segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O futebol resgatou Teófilo Gutiérrez da guerra entre bairros

O futebol resgatou-me de uma guerra". Sem rodeios, directo. A bola, para Téofilo Gutiérrez, foi a razão para escapar ao mundo violento e sem destino que rodeava a sua infância. Foi no bairro "La Chinita", uma zona tão humilde quanto perigosa, onde nasceu o avançado, que se habituou a que os pais o mandassem para baixo da cama quando o barulho das balas entoava bem perto da precária casa onde habitavam. Dois grupos rivais (Los Malembes e Los Patrullas) eram os responsáveis pelo terror e pela perda diária de vidas. "Sentia medo a toda a hora, tínhamos de viver encarcerados", admite Teo quando fala sobre aqueles tempos complicados.
Não foi uma infância fácil, como se pode perceber, até porque além do constante sentimento de insegurança, havia os problemas financeiros da família. Quando era miúdo ajudava a sua avó a moer os grãos de milho que utilizava para fazer as empadas fritas que vendia nas ruas de Barranquilha e muitas vezes viu a mãe, Cristina, chorar quando a ameaçavam de despejo por não pagar a renda da casa que alugavam. "Quando for futebolista, vou oferecer-te uma casa", prometeu um dia. E anos mais tarde cumpriu.
A sua felicidade passava pela bola. Foi a via de escape. "Sempre tive talento e o meu pai incutiu-me a paixão pelo futebol. Foi assim que escapei de um ambiente violento", agradece o avançado Teo ao guarda-redes Teófilo, o seu pai, que foi obrigado a abandonar as balizas na sequência de uma rotura de ligamentos cruzados que nunca quis operar. E nos campos do bairro, desses que têm mais terra do que relva, Teo começou a mostrar a sua qualidade, a relatar as suas jogadas chamando-se de Valderrama (o seu ídolo de infância) e não de Gutiérrez. Claro que nesses jogos de bairro contra bairro também havia pressão. Não era uma luta de gangues, mas em jogo estava a honra e algo mais. "Na vila havia jogos a dinheiro. Foi aí que me ensinaram a jogar com agressividade", reconhece o avançado
Fiel leitor da Bíblia, fundou, juntamente com a esposa, uma igreja. "As pessoas passam um bom momento lá, beneficiam de alimentação e escutam a palavra de Deus", conta Teo, que tanto ouve salsa como música evangélica quando passeia de carro pelas ruas da zona caribenha de Barranquilha. Se assinar pelo FC Porto terá em Helton e Souza dois companheiros que seguem a mesma filosofia de vida.

O pesadelo turco e o sonho Racing

Teófilo Gutiérrez deu os primeiros pontapés na bola nas categorias de base do Junior de Barranquilla, estreou-se como profissional em 2006 com a camisola do Barranquilla FC e, depois de uma temporada a todo o gás, passou a júnior. Entretanto subiu a sénior e teve, em 2009, o melhor ano na Colômbia, transferindo-se para o Trabzonspor, o seu pior destino. O avançado nunca conseguiu adaptar-se à vida na Turquia, além disso o idioma foi uma barreira intransponível pelo que 2010 foi um autêntico pesadelo do qual só acordou com a mudança para o Racing, já este ano. Teo apaixonou-se de tal forma pelo clube de Avellaneda que pintou de "celeste e branco" (as cores do clube) as paredes da casa dos pais e ofereceu camisolas do Racing a todos os miúdos do "Clube Social e Desportivo Teófilo Gutiérrez".

Perfil de um bad boy

Apesar da forte ligação à Igreja, Teo Gutiérrez tem o perfil de um "bad boy". É acusado de criticar abertamente treinadores e colegas de equipa, de agredir o seu guarda-redes e também um árbitro. Para além disso, fugiu da Turquia só porque não era titular no Trabzonspor.

Um ano de sonho em 2009

A Federação Internacional de História e Estatística de Futebol entregou-lhe o quarto lugar entre os goleadores mundiais que actuaram nas primeiras divisões em 2009. Com 30 golos, igualou Samuel Eto'o e só foi superado por Diego Forlán do Atlético de Madrid (32) e Mark Janko do Red Bull Salzburg (39).

Influência forte do pai

Aos cinco anos o seu pai, Teófilo (ex-guarda-redes das categorias inferiores do Junior de Barranquilla) ofereceu-lhe a primeira bola de futebol. Aos 7 entregou-o aos cuidados de Franklin Ramírez na escola "Independiente Framy" e aos 15 experimentou as camadas jovens do clube onde o pai jogou.

Gastón Cogorno

"Será muito difícil impedir a sua saída"

ANTÓNIO M SOARES
Gastón Cogorno, presidente do Racing, começa a dar sinais de que a transferência de Teófilo Gutiérrez está cada vez mais próxima. O dirigente argentino admitiu mesmo que o clube pouco poderá fazer para o segurar. "É verdade que será muito difícil impedir a sua saída. Não vejo como poderemos retê-lo", confessou à Imprensa argentina, depois de ter tido uma reunião com o grupo empresarial que detém 80 por cento dos direitos do jogador. "Efectivamente, temos apenas 20 por cento dos direitos sobre o passe dele. No fundo, tudo depende de uma proposta concreta, mas como é lógico, apesar de termos um bom relacionamento com o grupo que investiu nele, todas as partes vão procurar defender os seus interesses e se nos chegar uma proposta teremos de a analisar", explicou.
De acordo com Cogorno, a vontade do ponta-de-lança também pesará no processo. "Se os interesses do clube forem salvaguardados, não poderemos ficar indiferentes à vontade do jogador", sublinhou.
Apesar de tudo, o presidente do Racing vê ainda várias questões a discutir e a ultrapassar até ao adeus de Teófilo Gutiérrez. "É um jogador que tem contrato e um avançado imprescindível. Para nós ele é o número nove, não é um avançado qualquer. É um jogador muito importante para o Racing", frisou.
Diego Simeone, ex-técnico do Racing, agora a traçar o destino do Atlético de Madrid, reconheceu numa entrevista à Imprensa argentina que também pesou na sua decisão de assinar pelos colchoneros o facto de Teo se preparar para deixar a equipa. Apesar de alguns conflitos com o ponta-de-lança, Simeone não deixou dúvidas de que se trata de um jogador fundamental e que sem ele tudo se complicará mais ainda. "Não é fácil falarmos de reforços no Racing e percebermos, a certa altura, que o Teo tinha levado tudo o que tinha no balneário. Não há muitos como ele e será difícil arranjar outro assim", explicou.
Entretanto, segundo o jornal italiano "Gazzetta dello Sport", a Fiorentina entrou na corrida por Gutiérrez e juntou-se a Palermo e Génova, que também ponderam avançar com propostas.

in "ojogo.pt"

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