bom acolhimento. Era um grupo formidável», começa por referir ao nosso jornal. 

«Os jogadores integraram-me bem. Lembro-me do capitão João Pinto, do André, do grande Aloísio e do Fernando Couto. Eram os primeiros passos do Vítor Baía e do Domingos. Também havia o Rabah Madjer», conta, numa pronúncia inatacável. 

Paille era, à época, um avançado razoavelmente conceituado. Artur Jorge conhecera-o nos tempos do Matra Racing, anos antes, e encantara-se com a frieza do enfant terrible do Sochaux. «Foi ele que me veio buscar. Marcava sempre contra ele em França. Acho que o Artur pensou que era melhor eu jogar para ele do que contra ele», atira Stéphane Paille.

«O F.C. Porto tinha sido campeão da Europa três anos antes. Achei que era uma boa oportunidade para reabilitar-me, pois tinha perdido o lugar no Bordéus», acrescenta o ex-avançado. O problema foi mesmo a súbita aparição de um quase adolescente chamado Domingos Paciência.

«Os seis primeiros meses passaram-se bem, mas contra o Dínamo Bucareste, na Liga dos Campeões, apanhei um cartão vermelho. A partir daí, acabou! O Domingos explodiu e o Artur Jorge deixou de me por a jogar. «Tens de aguentar, ficas no banco». Ouvi isto muitas vezes.» 

«Não podia fazer nada. O Domingos não parava de marcar. E também havia o Kostadinov. Os últimos seis meses foram demasiado longos. Não pude demonstrar o que sabia fazer. Sei que devia ter feito melhor. Era uma outra língua, uma outra maneira de trabalhar. E os treinos com o Artur Jorge eram difíceis, muito duros. Não estive ao meu nível», admite Paille, num auto de contrição com duas décadas de atraso.

Golos «bleus» de dragão ao peito

Stéphane Paille sabia fazer golos, como os vídeos abaixo postados podem confirmar. Fez alguns de belíssimo efeito. Frente ao Portadown, na Taça dos Campeões Europeus, voou para a bola e desviou de cabeça. Um pouco à Falcao.

No entanto, para o francês, o melhor de todos foi outro. «O meu primeiro no Estádio das Antas. Já não me recordo o adversário [Penafiel, 18 de Agosto de 1990]. Marquei com a mão. Não fiz de propósito, quis fazer um mergulho à peixe e não me saiu bem.»

As escolhas de Paille são curiosas. O jogo mais inesquecível, por exemplo, coincidiu com uma derrota. «Contra o Bayern, nos quartos-de-final da Taça dos Campeões Europeus. Estava um grande ambiente nas Antas, assustador para o adversário. Perdemos, foi pena.»

in "maisfutebol.iol.pt"

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